Poucos dias depois de o ataque do Hamas ter desencadeado uma nova guerra no Oriente Médio, começaram a chegar a Israel carregamentos de armas americanas: bombas “inteligentes”, munição e interceptadores para o sistema de defesa antimísseis Domo de Ferro. A ofensiva de Israel é apenas o mais recente impulso por trás de um boom nas vendas internacionais de armas, que tem reforçado os lucros e a capacidade de fabricação entre fornecedores americanos.
Mesmo antes de Israel responder ao ataque, a combinação da invasão da Ucrânia pela Rússia e a percepção de uma ameaça crescente por parte da China já estimulava uma corrida global à compra de aviões de combate, mísseis, tanques, artilharia, munição, entre outros equipamentos letais. O aumento nas vendas também tem sido impulsionado pelo ritmo rápido da mudança tecnológica no combate à guerra, pressionando mesmo nações bem armadas a comprar novas gerações de equipamento para se manterem competitivas.
O aumento nas vendas proporciona à gestão de Joe Biden novas oportunidades para vincular as forças militares de outros países aos Estados Unidos, o maior exportador de armas do planeta. Ao mesmo tempo, levanta preocupações de que um mundo mais fortemente armado estará propenso a mergulhar em novas guerras.
O impulso para fornecer mais armas a Israel ocorre num momento em que os fornecedores de equipamentos militares americanos já lutam para acompanhar a demanda de reabastecimento da Ucrânia na sua guerra contra a Rússia e para ajudar outros aliados dos EUA na Europa, como a Polônia, a reforçar as próprias defesas. Bilhões de dólares em encomendas estão pendentes de aliados na Ásia, impulsionados pela percepção de uma ameaça crescente da China.
Os gastos militares mundiais no ano passado – com armas, pessoal e outros custos – atingiram US$ 2,2 trilhões (R$ 11 trilhões, o nível mais alto em dólares ajustados à inflação desde pelo menos o fim da Guerra Fria, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, que prepara um cálculo anual. Um dos maiores impulsionadores é o aumento da compra de novos sistemas de armas.
Excluindo as vendas nos Estados Unidos, China e Rússia, espera-se que os gastos mundiais em aquisições militares atinjam US$ 241 bilhões (R$ 1,2 trilhão) no próximo ano, um aumento de 23% desde o ano passado, mesmo depois de os valores serem ajustados à inflação. Este é de longe o maior aumento em dois anos na base de dados mantida pela Janes, uma empresa que acompanha os gastos militares há quase duas décadas.
No ano passado, os Estados Unidos controlavam cerca de 45% das exportações mundiais de armas, quase cinco vezes mais do que qualquer outra nação. É o nível de domínio mais elevado desde os anos imediatamente seguintes ao colapso da União Soviética, de acordo com os dados. Isso representa um aumento em relação aos 30% de uma década atrás.
A intensa procura por poder de fogo militar também encorajou outras nações produtoras de armas, como a Turquia e a Coreia do Sul, a aumentarem as suas exportações, dando aos compradores mais opções.
Maiores fabricantes de armas
Cinco países controlam três quartos do mercado de vendas de armas no mundo: Estados Unidos, Rússia, França, Alemanha e China responderam, nesta ordem, por 75% das exportações de armas no período entre 2014 e 2018. Os Estados Unidos não apenas lideram a lista como estão bem à frente da Rússia, o segundo maior vendedor de armas do mundo.
As cinco maiores empresas de armamentos do mundo são americanas: Lockheed Martin (com vendas na ordem de US$ 60 bilhões por ano), Raytheon, Boeing, Northrop Grumman e General Dynamics.