No mês passado, uma manifestação de Stille em uma rede social gerou polêmica. Na ocasião, ele disse que, quando o prefácio foi acertado com Moro, não tinha ideia de que ele entraria no governo Bolsonaro. Pouco depois, se corrigiu e escreveu que “não tinha condições de avaliar a situação da política interna do Brasil”.
Em entrevista à coluna de Bela Megale do jornal O Globo, o jornalista afirmou que “lamentou por Moro fazer parte do governo Bolsonaro, mas não por tê-lo no livro” e disse que a ida de juízes para a política costuma ser “uma cilada”. Abaixo a entrevista na íntegra:
Sergio Moro errou ao integrar o governo de Jair Bolsonaro?
Pelo que sei do Bolsonaro, diria que errou. Na campanha, Bolsonaro falou várias coisas que, na minha opinião, são questionáveis e que sugeriam que ele não seria um democrata como presidente. Mas Moro poder ter tido suas razões, conversas das quais eu não tenho conhecimento e que podem tê-lo feito mudar de ideia. É uma decisão pessoal.
Um de seus biografados, Giovanni Falcone, também migrou para a política, como Moro. O que acha deste movimento?
O mais popular procurador da Italia, Antonio di Pietro, também, e não funcionou muito bem para ele. Acho que é uma cilada e também problemático.
Por quê?
Porque parte de sua popularidade que procuradores e juízes têm é justamente por não fazerem parte deste universo. Um juiz aparenta ser uma figura independente e as pessoas o respeitam e gostam dele por isso. No momento em que ele entra na política, está mais exposto a ataques como qualquer político, porque tem que tomar um lado.
O senhor se arrepende de ter Moro como autor do prefácio do seu livro?
Não, porque ele se limita a falar de Falcone e de Paolo Bolsellino (outro juiz assassinado pela máfia italiana), que são os personagens do meu livro. O livro não tem nenhuma relação com a situação do Brasil, até porque não sou um especialista no tema. Tenho minhas opiniões pessoais sobre Bolsonaro e sei que há muitas controversas envolvendo a Lava-Jato.
O que o Brasil tem a aprender com a história dos dois juízes assassinados pela máfia italiana?
A historia mostra como um sistema de poder está conectado a um sistema de corrupção e o que acontece quando isso se desestabiliza. Acho que esse é o ponto mais relevante para o Brasil, que está passando por um período de transição e tendo que entender o que aconteceu durante a após o ápice da operação Lava-Jato e o momento de hoje.
Quais paralelos o senhor vê entre a situação na Itália e o Brasil hoje?