Por outro lado, os ativos brasileiros têm mostrado alguma resiliência e, em certos momentos, até descolamento da perspectiva desafiadora para a economia global, favorecidos pelo fim do ciclo de elevação de juros no País, que havia sido iniciado bem antes da correção ora vista nos custos de crédito nos principais mercados. A percepção é de que os múltiplos, os preços com descontos na B3, ainda atraem interesse, inclusive externo, para as ações brasileiras.
No quadro doméstico, a aproximação de Henrique Meirelles à candidatura Lula na reta final da campanha foi recebida com bons olhos pelos investidores – um complemento ao vice, Geraldo Alckmin, como possíveis esteios fiscalistas em eventual terceiro governo Lula. Nesta sexta, contudo, Meirelles negou haver convite para assumir a Economia caso o petista vença a eleição.
Pesquisa realizada entre 28 e 29 de setembro pela BGC Liquidez com 212 players institucionais, sobre o que esperam no pós-eleição, aponta que na eventualidade de Lula vencer, seja em primeiro ou segundo turno, tende a escolher para o comando das finanças alguém com inclinação à esquerda mas que tenha, a seu lado, “nomes que sejam amigáveis ao mercado”. Tal convicção foi expressa por 78% dos que participaram da pesquisa, enquanto 12% esperam um nome totalmente identificado ao mercado, em sentido puro, e outros 10%, alguém da esquerda, sem conexões.
Entre as idas e vindas do noticiário, esta última sessão do mês e do trimestre foi de ajuste nas carteiras, com salto em ações de elevada liquidez, como Vale ON, que fechou o dia em alta de 5,28%, passando a leve ganho no ano (+0,60%) com a recuperação de 11,69% ao longo deste setembro. Em situação distinta, Petrobras ON e PN subiram nesta sexta, respectivamente, 1,25% e 1,67%, ao fim de um mês de correção em que cederam, pela ordem, 11,00% e 10,32%, mas ainda acumulando forte desempenho no ano, em alta entre 55% e 56% em 2022.
Na ponta do Ibovespa nesta sexta-feira, destaque para Magazine Luiza (+10,62%) e Via (+8,50%): a primeira subiu 4,92% no mês, mas ainda cede quase 38% no ano, enquanto a segunda ainda fechou o mês no negativo (-0,93%), com perdas na casa de 39% no ano. Nesta sexta-feira, o índice de consumo (ICON) encerrou em alta de 1,68%, enquanto os ganhos no de materiais básicos (IMAT) chegaram a 3,59% no fechamento. Na ponta negativa do Ibovespa na sessão, destaque para Carrefour Brasil (-2,77%), Embraer (-2,51%) e Assaí (-2,23%).
Pela manhã, o mercado mostrava “compasso de espera para a eleição no domingo, um tanto leve, esperando mais informação para voltar a montar posição, mas aparentemente já começando a precificar com mais força uma vitória do Lula, nas últimas semanas”, aponta Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos. Ao longo da tarde, contudo, o Ibovespa ganhou dinamismo, reconquistando e firmando-se acima dos 110 mil pontos na contramão dos índices externos, com o impulso proporcionado pelas ações de commodities, especialmente Vale, observa Letícia Sanches, especialista em renda variável da Blue3.
Em agosto, com o dólar em leve alta de 0,53% no mês, o Ibovespa foi aos 21.056,01 pontos, na moeda americana, e agora em setembro, com ganho de 3,71% para o dólar no mês, bem superior ao visto no Ibovespa, o índice de ações retrocedeu para 20.397,58 pontos – ainda assim, em patamar mais alto, na moeda americana, do que na virada do primeiro para o segundo semestre, vindo de 19.937,90 pontos em julho e de 18.824,39 pontos no encerramento de junho.