O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) acaba de dar início às entrevistas para o Censo Demográfico, com dois anos de atraso por conta da pandemia e de questões orçamentárias. Serão 5.570 municípios do país, para apurar o exato tamanho da população brasileira e, principalmente identificar as características dos brasileiros.
O Censo, que deve ocorrer a cada 10 anos, é de importância tamanha que ajuda, por exemplo a determinar políticas públicas e a quem elas devem impactar. Os primeiros resultados estão previstos para o final deste ano. As análises mais detalhadas devem ser divulgadas entre 2023 e 2024.
Diante desse cenário, por que é tão importante mapear no Censo as pessoas com deficiência? De acordo com o último Censo, realizado em 2010, o Brasil contabilizava 45 milhões de brasileiros com deficiência, ou seja, perto de um quarto da população do país na ocasião. Porém, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) feita pelo próprio IBGE em 2019, apontou que somente cerca de 17,3 milhões, ou seja, 8,4% da população brasileira com idades acima dos dois anos têm algum tipo de deficiência.
Essa incongruência nos dados que mapeiam as pessoas com deficiência no país é extremamente prejudicial e atrapalha a atuação precisa a favor da inclusão produtiva, da sensibilização para as questões de acessibilidade em todo o país, nas questões de educação, emprego e saúde também para essa população.
Trazer os dados com precisão insere as pessoas com deficiência de fato na nação. O contrário disso é a defesa de nos manter na invisibilidade como cidadãos. É gerar uma contagem capacitista, que tende a ‘suavizar’ ou minimizar as deficiências, o que chamamos de ‘normalizar’.
O importante é mostrar, com o máximo de precisão que se puder alcançar, que as pessoas com deficiência habitam este país e precisam, assim como os demais cidadãos brasileiros, de políticas que possam servir para aumentar a qualidade de vida, em todos os aspectos.
Por isso, esse questionário é de suma importância para uma contagem real e justa sobre e esse percentual da população. Ainda que um tanto questionável quanto a qualidade e a quantidade das informações ali apuradas, esses dados precisam refletir a real situação da escolaridade, empregabilidade, saúde e acessibilidade que envolvem as ´pessoas com deficiência.
É analisando periodicamente esses dados que a nação vai se dar conta do quanto ainda é preciso ser feito para garantir direitos e tornar essa população mais integrada, mais considerada, mais ativa. Que possa estimular a atração de investimentos para ampliação dos direitos e, principalmente para afastar mitos sobre as pessoas com deficiência que não se comprovam.
A realidade apurada em dados, é uma contribuição essencial para buscarmos as mudanças atitudinais que esperamos em prol da inclusão e do reconhecimento de que tratar igual as pessoas diferentes é um erro persistente da história. É tornar invisível as necessidades específicas da pessoa com deficiência.
Precisamos do mesmo nível de detalhamento dos demais habitantes. Somente assim, será possível mostrar o quanto as pessoas com deficiência buscam trabalho, o quanto precisam ser consideradas consumidoras e economicamente ativas, o quanto têm estudado para conseguir empregos de acordo com suas habilidades e talentos, além daqueles oferecidos apenas para preencher as cotas obrigatórias por lei nas empresas.
Estar contabilizada no censo é quebrar as barreiras que reforçam o capacitismo, abrindo oportunidades e aumentando o entendimento sobre essa população. Saber mais sobre quem são, como vivem e onde estão as pessoas com deficiência do país é atuar para a visibilidade que falta e conectar de fato essa parcela da população com a nação brasileira.
Sobre Carolina Ignarra
Carolina Ignarra é CEO e fundadora da Talento Incluir, consultoria que já incluiu mais de 8 mil profissionais com deficiência no mercado de trabalho. É influencer do LinkedIn e está entre as 20 mulheres mais poderosas do Brasil da revista Forbes em 2020. Em 2018, foi eleita a melhor profissional de Diversidade do Brasil, segundo a revista Veja, da editora Abril. Desde 2004, atua em programas de implantação de cultura de Diversidade e Inclusão nas organizações e desenvolve a inclusão socioeconômica de profissionais com deficiência. É conselheira executiva da Integrare e mentora do programa “nós por elas” do IVG (Instituto Edna Vasselo Goldoni). Também é palestrante em importantes congressos e eventos sobre o tema, como: Women on Top, Gupy Connect, HR Results, Kennoby Talks, CBTD (Congresso Brasileiro de Treinamento e Desenvolvimento), RH Congresso e autora dos livros: “INCLUSÃO – Conceitos, histórias e talentos das pessoas com deficiência” (disponível para download no site da Talento Incluir) e “Maria de Rodas – delícias e desafios na maternidade de mulheres cadeirantes”. É coautora do livro “Diversidade e Inclusão e suas dimensões”. É cocriadora dos Jogos Cooperativos: “Em tempo” — que propõe a diversidade na prática; “Árvore da Diversidade” – que permite que aos participantes discutam diferentes temas e situações, na busca de soluções coletivas; e “Voo da Inclusão” – desenvolvido para fortalecer o conhecimento sobre atendimento às pessoas com deficiência.
Sobre o Grupo Talento Incluir
O Grupo Talento Incluir é um ecossistema da diversidade e inclusão pioneiro no Brasil. Seu objetivo é promover a equidade nas relações empresariais e sociais por meio de diferentes unidades de negócios: a Talento Incluir Consultoria, com soluções focadas nos pilares de D&I Conscientização, Contratação, Carreira e Acessibilidade e Consultoria Estratégica de Marketing e Comunicação para pessoas com deficiência; a UinHub, o primeiro e mais acessível marketplace do mundo para pessoas com deficiência e a Talento Sênior, que colabora com a inclusão de profissionais 45+ no mercado de trabalho.
Fundada em 2008, a Talento Incluir Consultoria – a primeira empresa do grupo -, já inseriu no mercado de trabalho mais de 8 mil pessoas com deficiência, buscando sempre o desenvolvimento de carreira destes profissionais para que a inclusão aconteça de maneira profunda e verdadeira, gerando impactos positivos na vida destas pessoas e na sociedade. Em toda a sua trajetória, aplicou Programas de Inclusão 360º para formar e fortalecer a cultura de inclusão em mais de 400 empresas de diversos setores em todo Brasil, como Mercado Livre, Syngenta, Gol, Carrefour, Grupo Boticário, Raia Drogasil, Bradesco, Tereos, PwC PricewaterhouseCoopers, GRU Airport, AccorHotels, Avanade, WhirlPool (Consul e Brastemp) entre outras.