Único parlamentar na lista de indiciados da Polícia Federal, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) dirigiu a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo de Jair Bolsonaro. Na ocasião, segundo a investigação da Polícia Federal, comandou um esquema de espionagem clandestino no órgão. As informações são do jornal, O GLOBO.
A exemplo dos demais 36 nomes da lista de indiciados encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF), Ramagem é suspeito de cometer os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Somadas, as penas podem chegar a 30 anos de prisão.
Delegado da mesma PF que agora o indicia, Ramagem chegou a ser cotado para assumir a corporação no início do governo Bolsonaro. Impedido de assumir a função, por decisão do STF, o delegado seguiu na chefia da Abin até se desligar, no final de 2022, para se candidatar a uma vaga na Câmara dos Deputados. Ele se elegeu com apoio da família do ex-presidente.
Homem de confiança do ex-presidente, que o escolheu para ser o candidato do partido à prefeitura do Rio de Janeiro neste ano, o deputado foi alvo de uma operação da PF relacionada ao escândalo da espionagem ilegal.
A investigação descobriu que o grupo instalado na Abin utilizava um programa israelense, o FirstMile, para monitorar a localização de alvos determinados por meio de dados de seus celulares. A lista de quem foi monitorado incluiu servidores públicos, adversários políticos, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e jornalistas.
O uso da ferramenta FirstMile pela Abin foi revelado pelo GLOBO em março de 2023, o que levou a PF a abrir uma investigação. Ramagem nega irregularidades.
Único parlamentar na lista de indiciados, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL) comandou um esquema de espionagem clandestina na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) , órgão que dirigiu no período em que Bolsonaro era presidente. Na ocasião, segundo as apurações, um sistema israelense foi usado para espionar ilegalmente autoridades dos Três Poderes da República. O uso da ferramenta FirstMile pela Abin foi revelado pelo GLOBO em março de 2023, o que levou a PF a abrir uma investigação. Rades.
Além disso, O GLOBO revelou documentos registrados em seu e-mail com orientações para Bolsonaro sobre temas sensíveis. Os textos dos arquivos traziam, entre outras recomendações, ataques às urnas eletrônicas e à lisura das eleições, além de relatos difamatórios sobre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em um dos textos, guardados em formato de word no arquivo “Presidente TSE informa.docx” há uma orientação para traçar uma estratégia de reforçar politicamente a “vulnerabilidade” das urnas eletrônicas. “Por tudo que tenho pesquisado, mantenho total certeza de que houve fraude nas eleições de 2018, com vitória do sr. (presidente Bolsonaro) no primeiro turno. Todavia, ocorrida na alteração de votos”, destaca o documento encontrado no e-mail de Ramagem.
O texto do arquivo passa, então, a sugerir a Bolsonaro que mine a confiança das urnas eletrônicas com informações comprovadamente falsas e sem fundamento. No arquivo encontrado com Ramagem, há ainda a descrição de que foi constituído um grupo de confiança para “trabalho de aprofundamento da urna eletrônica” — que contaria com a ajuda do major da reserva do Exército Angelo Martins Denicoli, investigado por integrar um suposto plano golpista. O ex-chefe da Abin disse, porém, que não se lembrava desse fato e que não efetuou nenhum trabalho com o militar mencionado no documento.
Ramagem prestou depoimento na corporação sobre o assunto e foi confrontado o documento, mas disse que não se lembrava de como o material foi produzido. Ele nega irregularidades
A investigação envolvendo o caso Abin tem se cruzado, segundo a PF, com o inquérito dos atos golpistas, que resultou, na tarde de hoje, no indiciamento do parlamentar.
A principal linha de investigação da PF é que diversos órgãos do governo passado foram mobilizados para interferir na posse de Lula, como setores da Abin, Polícia Rodoviária Federal, Palácio do Planalto e das Forças Armadas.
Em depoimento à PF, Ramagem disse que não se lembrava de nada ao responder grande parte das perguntas sobre a trama golpista. Como adiantou a coluna da Bela Megale, Ramagem foi confrontado com elementos que sinalizavam que ele teria conhecimento sobre tratativas de um plano de golpe de Estado orquestrado pelo grupo de Jair Bolsonaro, mas se limitou a dizer que não se recordava dos fatos perguntados.
A avaliação dos investigadores é que há provas apontando que ele teria sido conivente com a ideia de golpe.