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domingo 30 de junho de 2019 às 15:50h

Historiador conta curiosidades sobre a luta pela independência na Bahia

CURIOSIDADES


A independência da Bahia foi declarada no dia 2 de julho de 1823, entretanto as batalhas que tornaram a conquista possível começaram bem antes dessa data. A primeira das lutas oficiais aconteceu no dia 25 de junho de 1822, em Cachoeira, na região do Recôncavo, mas mesmo antes disso o povo já se mobilizava contra a dominação portuguesa.

O historiador Sérgio Guerra lembra conforme reportagem publicada pelo site G1 que o desejo do povo brasileiro de romper com os portugueses, que já existia, se fortaleceu a partir do momento em que o rei de Portugal, D. João VI, afastou o brasileiro Manoel Guimarães do comando da capital da Bahia e colocou no lugar um general português, Inácio Luís Madeira de Melo. O objetivo era reforçar o poder da Coroa sobre os baianos, o que não foi aceito pela população.

“Poucos sabem que os conflitos começaram, de fato, a partir daí. Os baianos protestaram e chegaram a entrar em confronto com os soldados portugueses”, destaca Sérgio, que é Mestre em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ele acrescenta que a Câmara de Salvador chegou a tentar romper com a coroa, mas não obteve êxito, pois o general Madeira de Melo colocou as tropas nas ruas e impediu a sessão. Isso inflamou o povo, principalmente nas chamadas vilas, que ficavam no interior da Bahia.

A primeira cidade a declarar D. Pedro como “defensor perpétuo do Brasil independente”, o que significava não obedecer mais ao rei de Portugal, foi Santo Amaro da Purificação, também no Recôncavo. A partir daí, outras localidades, como São Félix e São Francisco do Conde, fizeram o mesmo. Entre elas, Cachoeira, a mais importante do recôncavo naquela época.

“Durante o processo colonial, Cachoeira sempre foi um ponto importante de ligação entre o sertão, as vilas do interior e o litoral, e aí destaco o porto de Salvador, de onde saía especialmente a produção açucareira e outros produtos”, explica Sérgio.

As vilas do interior confluíram para Cachoeira, formando um conselho interino com um membro de cada localidade. “Esse conselho governou a Bahia em nome de Dom Pedro enquanto durou a guerra de independência”, detalha. De acordo com ele, na prática, era como se a Bahia tivesse duas capitais: Salvador, ligada à Portugal, e Cachoeira a brasileira, ligada ao império proclamado por Dom Pedro I.

O historiador ressalta que as primeiras reuniões entre os líderes do movimento tiveram início em Cachoeira, embasados na construção de um discurso anti-português que foram criados a partir dos ideais da Revolução Francesa: “liberdade, igualdade, fraternidade”.

“Os intelectuais trouxeram as ideias iluministas para o Brasil, e elas foram a base para os movimentos de libertação, inclusive o da Bahia”, informa.

Foi Cachoeira que sediou o quartel das tropas brasileiras, que chegaram a ter mais de 13 mil combatentes, entre os quais Maria Quitéria. Esse exército era formado por pessoas comuns, que improvisavam armas artesanais para enfrentar os inimigos, e mesmo sem a mesma estrutura portuguesa, conseguiu a vitória mais de um ano depois de iniciado o confronto. O povo conhecia bem a região e os portugueses não. Isso facilitava a logística e a organização do combate.

Guerras internas

“A guerra pela independência do Brasil na Bahia representa um momento de transição, quando a pessoa comum começa a participar da política de forma mais ampla, já que antes era muito restrito”, explana Sérgio. Senhores de engenho se uniram a profissionais liberais, bacharéis, pequenos produtores, negros escravizados e livres, mulheres, com uma só missão: eliminar do Brasil o poder português.

No entanto, apesar de todos terem um desejo comum, havia conflitos internos no grupo, reflexo da hierarquização da sociedade baiana daquele período. As classes menos favorecidas tentaram imprimir suas demandas no processo, o que gerou tensões. Houve revoltas indígenas, escravas, e até mesmo de soldados, por exemplo.

Essas brigas permaneceram mesmo após o fim da guerra. Segundo Sérgio, um dos principais conflitos internos era a indecisão quanto ao destino dos portugueses que ficaram na Bahia. Enquanto os senhores de engenho os tinham como sinônimo de modelo social e de relações a ser seguido, as “pessoas comuns” os tinham como intrusos, que não mereciam mais continuar no país.

Isso gerou movimentos de revolta contra os portugueses, conhecidos historicamente como “Mata Marotos”. Em geral, eram movimentos de caráter popular, combatidos com rigor pelas autoridades. “Foi uma divergência de classes que acompanhou a formação do estado brasileiro na Bahia”.

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