Segundo artigo de Guga Chacra, do O Globo, o Hezbollah foi humilhado por uma sofisticada ação cibernética atribuída ao Mossad, o serviço secreto de Israel. Mais de duas mil pessoas, muitas delas integrantes da organização pró-Irã com base no Líbano, foram feridas em um ataque que provocou a explosão de pagers com os quais eles se comunicavam. Informações iniciais falam em nove mortos, incluindo uma criança. Segundo a agência de notícias Associated Press, até mesmo o embaixador iraniano em Beirute teria sido atingido. Oficialmente, Israel não reivindicou e tampouco negou a ação.
Essa ação pode ter um impacto maior do que as centenas ou milhares de bombardeios israelenses contra o sul do Líbano ao longo do último ano, desde que começaram os confrontos entre o Hezbollah e Israel após o atentado de 7 de outubro cometido pelo Hamas – o grupo libanês passou a agir em solidariedade com o palestino.
Primeiro, a ultra bem-sucedida ação atribuída ao Mossad demonstra ser possível penetrar no esquema de segurança do Hezbollah, que até o ano passado era considerado avançado por agências de inteligência ocidentais. Em segundo lugar, porque Israel conseguiu deixar fora de combate centenas de membros do grupo, ainda que temporariamente. Terceiro, a ação não deve prejudicar a imagem internacional israelense já que os alvos foram em sua maioria membros do grupo.
Um cenário bem diferente dos bombardeios indiscriminados a Gaza, onde dezenas de milhares de civis morreram, incluindo milhares de crianças, no que a promotoria do Tribunal Penal Internacional classifica como crimes de guerra e algumas nações descrevem como genocídio. Até mesmo no Líbano, setores da população anti-Hezbollah, como muitos cristãos, sunitas e drusos, podem ver com satisfação o revés sofrido pelo grupo.
Mais importante, a ação atinge diretamente o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. Não sabemos se foi atingido. Essa informação não foi divulgada. Mas ele, meses atrás, determinou que os integrantes do grupo não usassem celulares porque Israel estaria rastreando os aparelhos para matar integrantes da organização, o que provavelmente ocorria. Para contornar esse problema, teria determinado o uso dos pagers, que acabaram sendo usados no ataque.
Ainda é cedo sobre qual pode ser a reação do Hezbollah. Não há alternativas claras para revidar a essa ação atribuída ao Mossad e o grupo sofreu um duro golpe. Organizar uma resposta não será simples. Israel penetrou no grupo. Para complicar o cenário, há um debate no governo israelense sobre uma possível invasão por terra ao Sul do Líbano. Dezenas de milhares de israelenses e libaneses dos dois lados da fronteira precisaram deixar suas casas ao longo do último ano.
Ao longo de muitos anos acompanhando o Hezbollah, nunca vi o grupo sofrer uma humilhação dessa dimensão.