O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, têm o que comemorar após esta última semana. De um lado, conforme Felipe Erlich, da Radar Econômico, o arcabouço fiscal proposto pela Fazenda chega com força à Câmara dos Deputados — 367 votaram pela urgência do projeto contra 102 contrários. Do outro, a Petrobras põe em prática a principal promessa da gestão de Prates para a companhia, a mudança de sua política de preços. Os políticos petistas sofreram alguma retaliação ao longo da semana. No caso de Haddad, a rejeição de membros da própria base ao arcabouço. Enquanto isso, a estatal comandada por Prates teve seu pedido para perfurar a foz do rio Amazonas negado pelo Ibama. Mas o saldo dos últimos dias parece ter sido positivo para o andamento das agendas de ambos. Em paralelo, a bolsa também ganhou no período, acumulando alta de 2,1% na semana, enquanto o dólar subiu e voltou à cotação de 5 reais.
O arcabouço fiscal inicialmente desenhado pela Fazenda sofreu alterações por parte de seu relator, o deputado Cláudio Cajado (PP-BA). O texto revelado pelo parlamentar na terça-feira, 16, incluiu uma série de gatilhos que estimulam o cumprimento da meta fiscal, tornando-a mais crível. Por outro lado, não houve a tipificação de seu descumprimento como crime de responsabilidade do presidente da República. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, buscando conciliação entre as diferentes pressões sobre o projeto. Também consolidando a viabilidade política do arcabouço, o líder do PT na Câmara, o deputado Zeca Dirceu (PR), disse a VEJA que o partido não irá propor emendas ao texto. Com isso, a resistência ao arcabouço deve ficar concentrada em partidos radicais, sejam de esquerda ou direita. Perdem PSOL e PL, ganham Haddad e Cajado.
No mesmo dia em que o relatório do arcabouço fiscal veio a público, o mercado também teve que precificar a nova política de preços da Petrobras. A estatal abandonou a paridade de preços com o mercado internacional como norte na definição dos preços. No lugar, colocou algo um tanto quanto vago e controverso, mas que teve uma recepção positiva do mercado por indicar um intervencionismo abaixo do imaginado. A mudança aponta o “custo alternativo do cliente” e o “valor marginal” da estatal como balizadores de seus preços. Membros da alta cúpula da Petrobras ouvidos pelo Radar Econômico descreveram a novidade como “uma fórmula para enganar” o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, oficialmente acabando com o modelo anterior, mas sem promover nenhuma mudança prática — fatores internacionais ainda terão influência nas decisões. As ações da estatal subiram cerca de 3% no dia do anúncio, passado o temor por uma intervenção ferrenha. Assim, Prates cumpriu sua principal promessa sem amargurar o mercado.
No setor privado, a semana foi marcada pela divulgação de resultados trimestrais importantes. O Magazine Luiza teve prejuízo líquido de 390 milhões de reais nos primeiros três meses do ano, um aumento de 142% frente ao prejuízo registrado no mesmo período de 2022. Trata-se do pior resultado da empresa para o primeiro trimestre desde 2011. Em resposta, as ações desabaram 15% após a divulgação. A alta taxa básica de juros de 13,75% e a antecipação de recebíveis de cartão de crédito são apontados como os principais obstáculos para a companhia. Também em resultado desanimador, a Vibra registrou lucro de 81 milhões de reais no trimestre, uma queda de 75% na base anual. Já o Nubank pôs um sorriso no rosto de parte dos investidores, com lucro de 695 milhões de reais no período, subvertendo o prejuízo de 220 milhões de reais no mesmo período do ano anterior.