O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou neste sábado (9) que há sinais claros de que o custo da transição verde tem sido subestimado. Ele avaliou que os eventos climáticos estão crescendo exponencialmente e defendeu que a transição energética precisa ser feita de forma coordenada. “A transição verde está se mostrando muito mais custosa, como vimos aqui, e também os insumos necessários para isso provaram ser mais inelásticos do que esperávamos. Então, acho que a inovação está se mostrando muito mais difícil e também muito mais difícil de modelar do que esperávamos”, disse Campos Neto, durante o evento Green Swan 2024, no painel sob a temática “impacto das alterações climáticas na economia real”, do Banco de Compensações Internacionais (BIS).
Segundo ele, em comparação com questões relacionadas ao meio ambiente durante a crise de 2008 e a pandemia da covid-19, há uma clareza de que, após esses episódios, as pessoas passaram a exigir que o crescimento fosse mais sustentável e mais inclusivo.
Campos Neto também afirmou que os investimentos verdes são mais sensíveis às políticas monetárias. Mas ressaltou a dificuldade de incluir esse cenário em modelos econômicos, especialmente em meio às externalidades positivas.
“Quando olhamos como modelar essas coisas, é muito difícil não pensar em externalidades positivas”, disse. Em relação às externalidades, ele citou alguns exemplos. No caso das empresas, sempre há a questão da reputação envolvida ao optar por investimentos sustentáveis, como relacionados ao crédito de carbono. Neste caso, segundo Campos Neto, a decisão de investir não é clara e as pesquisas revelam isso.
Já do lado do consumidor, a substituição de produtos verdes por não verdes também não é tão óbvia, segundo ele. “Se você olhar para o mercado de proteína agora, as pessoas pagam mais por proteína se tem o rótulo verde ou sustentável e tem menos sensibilidade aos preços. Agora, temos uma grande mudança no preço da proteína no Brasil, você pode ver isso claramente”, afirmou.
Campos Neto também destacou a dificuldade de modelar questões relacionadas às taxas de carbono. De acordo com ele, seria mais fácil adaptar essa temática no modelo se fosse possível presumir que todos os países têm a mesma política de tarifas sobre emissão de carbono – o que não ocorre na prática.
“Não acontece dessa forma porque, na Europa, você tem ajustes de impostos de fronteira. Em alguns outros países, não. Então, quando você impõe impostos, isso muda muito os incentivos de países que têm ajustes de impostos de fronteira para países que não têm. Isso também é muito relevante”, disse.