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quarta-feira 15 de março de 2023 às 15:08h

Há 12 anos, fizemos uma aposta

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“Boa tarde, tudo bem?

Logo mais faz dez anos. Era maio de 2013, um domingo, Dia das Mães, quando saí de Belo Horizonte para uma experiência inicial de três meses que dura até hoje.

Comecei a trabalhar na Agência Pública quando era um jovem repórter de 20 e poucos anos, cheio de sonhos e vontade de me juntar àquele grupo de jornalistas que faziam um trabalho que não via em quase nenhum outro lugar.

No site da Pública, eu lia maravilhado as longas reportagens que revelaram os tentáculos ocultos do governo dos EUA no Brasil e na América Latina, interceptados pelo Wikileaks. Vi relatos dilacerantes de mulheres violentadas justamente no momento que davam à luz. Acompanhei importantes apurações sobre documentos e relatos da ditadura brasileira, que militares tentavam a todo custo dar como assunto encerrado. E enquanto boa parte da cobertura esportiva era apenas euforia pela Copa do Mundo, a Pública trazia o grito de famílias removidas de suas casas sob a falsa promessa de um legado que nunca chegou para quem mais precisava.

Em 2013, a Pública foi pioneira ao lançar a primeira grande campanha de financiamento coletivo no jornalismo brasileiro, que foi também meu primeiro trabalho na agência. Com um mês de casa, veio o turbilhão dos protestos de rua de junho de 2013, quando denunciamos a violência policial em um momento no qual parte da imprensa ainda se preocupava em contar quilômetros de engarrafamentos.

A partir daí, a história — minha, da Pública e do Brasil — correu sem freios. Veio o Mundial de 2014, ainda que sob gritos de “não vai ter Copa”; passamos pela morte de Eduardo Campos e a reeleição de Dilma, quando fomos um dos primeiros veículos a fazer checagem de fatos no Brasil. Depois, acompanhamos o desastroso caminho do impeachment e do temerário governo que se sucedeu; e cobrimos, desde o início, a ascensão de uma extrema-direita que se vestiu de verde, amarelo e bons costumes para eleger um defensor da tortura à presidência do Brasil.

Posso dizer que fiz de tudo um pouco nesses anos: apurei, escrevi, fotografei, gravei, fiz infográficos, animações, trabalhei com dados, fui editado, editei. Também me emocionei com as histórias que ouvi, espumei de raiva com as injustiças que testemunhei e por vezes quase perdi as esperanças ao ver o país escolher a brutalidade no lugar da democracia. Apesar dos pesares, com muita determinação e um pouco aos trancos, vá lá, seguimos, sobrevivemos, inclusive à pandemia, inclusive a Bolsonaro.

O tempo é algo curioso. Se antes a Pública era aquele site de textos longos que eu lia à distância com admiração e brilho nos olhos, hoje é aqui o meu trabalho, onde pude humildemente contribuir com minhas próprias reportagens e seus muitos caracteres. Quase uma década depois, aquelas pessoas que faziam um trabalho que eu não via em quase nenhum outro lugar são hoje meus colegas e amigos. E depois de tantas fases e mudanças, chega a hora de mudar de novo.

Hoje, no aniversário de 12 anos da Pública, aceito o desafio de ser o primeiro chefe de redação da agência. Mais do que coordenar o dia a dia da redação, quero pensar junto aos meus colegas como iremos seguir fazendo um jornalismo relevante, investigativo, pioneiro e independente nas próximas décadas. Além dessa mudança, o editor e diretor Thiago Domenici, com quem tanto aprendi, parte rumo a Brasília para chefiar a sucursal da Pública na capital federal, junto a um time sensacional de repórteres – que contará também com o reforço da repórter de clima Anna Beatriz Anjos. Para fechar essa série de novidades, Giovana Girardi, jornalista experiente e especialista na cobertura socioambiental, se junta à equipe da casa como editora.

Foi preciso que o Brasil passasse por um governo autoritário – que atropelou direitos básicos dos brasileiros e atacou a própria imprensa –, para que uma grande ficha caísse no jornalismo: o trabalho da imprensa deve sempre ser pautado pela defesa dos direitos humanos. Essa ficha, felizmente, já era a aposta da Pública desde sua criação, há mais de uma década. É, de certa forma, também a minha aposta há quase dez anos, quando peguei uma malinha preta e vim para a redação pela primeira vez.

Se essa for também a sua aposta, te faço um convite: vire um Aliado da Pública hoje. Com uma pequena doação de R$20 por mês, você ajuda a garantir que o jornalismo corajoso e independente da Pública vai seguir firme e forte por muitos anos mais.

QUERO MAIS 12 ANOS DE PÚBLICA
Além disso, todas as pessoas que virarem Aliadas este mês, independente do valor da doação recorrente, vão ganhar de presente o livro comemorativo de aniversário da Pública, em que contamos nossa história e refletimos sobre o futuro.

Parabéns à Pública. A todas as pessoas que fazem e fizeram o nosso jornalismo acontecer. E a você, que também faz parte dessa história. Seguimos resistindo, insistindo, investigando.

Um abraço,

Bruno Fonseca
Chefe de redação da Agência Pública

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