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quarta-feira 18 de janeiro de 2023 às 14:10h

Há 100 anos, hiperinflação assolava Alemanha, e nos dias atuais?

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Segundo a DW, em 1923, quando a economia alemã ainda sofria os efeitos da Primeira Guerra Mundial e pressão para pagar reparações, a hiperinflação devastou o pais. Economista traça paralelos com situação atual. A hiperinflação da República de Weimar foi uma das maiores crises econômicas da história da Alemanha. Ela se manifestou em 1923, quando a economia alemã ainda sofria com os efeitos da Primeira Guerra Mundial e era ainda mais pressionada pelas demandas da França por reparações após o Tratado de Versalhes, o acordo de paz do pós-guerra.

As causas da hiperinflação foram múltiplas, mas, acima de tudo, o governo de Weimar deu um tiro no próprio pé, explica Jutta Hoffritz, economista e autora do livro Totentanz – 1923 und seine Folgen (Dança da Morte – 1923 e suas consequências), em entrevista à DW.

Quando a então jovem república decidiu suspender os pagamentos das reparações de guerra, as potências vitoriosas ocuparam a região do Rio Ruhr para garantir o carvão extraído. A partir daí, a população ofereceu resistência passiva, entrando em greve e parando de extrair o combustível. Berlim passou então a imprimir mais dinheiro para continuar pagando parte dos salários aos grevistas “patriotas”.

“Patriotismo” gerou crise econômica devastadora

Com essa “medida patriótica”, o governo causou a desvalorização de sua própria moeda, explica Jutta Hoffritz: “Os próprios alemães reduziram sua produção mais importante só porque não queriam que os francesses obtivessem carvão e aço. Eles preferiram dizer: ‘Ok, não vamos produzir nada’.”

Assim que o Reichsbank, então banco central do país, começou a imprimir mais dinheiro para apoiar os grevistas, os preços subiram. “Onde há inflação, uma política monetária frouxa não está longe.”

Quando a impressão do dinheiro supera a quantidade de mercadorias e produtos em circulação, há uma elevação geral dos preços e, como consequência, um aumento da inflação. Além disso, a Alemanha já depreciara sua moeda durante a Primeira Guerra Mundial, ao imprimir mais dinheiro para financiar o conflito.

A hiperinflação teve efeitos devastadores sobre a vida da população. Os preços subiram meteoricamente, logo um pão custava centenas de milhões de marcos.

Em seu livro, Hoffritz descreve como, em 1923, a famosa artista plástica Käthe Kollwitz começou a armazenar batatas até mesmo no quarto de hóspedes sublocado. Ao inquilino restava apenas um caminho estreito para ir da porta do quarto até a cama. O valor das batatas aumentava constantemente, e elas podiam ser comidas – ao contrário do papel-moeda.

Reforma monetária trouxe a salvação

Na tentativa de controlar a situação, o Reichsbank emitia cada vez mais notas. “Em 1923, a Reichsdruckerei [Casa da Moeda] empregava três vezes mais funcionários do que antes da guerra, e quase todas as gráficas da Alemanha estavam a serviço do banco central para imprimir dinheiro”, relata Hoffritz. “Quase toda a indústria de processamento de papel estava ocupada imprimindo novas cédulas.”

A situação só se acalmou após a designação de um novo presidente para o Reichsbank e uma reforma monetária. E assim se parou de imprimir dinheiro. Além disso, foi introduzida uma moeda indexada ao centeio, o Roggenmark, para reconquistar a confiança popular. Seu valor se baseava numa determinada área cultivada e a quantidade de grão que produzia.

No entanto o sucesso dessa moeda alternativa estava ligado a uma ilusão: ninguém jamais poderia ir ao banco com seu marco de centeio e trocar notas por terra. Mas como ninguém tentou isso também, a magia durou: a moeda permaneceu estável e foi aceita como meio de pagamento.

E a inflação nos dias atuais?

Hoje a situação é diferente, mas é claro que existem algumas analogias: “Inflação alta ou até mesmo hiperinflação muitas vezes têm algo a ver com tempos de guerra”, explica a economista Hoffritz, referindo-se à invasão da Ucrânia pela Rússia.

“Felizmente não estamos envolvidos diretamente nessa guerra, mas sofremos danos colaterais, porque nosso fornecimento de gás natural [da Rússia] foi interrompido. Assim como o carvão, 100 anos depois um importante recurso está escasso.”

Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) também vem adotando uma política monetária frouxa há anos. Essas são condições favoráveis ​​para o aumento da inflação, “mas aí os paralelos acabam”.

“Falamos hoje sobre inflação alta, a mais alta em toda a minha vida: 10%. Isso é muito, mas o que aconteceu em 1923 foi uma hiperinflação. São coisas completamente diferentes.”

Hiperinflação reinava em 1923, e hoje?

Em novembro de 2022, os preços na Alemanha estavam 10% mais altos do que 12 meses antes. Numa hiperinflação, a elevação é de pelo menos 50% por mês. Por exemplo: se o pão custasse 3 euros em novembro, não estaria disponível por menos de 4,50 euros em dezembro.

Jutta Hoffritz recebe pelo correio notas antigas de leitores, por exemplo, no valor de 2 milhões de marcos. “Recebo muitas histórias de quem encontrou, em criança, um maço de notas no sótão e se sentiu totalmente rico por cinco minutos, pensando: ‘Encontrei o tesouro escondido do vovô’.”

Mas tudo não passava de um equívoco: “Aí vinha a vovó e dizia: ‘Sim, é o que sobrou de 1923. E na época não conseguíamos nem comprar um pacote de manteiga com tudo isso.’”

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