A Grenache é, ao mesmo tempo, uma das castas mais plantadas no mundo e a menos valorizada entre as grandes uvas europeias. Vinicultores de todo o mundo convencionaram dedicar a terceira sexta-feira de setembro (época da colheita no Velho Mundo) ao fruto usado na produção do famoso Châteauneuf-du-Pape, o Vinho dos Papas.
Segundo o site O Especialista, a uva é chamada de Grenache na França e Garnacha na Espanha. Os países disputam desde o século XVI a origem da cepa. Especialistas dizem que não é possível localizar a primeira videira da espécie.
O que se sabe é que ela se adapta a solos muito pobres e suporta temperaturas altas, o que leva pesquisadores a suspeitarem que era dela o preparo da bebida servida em ânforas no Egito Antigo. Também é casta que suporta altitudes extremas e mudanças de temperatura. É plantada sem nenhum problema em países distantes como Austrália, Chile ou México.
Essas facilidades no plantio deram a fama à Grenache de “uva comum”. “Por ser muito plantada em todo o mundo, apreciadores da uva consideram que regiões de produção nobre como o Rhône, na França, não dão o devido destaque aos rótulos”, diz Cibele Siqueira, sommelière da Wine. “A data serve para difundir a casta, que faz vinhos versáteis e para todos os bolsos”.
A uva escolhida pelos Papas de Avignon
Os franceses achavam que os espanhóis, maiores produtores da uva desde a Idade Média, erravam a mão no uso da alta concentração de açúcar da cepa, que possibilita alcançar teores alcoólicos de até 15%. O Papa Clemente V, que era francês, abraçou a causa. Quando se mudou para Avignon, foi morar dentro de um vinhedo de Grenache que abasteceu missas, ceias e as finanças de seu papado.
Seus sucessores ergueram um castelo no meio da região vinícola para viver e controlar o comércio de vinho. Assim nasceu um dos rótulos mais celebrados da região até hoje, o Châteauneuf-du-Pape. O vinho resistiu a uma das maiores cisões da história da Igreja Católica, a Grande Cisma do Ocidente, queda de braço entre França e Itália por sediar a Santa Fé.
A Itália ficou com a residência papal. Mas o Châteauneuf-du-Pape (que foi explorado durante quase um século pelos líderes religiosos, como Umberto Eco mostra em “O Nome da Rosa”) nunca deixou a região da Provença, onde recebeu a denominação Terroir Castelpapal, que carrega até os dias atuais. Hoje, Avignon exporta para todo o mundo as garrafas batizadas pelos papas medievais, a preços das chamadas grandes uvas francesas. Inclusive para a Itália.