Em 2015, o então deputado federal João Rodrigues (PSD-SC) deixou o baixo clero do Congresso para tornar-se nacionalmente conhecido ao ser flagrado assistindo pornografia no celular em plena discussão da reforma política no plenário da Câmara.
O caso cairia no folclore de incomposturas das excelências no local de serviço, mas Rodrigues voltaria a figurar no noticiário nacional em 2018, quando o STF determinou sua prisão imediata ante o risco de fuga do então parlamentar.
Rodrigues estava nos Estados Unidos e mudou a passagem de volta ao Brasil para Assunção, no Paraguai. O deputado negou que tivesse pensado fugir, mas as provas colhidas pela PF, agora se sabe, mostram todo o desenho do plano de fuga.
A ideia, segundo revelam conversas telefônicas entre o presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, Júlio Garcia, e o ex-ministro do STJ Paulo Gallotti, amigos do parlamentar, era esconder Rodrigues no Paraguai até o prazo de prescrição da pena, que se daria dias depois.
O papo começa num telefonema entre Gallotti e Garcia na tarde de 6 de fevereiro de 2018. “Oi, Julio! Agora deu m… completa, né? Mandaram prender o João”, diz Gallotti ao presidente da Assembleia informando que o então advogado do deputado, Marlon, recomendava a fuga ao país vizinho até que a prescrição da pena ocorresse, na semana seguinte. “O Marlon sugeriu ele ir pro Paraguai e ficar lá”, diz Gallotti. “Ficar lá 10 dias”, concorda Garcia.
O ex-presidente do STJ e o atual chefe da Assembleia catarinense levam um tempo reclamando dos ministros do STF que votaram contra o amigo Rodrigues. Garcia revela a Gallotti ter conversado com Rodrigues. “Ele já mandou uma mensagem dizendo ‘F… tudo! Agora resta a prescrição’”, diz Garcia. “Vir para o Brasil, infelizmente, acho que não é bom”, diz Gallotti.
Em outro telefonema na sequência com outro interlocutor, Garcia diz que o advogado de Rodrigues “acha que ele deve mudar a rota dele” e não vir ao Brasil: “A verdade é que se ele descer no Brasil e os caras tiver com um mandado de prisão, é Jornal Nacional, né?”
Em outro telefonema novamente com Gallotti, Garcia ouve do ex-ministro do STJ o relato da conversa que teve com Rodrigues: “Por ele… O que a gente resolver… Ele… Ele concorda. Acha a solução do país vizinho boa”.
A notícia de que o STF expediu o mandado de prisão contra Rodrigues segundo a revista Veja, faz o deputado, ainda nos Estados Unidos, avisar aos colegas que tomou a decisão de não vir ao Brasil. Garcia e Gallotti discutem então como ajudar a mulher do deputado e os filhos dele a voltarem sozinhos a Florianópolis. Além do suporte para a família do deputado, a dupla fala em ajudar Rodrigues a se manter no esconderijo paraguaio.
“A gente tem dar apoio pra onde ele vai…”, diz Gallotti, com a concordância de Garcia. O ex-ministro do STJ ainda adverte Garcia para cuidados no plano de fuga do colega. “Pra gente evitar falar nesse lugar que a gente tá pensando, né? Vai saber se não estamos na antena, né”, diz Gallotti.
Gallotti e Garcia estavam, de fato, “na antena”. Rodrigues chegou a colocar o plano de fuga em prática ao trocar a passagem dos Estados Unidos para Assunção. Eles só não contavam que a Polícia Federal seria mais rápida e contaria com a ajuda da polícia paraguaia para interceptar o fugitivo ainda no avião e embarcá-lo a Guarulhos. O plano de fuga deu errado.