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segunda-feira 27 de maio de 2024 às 17:39h

Gráficos mostram que o planeta ultrapassou um marco importante na energia limpa

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O mundo ultrapassou um marco histórico em matéria de energia limpa, uma vez que o boom de energia solar e eólica permitiu que, no ano passado, 30% da eletricidade mundial fosse produzida por fontes renováveis, indicam novos dados.

O planeta está próximo de “um ponto de viragem crucial” rumo à energia limpa, de acordo com o Global Electricity Review publicado a 8 de maio pelo think tank climático Ember. O relatório prevê que a produção mundial de combustíveis fósseis diminua ligeiramente em 2024, antes de registar declínios muito maiores nos anos seguintes.

Trata-se de um passo significativo para que o mundo atinja 60% de eletricidade renovável até 2030, o que é fundamental para cumprir os objetivos climáticos globais, indica Dave Jones, diretor global da Ember, na reportagem de Laura Paddison, Rachel Wilson, Jhasua Razo e Lou Robinson, da CNN.

“O futuro das energias renováveis já chegou”, diz Jones. “A energia solar, em particular, está crescendo mais rapidamente do que se julgava possível.”

Uma análise dos dados revela o quanto o setor energético está mundando.

Renováveis batem recordes

Em 2000, as energias renováveis representavam menos de 19% do cabaz energético global. Atualmente, correspondem a mais de 30%. Se se considerar a energia nuclear, o mundo gerou quase 40% da sua eletricidade a partir de fontes com baixo teor de carbono no ano passado.

Apesar de os níveis globais de poluição que aquece o planeta terem atingido um valor recorde em 2023, o boom de energias renováveis empurrou a intensidade de carbono do setor da eletricidade – a quantidade de poluição carbónica produzida por unidade de eletricidade – para um mínimo recorde em 2023, 12% inferior ao pico atingido em 2007.

Fontes de energia renovável corresponderam a 30% da eletricidade global produzida em 2023

A maior utilização de fontes de energia renováveis fez com que a intensidade carbónica da produção mundial de eletricidade atingisse um novo mínimo histórico em 2023 – 12% menos do que o pico registado em 2007

Percentagem da produção mundial de eletricidade

Fonte: Ember. Gráfico: Rachel Wilson, CNN

O aumento das energias renováveis também está a empurrar os combustíveis fósseis para o declínio, abrandando o seu crescimento em quase dois terços ao longo da última década, segundo o relatório. Mais de metade dos países já ultrapassou em cinco anos o seu pico de eletricidade produzida a partir de combustíveis fósseis.

A quota-parte dos combustíveis fósseis no cabaz elétrico global diminuiu de 64,7% em 2000 para 60,6% em 2023. A Ember prevê que este número vai cair significativamente em 2024, para 57,6%, à medida que o rápido aumento da energia solar começa a fazer-se sentir.

“Vamos assistir ao boom das energias renováveis, o que vai mesmo mudar a situação muito rapidamente”, diz Jones à CNN.

Energia solar em expansão

A energia solar foi a fonte de eletricidade que mais cresceu em 2024 pelo 19.º ano consecutivo, indica o relatório. No ano passado, correspondeu a quase o dobro da nova produção de eletricidade do que o carvão.

O aumento das instalações de painéis solares teve lugar no final de 2023, pelo que os efeitos totais ainda não se fizeram sentir, diz Jones. “Penso que 2024 será um pouco menos chocante quando começarmos a ver esses números”, indica, especialmente entre aqueles que assumem que a procura de combustíveis fósseis, como o gás, vai continuar a aumentar.

Energia solar a fonte de eletricidade que mais cresceu

A expansão das energias renováveis no cabaz elétrico mundial tem sido impulsionada por aumentos significativos da produção de energia solar e eólica. O seu crescimento ultrapassa largamente o da energia hidroelétrica, que é a maior fonte de energia limpa.

Fonte: Ember. Gráfico: Rachel Wilson/CNN

Embora o carvão e o gás continuem a representar a maior parte da produção global de eletricidade, a sua taxa de crescimento no ano passado foi muito inferior à da energia solar e eólica.

“A velocidade da expansão da energia solar e eólica é notável e um sinal de que a sociedade consegue gerar mudanças rápidas”, diz Niklas Höhne, cientista climático da organização sem fins lucrativos NewClimate Institute, que não esteve envolvido na investigação da Ember.

O crescimento das energias renováveis teria sido ainda maior se não se tivessem registado quebras significativas na produção de energia hidroelétrica em países como a China e a Índia, aponta o relatório. O défice foi colmatado sobretudo pelo carvão.

China lidera o pelotão

A China é o maior produtor global de eletricidade solar

Contribuiu mais de um terço da produção mundial de energia solar e produziu mais do dobro da eletricidade solar que os Estados Unidos em 2023. Mas a percentagem de energia solar no cabaz elétrico nacional de ambos os países é igualmente baixo, rondando os 6%.

Os 10 principais produtores de eletricidade solar em 2023

Fonte; Ember. Tabela; Rachel Wilson e Lou Robinson/CNN

A China é, de longe, o líder no setor da energia solar, tendo sido responsável por quase 36% da produção mundial no ano passado.

Mas a história muda de figura quando se olha para o papel que essa energia desempenha no cabaz nacional de eletricidade da China – apenas 6%, muito abaixo de muitos outros países que são grandes produtores de energia solar.

A energia solar representa mais de 10% da produção anual de eletricidade em 33 países, segundo o relatório, incluindo o Chile (30%), a Austrália (17%) e os Países Baixos (17%) – e a Califórnia, a quinta maior economia mundial, gera 28% da sua eletricidade a partir da energia solar.

Procura de eletricidade deverá aumentar

A procura global de eletricidade aumentou para um nível recorde em 2023 – adicionando o equivalente a toda a procura de eletricidade do Canadá – mas a taxa de crescimento abrandou em comparação com a média da última década.

A China foi o principal motor da procura, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia registaram quedas acentuadas devido a um clima mais ameno e – em particular na UE – a uma quebra temporária na atividade industrial.

A Ásia e a China em particular impulsionam o crescimento global de procura de eletricidade em 2023

Apesar de a procura global de eletricidade ter aumentado em 2023, cresceu a uma taxa inferior à média de 2,5% da última década, com os Estados Unidos e a Europa a registarem quedas acentuadas. Espera-se, no entanto, que o crescimento da procura acelere acentuadamente nos próximos anos, impulsionado por tecnologias como os veículos elétricos, as bombas de calor, o ar condicionado e os centros de dados.

Alteração da procura de eletricidade em 2023

Fonte: Ember. Gráfico: Rachel Wilson/CNN

Segundo a análise da Ember, a procura de eletricidade deverá aumentar a partir de 2024. Os veículos elétricos, as bombas de calor e a eletrólise – o processo usado para produzir hidrogénio verde, uma energia limpa muito apregoada – irão aumentar a procura, a par de tecnologias como o ar condicionado e a Inteligência Artificial.

A disseminação destas tecnologias vai potenciar o crescimento desta procura de eletricidade, mas a procura global diminuirá, uma vez que a eletrificação é mais eficiente do que os combustíveis fósseis, é indicado no relatório.

De um modo geral, o relatório da Ember “dá de facto esperança”, diz Nancy Haegel, conselheira de investigação do National Renewable Energy Laboratory, que não esteve envolvida nesta análise. “Mostra que podemos gerar quantidades significativas de eletricidade com energias renováveis.”

A questão é saber se o ritmo da transição será suficientemente rápido, adianta Haegel à CNN. “As escolhas que se fizerem nos próximos 10 anos serão cruciais.”

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