Alvo de críticas do governo Bolsonaro há mais de um ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) tem um novo diretor. O engenheiro eletricista Clezio Marcos De Nardin, que até então ocupava o cargo de coordenador-geral de Ciências Espaciais e Atmosféricas do próprio instituto, foi escolhido pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, para assumir o cargo máximo do órgão. Pesquisador da área da ciência espacial, Nardin é um dos criadores do programa de monitoramento do clima espacial no Inpe. A decisão foi publicada nesta sexta-feira, 2, no Diário Oficial da União.
O posto era ocupado desde agosto do ano passado pelo militar Darcton Policarpo Damião, depois que o então diretor, o físico Ricardo Galvão, foi exonerado pelo governo. Entre os nove candidatos ao cargo, além de Nardin, e do próprio Damião, havia um ex-diretor do Inpe, Gilberto Câmara, e dois ex-diretores de institutos de pesquisa federais: Nilson Gabas Júnior (que foi do Museu Paraense Emílio Goeldi) e Victor Pellegrini Mammana (Centro de Pesquisas Renato Archer).
Um comitê de busca independente e científico submeteu uma lista tríplice ao ministro Pontes, mas não foram divulgados os nomes.
Responsável, entre outras atividades, pelo monitoramento por satélite do desmatamento da Amazônia, o Inpe está há mais de um ano no centro de críticas pesadas do governo federal. Em meados de 2019, quando o desmatamento da Amazônia começou a subir, o presidente Jair Bolsonaro disse diversas vezes que os dados revelados em alertas do sistema Deter, do instituto, eram mentirosos. Bolsonaro chegou a insinuar que Galvão estivesse a serviço de alguma ONG.
Galvão, na ocasião, respondeu de forma pesada e acusou o presidente de agir de forma “pusilânime e covarde”. Ele defendeu a qualidade e a transparência dos dados, que foram também chancelados por instituições de pesquisa do Brasil e do exterior, como a Nasa. Mas o estresse foi tamanho que Galvão acabou exonerado.
De lá para cá, toda vez que o Inpe revelava que a situação de desmatamento e queimadas na Amazônia, e mais recentemente, no Pantanal, estava crítica, o governo voltava a atacar as informações. Neste ano, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, que coordena o Conselho da Amazônia, questionou várias vezes os sistemas de monitoramento, indicando que eles não seriam o suficiente para ajudar a conter o problema. E o Ministério da Defesa indicou que pretende contratar um novo satélite, ao custo de R$ 145 milhões.