Usando blindados e apoiados por cerca de 500 policiais e veículos especializados em dispersão de multidões, as forças de segurança do Peru derrubaram neste domingo as grades da Universidad Mayor de San Marcos, em Lima, desmantelando o acampamento de manifestantes que chegaram à capital na semana passada para protestar contra a presidente Dina Boluarte e o Congresso do Peru.
Após dobrar a resistência com o uso de bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta, os policiais lotaram vários ônibus com mais de 200 manifestantes e os levaram para as sedes da Direção contra o Terrorismo e Segurança do Estado e da Direção de Investigação Criminal. Apesar da invasão violenta da universidade — criticada por estudantes e defensores de direitos civis como uma violação da autonomia universitária —, nenhum ferido grave foi reportado na operação.
“Esse é um ataque que rompe uma certa linha do governo, se é que podemos levar em conta que o governo ainda tinha alguma linha diante de tantos mortos nas manifestações”, afirmou o professor de ciências políticas da Universidade Católica do Peru, Eduardo D’Argent. “Há uma clara demonstração de força de Boluarte, no sentido de enviar a mensagem de que vai intensificar a repressão”, afirmou.
Mais de 50 pessoas já morreram no Peru desde 7 de dezembro, quando o então presidente Pedro Castillo foi destituído após uma fracassada tentativa de reforçar seus poderes por meio de um golpe de Estado. Castillo está preso na capital peruano pela tentativa de golpe. Boluarte, que era sua vice, assumiu o poder em seguida — tornando-se a sexta presidente a ocupar o poder no Peru em seis anos.
Mas manifestantes de origem indígena e sindicalistas, principalmente do sul do país, não aceitam a autoridade da presidente e exigem sua renúncia, assim como a de todos os membros do Congresso unicameral e a redação de uma nova Constituição. Esses grupos se sentem historicamente discriminados pelos sucessivos governos em Lima e reivindicam, entre outras coisas, reparação pelo uso de terras ancestrais e direitos sobre a exploração de minérios na região.
No começo da semana passada, após mais de um mês realizando marchas, bloqueios de estradas e fechamentos de aeroportos — que se espalharam por 18 das 24 regiões do Peru —, os ativistas se encaminharam à capital para grandes manifestações que chamaram de “a tomada de Lima”. Na noite da quinta-feira, a polícia reprimiu um protesto no centro da capital, deixando feridos e um edifício histórico incendiado. A origem do fogo ainda não foi determinada.
No mesmo dia, Boluarte, que se comprometeu a entregar o poder em 2024 — dois anos antes do fim do mandato —, acusou os manifestantes de praticar atos de vandalismo e anunciou que intensificaria a repressão.
Parte do sul do Peru está sob estado de exceção, com toques de recolher noturnos vigentes e direitos, como o de reunião, suspensos. No sábado, o governo fechou o Parque Nacional de Machu Pichu, um dos mais visitados do mundo, e recomendou aos turistas estrangeiros que permanecessem em seus hotéis em Cusco.