Entre 2014 e 2020, 414 pessoas morreram em “acidentes de trabalho no Catar, entre todos os setores e nacionalidades incluídas”, informaram os organizadores da Copa do Mundo de 2022, após as primeiras declarações neste sentido do secretário-geral do comitê organizador.
Na quarta-feira (30), Hassan Al-Thawadi, chefe do comitê organizador da Copa do Mundo, apresentou, em entrevista à televisão britânica, um balanço de entre “400 e 500” pessoas apenas, ao ser questionado sobre quantos trabalhadores faleceram “trabalhando para a Copa”.
“Uma única morte já é demais, simples assim”, acrescentou Thawadi.
Esses números “referem-se às estatísticas nacionais que cobrem o período 2014-2020 de todas as mortes relacionadas ao trabalho (414) em todo o país no Catar, entre todos os setores e nacionalidades incluídas”, detalhou o comitê organizador em um comunicado.
Os organizadores da Copa do Catar insistiam em apenas “três mortes relacionadas a acidentes de trabalho” e 37 mortes relacionadas a projetos da Copa do Mundo.
Estes números foram divulgados nos relatórios anuais entre 2014 e 2021, período em que se realizou a maior parte das obras e infraestruturas.
Desde a atribuição da Copa do Mundo de 2022, o Catar, país com 2,9 milhões de habitantes – dos quais quase 80% são estrangeiros -, é criticado por sua legislação trabalhista e pelas condições de vida e trabalho de seus trabalhadores imigrantes não qualificados.
Doha sempre rejeitou os números que citam milhares de trabalhadores imigrantes empregados nas obras ligadas à Copa do Mundo, divulgados por alguns meios de comunicação e ONGs ocidentais.
O Catar, por fim, adotou reformas trabalhistas, que foram elogiadas, após forte pressão de sindicatos internacionais.
Assim, acabou com o sistema “kafala”, que dava aos empregadores direitos amplos sobre os trabalhadores, incluindo se poderiam deixar seus empregos ou até mesmo o país.
Também introduziu um salário mínimo e restringiu as horas em que os trabalhadores podem ficar expostos ao calor extremo.
Um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que tem um escritório em Doha, concluiu que 50 trabalhadores morreram em acidentes de trabalho no Catar e outros 500 sofreram ferimentos graves.
Voltaram no caixão
A OIT ressaltou, porém, lacunas no sistema de investigação e censo e admitiu que o número poderia ser maior.
“Na última década, milhares de trabalhadores voltaram para seus países em um caixão, sem a menor explicação para suas famílias”, comentou a organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional sobre as declarações de Al-Thawadi.
“O calor extremo no Catar e as condições de trabalho extenuantes provavelmente contribuíram para centenas de mortes, mas sem investigações completas, a extensão das vidas perdidas nunca será conhecida”, acrescentou Steve Cockburn, funcionário da ONG