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sexta-feira 14 de fevereiro de 2025 às 14:00h

Governo deve abrir a torneira do crédito. O fim desse “filme” já é conhecido

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Que a economia vai desacelerar é carta no baralho, mas o governo aposta no crédito como alavanca de crescimento para frear a inclinação que se avizinha. Motivo? Se confirmadas as projeções do mercado, o arrefecimento da atividade poderá atrapalhar, ainda mais, a popularidade do presidente Lula em 2026 de fim de mandato e eleições gerais. Neste 2025, a inflação já faz esse trabalho.

Sondagem de Angela Bittencourt, do NeoFeed, realizada entre 7 e 12 de fevereiro, com 15 instituições para colher projeções para PIB, IPCA, Selic e Dólar, mostra expansão do PIB em 2025 entre 1,7% e 2,5%, após 3,4% a 3,5% em 2024. E de 0,9% a 2,3% em 2026, sendo que 12 das 15 fontes veem menos de 2%.

Na enquete com dados da Ativa, Austin Rating, Banco do Brasil, Bradesco, BTG Pactual, CM Capital Markets, Equador Investimentos, G5 Partners, Itaú Unibanco, LCA, MacroSector, Monte Bravo Corretora, Banco Pine, Santander Brasil e XP, a inflação esperada para este ano vai de 4,3% a 7% e, para o próximo, de 3,38% a 5,3%.

Quanto à Selic, as estimativas variam de 14,75% a 15,75% para 2025 e, para 2026, de 11% a 13,75%. O dólar é projetado, respectivamente, entre R$ 5,75 e R$ 6,50 e R$ 5,80 a R$ 7,00.

Nem todas as instituições fazem projeções para crédito, mas compartilham a avaliação de que haverá, sim, um esforço do governo para evitar que a taxa de expansão do total das operações, de 10,9% em 2024, decline a algo entre 6% e 8% neste ano – parâmetros acenados pelos maiores bancos privados do País. Já os bancos públicos deverão acelerar as operações.

A Austin Rating, agência brasileira de classificação de risco, prevê aumento de crédito de 5,8% em 2025 e 6,2% em 2026. Ao NeoFeed, Alex Agostini, economista-chefe, observa que Selic próxima a 16%, recorde em 18 anos, vai inibir muito e rapidamente o consumo via crédito, atingindo sobretudo imóveis e veículos que têm uma longa cadeia setorial. A contenção virá num momento de elevado comprometimento da renda das famílias.

“A própria inflação tem reduzido o poder de compra e amplia os fatores que tendem a desacelerar fortemente a economia. E a expectativa é de que os bancos privados sejam mais seletivos nas concessões até por conta dos riscos presentes. Entre eles a questão fiscal”, avalia o economista.

“Ao mesmo tempo, as famílias devem se retrair. E ainda que as condições se mostrem positivas no mercado de trabalho agora, no segundo semestre a tendência é de desaquecimento, apesar da disposição do governo de fortalecer a atuação dos bancos públicos”, complementa.

O crédito consignado privado, que deverá alavancar operações com apelo popular, encabeça um dos eixos de proposições prioritárias listadas na Agenda União e Reconstrução 2025 divulgada na quarta-feira, 12 de fevereiro, pela Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.

E, embora modesto se comparado ao estoque de empréstimos do sistema que totalizou R$ 6,4 trilhões em dezembro, o consignado privado, ainda em formatação, é bem-visto por grandes bancos. E poderá impulsionar operações em até R$ 200 bilhões – volume relevante para o nicho que encerrou 2024 com volume consolidado de R$ 676 bilhões, segundo estatísticas do Banco Central.

“Overshooting” do crédito puxou PIB de 7,5% em 2010

Os bancos, que negociam com o governo o acesso a uma plataforma virtual comum com dados de cerca de 42 milhões de trabalhadores enquadrados no regime da CLT, buscam a (improvável) liberação do teto de juro de 1,8% estabelecido para o consignado pelo Conselho Nacional de Previdência Social.

O teto anterior, 1,66%, foi alterado em janeiro, “alinhando-se” à Selic mais alta. No início de fevereiro, o prazo para pagamento foi ampliado de 7 para 8 anos. Um aumento que possibilitará “suavizar, diminuir, o valor que os beneficiários terão de pagar mensalmente”, informou o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que anunciou a decisão.

De pronto, o Bradesco arregaçou as mangas e o resultado demonstra a relevância da medida. Em 24 horas, mais de 10 mil clientes firmaram ou renegociaram contratos no consignado para aposentados do INSS.

O foco está no consignado, mas o governo tem uma agenda mais ambiciosa que mira garantias. Entre propostas em estudo estão ampliar o uso de investimentos financeiros como garantia e integrar, em uma plataforma, diversas garantias para facilitar concessões a empresas e famílias. A conta é simples – quanto menor o risco das operações, maior o interesse dos bancos.

Embora decisões estejam por anunciar, iniciativas oficiais se avolumam desde 2023 com o Desenrola Brasil e o Marco Geral das Garantias. Em setembro de 2024, a utilização de recursos acumulados em planos de previdência aberta como lastro de empréstimos recebeu sinal verde. Em outubro, foi anunciado o programa Acredita para microempreendedores.

É fato, porém, que as projeções para a expansão do crédito convencional, mesmo as mais otimistas, são incomparáveis ao avanço de 20% que respaldou o salto do PIB de 7,5% em 2010 – último ano do segundo mandato de Lula e em meio à explosão do consumo. O BC de Henrique Meirelles à época não deu um choque no juro. Adotou medidas prudenciais para esfriar a atividade.

Apenas em dezembro daquele ano, o BC tirou da economia R$ 61 bilhões ao elevar alíquotas de recolhimento compulsório sobre depósitos bancários. A Selic, que havia caído de 13,75% no fim de 2008 para até 8,75% em julho de 2010, encerrou 2010 a 10,75% ante IPCA de 5,91% – acima do centro da meta de 4,5%, mas dentro da margem de tolerância cujo teto era 6,5%.

O cenário básico das fontes pesquisadas pelo NeoFeed está sujeito a inúmeros ajustes nos próximos meses e não contempla uma variável crítica que certamente passará a ser considerada pelo risco de contaminar expectativas: declarações do presidente Lula que tendem a se tornar cotidianas com a retomada de viagens, discursos e entrevistas pelo Brasil.

Em uma semana, Lula esteve no Rio de Janeiro, Bahia, Amapá e Pará. As entrevistas às rádios locais já engataram e com ampla repercussão. Em “casa”, Lula não descansou. Marcou presença em solenidades e recepcionou prefeitos e prefeitas que saíram das urnas em outubro. Em 27 de fevereiro abre o roteiro internacional com visita ao Japão.

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