A formação de um consórcio entre os nove estados do Nordeste não é meramente uma formalidade jurídica. É uma sinalização, segundo publicou o site Bahia Notícia nesta segunda-feira (18), de que os governadores pretendem defender uma postura conjunta para temas relevantes, a exemplo do Pacto Federativo e da Reforma da Previdência, mas também uma demarcação de espaço político, depois que a região foi alvo de críticas por conceder votações expressivas ao candidato derrotado ao Palácio do Planalto, Fernando Haddad. Juntos, são 153 deputados federais e 27 senadores que, mesmo que não votem conjuntamente, dificilmente irão contra os interesses dos próprios estados – ainda que eles integrem grupos políticos diferentes.
O resultado desse consórcio, todavia, não é simples de prever. Até o momento, há convergência de interesses e até mesmo de posicionamento político-ideológico – a maioria dos governadores nordestinos possui raízes mais próximas à esquerda. Como existe também o compartilhamento de problemas e mazelas, a tendência é de que as divergências fiquem, inicialmente, em segundo plano. Isso vai acontecer enquanto não houver uma disputa por questões de interesse local, o que vai colocar à prova qualquer estreitamento de relações.
Para além de certo ineditismo na formação desse agrupamento, é importante destacar que a Bahia assumiu ainda uma posição de protagonismo entre os estados. E aqui não é uma análise bairrista. Foram os próprios governadores que escolheram Rui Costa como presidente, o que o alça a condição de interlocutor do grupo frente ao governo federal e a outros atores. Maior estado da região em população, área e número de municípios, a Bahia talvez tenha sido também a origem inicial dessa zona de integração, quando passou a questionar ações do então presidente Michel Temer que teriam impacto no Nordeste.
A posição de Rui não parece ser apenas justificada eleitoralmente. Dois outros governadores, Camilo Santana e Flávio Dino, por exemplo, gozam de percentuais altos de aprovação e poderiam dividir os holofotes com o petista baiano. Todavia, as medidas adotadas por Rui para enfrentar a crise ao longo dos últimos anos parecem ter provocado um efeito catapulta para que o morador do Palácio de Ondina assuma a liderança do projeto. Até agora está dando certo.
Mesmo que as intenções sejam boas, o consórcio do Nordeste ainda vai demorar para mostrar algum tipo de resultado prático. Um dos desafios é abrir um canal de interlocução com o presidente Jair Bolsonaro, depois de um histórico de críticas entre ambas as partes. Caso os governadores consigam atingir ao menos parte do objetivo, Rui pode sair maior do que já é. Resta saber se – ou até quando – os outros chefes de Executivo estarão dispostos a deixar os louros recaírem apenas sobre ele.