Oficiais se juntarão ao Comando das Nações Unidas, força multinacional que defende a Coreia do Sul de possíveis ataques do regime ao norte. Iniciativa é um gesto simbólico de união contra estados autocráticos. Pela primeira vez, a Alemanha vai enviar uma equipe para integrar o Comando das Nações Unidas. A força armada multinacional, liderada pelos Estados Unidos, supervisiona o armistício que encerrou a Guerra da Coreia, de 1950 a 1953, e busca proteger a Coreia do Sul de possíveis ofensivas do regime ao norte.
Espera-se que o contingente alemão seja composto principalmente por militares de alto escalão, que trabalharão ao lado de oficiais de 17 outras nações da ONU. Analistas apontam que a contribuição foi pensada para destacar o apoio internacional entre nações que se opõem a estados ditatoriais cada vez mais agressivos.
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, expressou sua gratidão pela disposição de Berlim para se juntar ao comando durante as conversas com o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, que aconteceu lateralmente à cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Washington, em 10 de julho. “Esperamos que a Alemanha cumpra seu papel necessário como membro do comando assim que os procedimentos relacionados forem concluídos.”
O acordo chega em um momento tenso na península e na Europa Oriental, ressalta Chun In-bum, tenente-general aposentado do Exército da Coreia do Sul que atuou na Comissão de Armistício Militar da ONU.
Aliança de segurança entre Coreia do Norte e Rússia
A Coreia do Norte assinou um acordo de segurança com a Rússia no mês passado em que as duas nações se comprometem a se ajudar mutuamente em caso de conflito, pontuou Chun. Acredita-se que a Coreia do Norte também esteja fornecendo milhões de projéteis de artilharia e mísseis de curto alcance para as forças russas que lutam na Ucrânia.
“A manutenção da paz na península coreana sempre foi um desafio, portanto, quanto mais nações se envolverem na manutenção do armistício, mais benéfico será não apenas para a Coreia do Sul, mas também para a estabilidade do mundo inteiro”, disse Chun à DW. “Um país como a Alemanha é um líder influente na Europa e no mundo, e é por isso que esse compromisso está sendo bem recebido pelo governo e pelo povo sul-coreano.”
Segundo Chun, é improvável que o acordo envolva a presença alemã no solo na zona desmilitarizada fortemente fortificada que divide os dois lados, com a proteção da fronteira agora “99% nas mãos dos militares sul-coreanos”, acrescentou.
“Isso é diplomacia militar”, disse ele. “Espero ver oficiais da equipe monitorando a fronteira e inspecionando a zona desmilitarizada para garantir que o armistício esteja sendo respeitado.”
Chun disse que o governo sul-coreano continua interessado que os governos de outras nações com ideias semelhantes enviem pessoal para o comando, pois isso reforça a aliança que tem ajudado a proteger o sul democrático em um local de conflito ainda chamado pelas tropas estrangeiras alocadas no país de “fronteira da liberdade”.
Expectativas alemãs
O próprio Scholz visitou a zona desmilitarizada em maio de 2023, durante visita à Coreia do Sul para uma cúpula com Yoon em que pediu ao regime de Pyongyang que interrompesse os testes de mísseis balísticos. Scholz disse à época esperar que as duas Coreias pudessem um dia seguir os passos da Alemanha e se reunirem.
A Coreia do Norte reagiu com raiva ao fato de os países membros da Otan terem estreitado laços com vários países da região do Indo-Pacífico, alegando que a aliança está planejando se expandir com a inclusão de Coreia do Sul, Japão, Austrália, Nova Zelândia e possivelmente de outros países.
Em 15 de julho, uma declaração emitida pela mídia estatal norte-coreana afirmou que uma conversa recente em Berlim entre Scholz e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, foi uma reunião de “nações criminosas de guerra derrotadas”.
De acordo com Andrei Lankov, professor de história e relações internacionais da Universidade Kookmin de Seul, tanto Seul quanto Pyongyang estão sentindo o impacto do conflito na Ucrânia. “As democracias querem criar uma frente unida contra as potências revisionistas; a Rússia é a mais notável no momento, mas a China e o Irã serão desafiadores mais significativos no futuro”, disse ele à DW.
Benefícios para Seul e Berlim
“Uma presença alemã aqui ajudará tanto a Coreia do Sul quanto a Alemanha, ambas muito preocupadas com o isolacionismo dos EUA”, disse o pesquisador. Para Lankov, há uma “grande chance” de Donald Trump ser reeleito para a Casa Branca em novembro. “O isolacionismo que ele propõe não é uma aberração, mas uma tendência profunda e crescente na política americana”, avalia.
Muitos eleitores americanos estão cansados com o fato de os EUA fornecerem grande parte da segurança de seus parceiros, acredita ele, e há um movimento crescente para que os Estados Unidos façam com que essas nações assumam a responsabilidade por sua própria defesa. Isso levou Seul e Berlim a decidirem que precisam se esforçar mais para enfrentar seus desafios de segurança compartilhados, acrescentou.
“Grande parte desse compromisso da Alemanha será sobre agitar a bandeira, mas devemos nos lembrar que o simbolismo é importante, pois ajudará a atrair outros parceiros.”