O desembarque de brasileiros deportados dos Estados Unidos após relataram terem sido agredidos por agentes americanos durante voo de repatriação provocou um debate digital nas redes sociais. Aliados do governo Lula classificaram o episódio como um “perigo enorme” e uma “violação de direitos” por parte do governo de Donald Trump. Já parlamentares bolsonaristas descreveram segundo Luis Felipe Azevedo, do O Globo, o posicionamento da esquerda como uma “hipocrisia” e destacaram o número superior de deportações na gestão de Joe Biden, em comparação com o primeiro mandato do republicano.
Segundo o Estado de Minas, os brasileiros relataram que as agressões aconteceram no Panamá, durante a parada da aeronave no país centro-americano. Segundo eles, um dos motores apresentou problemas, o que causou atraso para que voltasse a operar. Durante esse período, os migrantes não receberam autorização para sair da aeronave, que enfrentou momentos em que o ar-condicionado permaneceu desligado.
Os brasileiros relataram, ainda, que algumas pessoas passaram mal, incluindo mulheres e crianças, e que enfrentarem dificuldade para ir ao banheiro, se alimentar ou beber água. Após os protestos para que agentes americanos permitissem que os passageiros deixassem a aeronave, acabaram gerando discussões, momento em que teriam ocorrido as agressões.
O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que a “hipocrisia da esquerda é algo absolutamente inerente à condição mental”. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) compartilhou uma montagem com reportagens que destacam que o uso de algemas — criticado pela gestão Lula—durante voo é uma política habitual para deportações dos EUA.
Em 2020, Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil não colocaria algemas em imigrantes deportados como o governo Trump fez com os brasileiros à época. Dois anos depois, quando Biden estava no segundo ano de gestão, um impasse diplomático entre o governo brasileiro e o americano foi instaurado após cidadãos deportados chegarem ao Brasil usando algemas.
O ex-presidente compartilhou uma postagem neste domingo em que questiona se a esquerda só “resolveu gritar ‘direitos humanos’ em 2025”.
No governo de Biden, entre 2021 e 2024, 6.499 brasileiros foram deportados, segundo a Polícia Federal. A maioria chegou em voos fretados e desembarcaram no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na região metropolitana de Minas Gerais.
Entre 2018 e 2020 — governo Trump — 4.966 brasileiros foram deportados.
Reação do governo Lula
O governo brasileiro criticou o que chamou de tentativa dos Estados Unidos de manter cidadãos brasileiros algemados durante o voo de deportação para o Brasil. Por orientação do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, a Polícia Federal recepcionou os brasileiros em Manaus e determinou que os representantes do governo norte-americano retirassem as algemas.
A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, classificou como “muito grave” o episódio, em entrevista à jornalistas ao recepcionar os brasileiros extraditados.
— A gente tinha numa mesma aeronave famílias, crianças, crianças com autismo, com algum tipo de deficiência, que passaram por situações muito graves — disse a ministra.
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou nas redes sociais que “a Constituição estabelece a dignidade da pessoa humana como princípio republicano basilar e a prevalência dos direitos humanos como um dos eixos das suas relações internacionais”.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que “o presidente Lula fez bem em determinar a retirada das algemas e correntes dos pés dos brasileiros deportados dos EUA”.
Já deputada federal Talíria Petrone (PSOL) se referiu ao episódio como absurdo e afirmou que Trump, é “um perigo enorme para o mundo”
Segundo o passageiro, que estava há seis anos nos Estados Unidos e foi preso há seis meses, por conta da situação, ele e os demais tomaram uma “atitude drástica”: abriram a porta de emergência e pediram socorro, quando a aeronave pousou no aeroporto de Manaus. “Eles agrediram a gente”, disse, enquanto mostrava uma marca no pescoço.
Itamaraty cobrará explicação do governo Trump
O Ministério das Relações Exteriores afirmou que pedirá explicações ao governo dos Estados Unidos sobre o tratamento “degradante” dado aos brasileiros deportados algemados. Neste sábado, o ministro Mauro Vieira se reuniu com o delegado Sávio Pinzón, superintendente interino da Polícia Federal no Amazonas, e com o major-brigadeiro Ramiro Pinheiro, comandante do 7º Comando Aéreo Regional da Força Aérea Brasileira (FAB).
“A reunião subsidiará pedido de explicações ao governo norte-americano sobre o tratamento degradante dispensado aos passageiros no voo”, afirmou o Palácio do Itamaraty nas redes sociais.
Retorno ao Brasil
O retorno de imigrantes ilegais ao Brasil ocorre com base em um acordo firmado com Washington em 2017, durante o governo de Michel Temer. O objetivo é viabilizar o repatriamento de pessoas que ingressaram ilegalmente nos EUA, foram processadas e não têm direito a recurso. O Itamaraty esclareceu que a vinda desses brasileiros, porém, não tem relação com as novas medidas migratórias de Trump.
Pelo acordo, as aeronaves trazem de volta quem já não tem mais como recorrer à Justiça americana. O objetivo é evitar que essas pessoas permaneçam em presídios. De forma geral, são pessoas detidas nos EUA por estarem em situação irregular. O governo brasileiro não aceita a inclusão, nos voos, daqueles com possibilidade de revisão de sentença.
Em nota, a Embaixada dos Estados Unidos afirmou que os cidadãos brasileiros do voo de repatriação estão sob custódia das autoridades brasileiras.