Governadores alinhados com Jair Bolsonaro (PL) e cotados como herdeiros de seu espólio político na eleição presidencial de 2026 superam os índices de aprovação e avaliação do presidente Lula da Silva (PT) em seus respectivos estados. São os casos de Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo, Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais, Ronaldo Caiado (União), em Goiás e Ratinho Júnior (PSD), no Paraná. O panorama é apontado em uma nova pesquisa Genial/Quaest, feita presencialmente entre 4 e 7 de abril e divulgada na quinta-feira.
A diferença entre a taxa de aprovação do governo petista e a da gestão estadual é maior em Goiás (37 pontos percentuais) e no Paraná (35 p.p.), mas também é significativa em São Paulo (12 p.p.) e Minas Gerais (10 p.p.).
À frente do estado mais populoso do país, Tarcísio de Freitas tem seu governo avaliado como positivo por 41% dos eleitores de São Paulo, enquanto 16% consideram que ele é negativo. Além disso, 62% aprovam sua gestão.
O governo Lula, por sua vez, registra no estado empate entre a aprovação (50%) e desaprovação (48%), na margem de erro, que é de 2,4 pontos percentuais no estado. A gestão federal é vista como positiva por 32% dos paulistas e negativa por outros 34%.
Com a inelegibilidade de Bolsonaro por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o posto de candidato da direita na próxima eleição à Presidência está em aberto. Entre os quatro governadores, Tarcísio é o mais próximo ao ex-mandatário, que já fez acenos para tentar levá-lo para o seu partido, o PL.
No governo Lula, o governador paulista é visto como um candidato mais forte do que os outros nomes da direita. Aliados do petista temem que a queda na popularidade registrada pelo presidente em pesquisas mais recentes incentive Tarcísio a entrar na corrida pelo Planalto em 2026.
O governador tem dito que seu plano é disputar a reeleição. Interlocutores de Lula avaliam, no entanto, que Tarcísio não perderá a chance de concorrer se o atual presidente tiver uma aprovação inferior a 40%. A última pesquisa Datafolha, a mais recente avaliação nacional divulgada pelos principais institutos, aponta a gestão Lula com 35% de índice ótimo ou bom.
Para Felipe Nunes, diretor da Quaest, o bom desempenho dos quatro governadores do campo da direita é resultado de uma combinação entre “identidade” e “gestão”.
— Governadores de direita em estados conservadores tendem a ter vida mais fácil pela identidade com as pautas e posicionamentos. A calcificação ajuda a explicar isso.
Estado decisivo
A taxa de aprovação de Tarcísio é a mesma alcançada por Zema, mas o governador mineiro tem índice de reprovação numericamente superior, de 31% — estatisticamente, trata-se de um empate técnico. No estado, tradicionalmente decisivo em pleitos presidenciais e onde Lula superou Bolsonaro por uma margem apertada em 2022, o petista é aprovado por 52% e alcança 34% de percepção positiva.
Zema tenta se equilibrar entre o bolsonarismo e a interlocução com o governo Lula, em meio à renegociação da dívida bilionária de Minas Gerais com a União. O governador também busca atrair um eleitorado mais ao centro, ao mesmo tempo que mantém acenos ao bolsonarismo. De acordo com aliados do mineiro, Zema não deve se prender às questões ideológicas e vai trabalhar para atingir o eleitor comum a partir de entregas do governo.
Para o cientista político José Álvaro Moisés, professor sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), o fato de governadores mais à direita no espectro político serem mais bem avaliados que Lula em seus estados é sintoma de um “problema estratégico do governo federal”:
— É evidente que esses governadores estão se apresentando como alternativas ao governo do PT. Eles estão desenhando o modo de administrar as políticas públicas, em particular na área da segurança pública, de modo a confrontar com o governo petista. Se o Planalto não perceber e não ajustar o seu desempenho, o resultado pode ser bem negativo para o Lula.
Apesar de o presidente ficar atrás dos aliados de Bolsonaro, o levantamento da Quaest também mostra, por outro lado, que o atual presidente atinge nos quatro estados índices de aprovação que superam suas intenções de voto locais na última eleição. Em São Paulo, o petista marcou 33% dos votos totais, universo que inclui brancos, nulos e abstenções, mas atualmente tem aprovação de metade do eleitorado.
Entre os governadores avaliados pela pesquisa, Caiado tem o melhor desempenho. Ele é aprovado por 86% dos eleitores goianos e sua gestão é avaliada como positiva por 70%. No estado, Lula atinge 49% de aprovação e 59% de desaprovação. Além disso, apenas 32% consideram o governo federal positivo.
Percepção de futuro
O resultado de Caiado reflete as percepções da população local sobre os rumos do estado. São 62% os que acham que o estado está “melhorando”, índice que é de 52% entre os paranaenses, e de 36% para mineiros e paulistas — em relação aos seus respectivos estados.
O governador de Goiás é filiado ao União Brasil, partido da base de Lula, mas ainda assim tem se movimentado de olho na eleição presidencial de 2026, quando o petista deve disputar a reeleição. Como mostrou O GLOBO, Caiado sondou marqueteiros e empresas de pesquisa. Nos últimos meses, o governador intensificou os acenos ao eleitorado de direita, numa tentativa de abocanhar o espólio do ex-presidente, com quem ainda carrega rusgas por desentendimentos durante a pandemia de Covid-19.
Em fevereiro, numa tentativa de reaproximação, Caiado marcou presença no ato pró-Bolsonaro na Avenida Paulista. No mês passado, viajou a Israel ao lado de Tarcísio para um encontro com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, numa contraposição a Lula, que comparou ataques de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto.
Cenário semelhante é observado no Paraná, também reduto do bolsonarismo. Enquanto o governo de Ratinho Júnior é aprovado por 79% e sua gestão tida como positiva por 59%, esses índices em relação ao terceiro mandato de Lula somam, respectivamente, 44% e 59%.
Ratinho Junior também integra um partido aliado do Planalto, o PSD. O presidente da legenda, Gilberto Kassab, já ventilou o nome do governador paranaense para a disputa de 2026, mas depois recuou e indicou que o plano deve ser postergado para 2030. Internamente, os resultados da pesquisa foram bem recebidos no governo de Ratinho Junior, que por ora sinaliza ter o interesse de “só pensar na gestão atual” e manter a performance de sua gestão em áreas como a educação, que é bem avaliada pela população do estado.