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Izolda Cela (PDT), governadora do Ceará e a governadora Regina Sousa do Piauí - Fotos: Reprodução
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domingo 24 de julho de 2022 às 16:13h

Governadoras sentem o machismo político após serem rejeitadas pelos seus partidos

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Na última semana, o PDT do Ceará decidiu, por 55 votos a 29, indicar o nome de Roberto Claudio para concorrer ao governo do Ceará. Para isso, o partido deixou de fora nada menos que a atual governadora, Izolda Cela (PDT).

Escolha similar ocorreu conforme Carlos Madeiro, do UOL, no Piauí, onde Regina Sousa foi preterida pelo PT, mesmo tendo assumido no fim de março o cargo de governadora. O PT resolveu lançar o nome do ex-secretário da Fazenda Rafael Fonteles.

Procuradas por meio de suas assessorias, nenhuma das duas quis falar com a coluna sobre o assunto.

Ao longo dos anos, as mulheres têm ganhado protagonismo na política. Mas, mesmo após uma mulher chegar à Presidência —Dilma Rousseff, em 2010— ainda persistem as dificuldades para alcançar os principais espaços de poder pelo país.

Nas eleições de 2018, somente uma mulher foi eleita para o Executivo estadual: a governadora Fátima Bezerra (PT), no Rio Grande do Norte, que será candidata à reeleição.

Já Izolda e Regina comandam estados graças às renúncias de Wellington Dias (PT) e Camilo Santana (PT), dos governos do Piauí e Ceará, já que eles devem tentar vagas no Senado.

Em 2020, resultado similar ocorreu nas grandes cidades, e apenas uma mulher venceu em capitais do país: Cinthia Ribeiro (PSDB), em Palmas.

“A vida da mulher no geral não é fácil, na política diria que é mais difícil ainda. A política é um ambiente em que, majoritariamente, os homens tomam decisões”, afirma a cientista política Luciana Santana, professora da Ufal (Universidade Federal de Alagoas).

Para ela, o maior obstáculo para adquirir protagonismo está nos partidos, que “colocam muito mais obstáculos” para as mulheres terem visibilidade. “Eles são os grandes desmotivadores das candidaturas, e o que aconteceu no Ceará e no Piauí deixa isso muito explícito”, diz.

Mulheres são chamadas para cumprir uma tabela, ou seja, não dá um reconhecimento da mulher de frente nesse processo.”Luciana Santana, da Ufal

Santana diz que colocar mulheres como vice é uma das formas encontradas pelos partidos para driblar a determinação do STF (Supremo Tribunal Federal) de investir pelo menos 30% dos recursos do fundo partidário em candidaturas femininas.

“Isso aconteceu muito em 2020, e nessa eleição teremos muitas mulheres condenadas a serem apenas vice —isso quando são convidadas. É muito difícil, mas a gente precisa de mais mulheres no Legislativo para mudar essa realidade”, afirma.

Machismo estrutural

Para a socióloga Monalisa Torres, da Uece (Universidade Estadual do Ceará), a decisão recente do PDT do Ceará remete ao que seria o machismo estrutural.

“Vemos nesse caso como ele se comporta. Tínhamos uma governadora com direito à reeleição, com apoio declarado de partidos, de figuras importantes, de prefeituras, mas dentro do próprio partido foi preterida”, diz.

No diretório estadual do PDT, só 11 mulheres cearenses tiveram direito a voto, das quais oito votaram em Roberto Claudio.

A Izolda é reconhecidamente um quadro superqualificado do governo, integrante do grupo político dos Ferreira Gomes. Foi ela quem montou, planejou e organizou a principal política governo: da educação do Ceará. A forma como foi preterida remete ao machismo estrutural.”Monalisa Torres, da UFC

Ainda segundo Carlos Madeiro, do UOL,  Ela concorda que o problema nasce nos partidos políticos, que dentro de suas instituições deixam de lado as mulheres.

“Quantas mulheres que a gente conhece ocupam cargos de chefia dentro de um partido? Esses cargos são aqueles que têm o peso, voz muito maior de deliberação das listas partidárias”, diz.

Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), dos 32 partidos registrados no país, só seis possuem mulheres do comando: PT, PRTB, PCdoB, Rede, PMB e Podemos.

Além do machismo, ela ressalta questões locais que pesaram nas decisões, especialmente no Ceará.

“No caso aqui tem questões nacionais que contaminaram as eleições em âmbito local, tem a ver com a necessidade de Ciro de ter um palanque fiel à sua candidatura”, afirma.

Papéis não naturais

A cientista política Olívia Perez, da UFPI (Universidade Federal do Piauí), afirma que, dentro dos espaços de relações de poder, a mulher sempre teve uma participação minoritária —o que traz consigo uma série de estereótipos.

“Esses não são papéis naturais das mulheres; são construções sociais que hierarquizam os grupos de relações de poder. Isso se replica em todas as instituições. O machismo é usado para legitimar essas hierarquias. O machismo leva a crer que as mulheres são menos capacitadas”, diz.

Para ela, a própria vida das mulheres impõe diversas barreiras para que cresçam e atinjam o poder de tomar decisões coletivas.

“Um exemplo é ela não ter tempo porque fica cuidando da casa e dos assuntos relacionados ao cuidado. Mesmo quando atravessa essa barreira, a política já é ocupada por homens em geral, brancos, velhos, mais ricos e heterossexuais”, afirma.

Para ela, mesmo preterida da disputa neste ano, a história de vida de Regina Sousa (negra, filha de agricultor e ex-quebradeira de coco) deve ser celebrada por “romper essas barreiras” no Piauí.

Não acho que o exemplo do Piauí deve ser usado como exemplo de impedimento às mulheres, embora aqui também isso aconteça. Mas Regina é um exemplo de como as mulheres ocupam brilhantemente esse lugar.”Olivia Perez, da UFPI

Ela cita que a governadora já sofreu com vários tipos de preconceito por ser mulher negra e chefiar o estado. “Ela já foi vítima de crimes de ódio”, afirma.

“Vemos os casos de duas mulheres [Regina e Izolda] competentes como governadoras que mostram que vivemos em uma sociedade machista e que confere pouco espaço às mulheres.”

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