O processo de sondagem para a instalação da Ponte Salvador-Itaparica avançou nesta semana na Baía de Todos-os-Santos. Custeado pelo governo da Bahia, o consórcio chinês responsável pela obra já se encontra avaliando o solo em águas profundas, em uma análise que deve ser encerrada ainda em 2024.
O governador Jerônimo Rodrigues (PT) fez um esforço político para iniciar a sondagem e colocou dinheiro do Estado, enquanto a gestão estadual e os líderes das empresas ainda buscam segundo reportagem de Lula Bonfim, do jornal A Tarde, um novo acordo financeiro para tocar a maior dos últimos tempos na Bahia.
O problema é que, na avaliação de interlocutores próximos ao Palácio de Ondina ouvidos pelo Portal A TARDE, os chineses estariam dificultando o avanço das conversas. Liderado no Brasil pelo empresário Cláudio Villas Boas, o consórcio estaria cobrando agora do governo baiano o valor de R$ 13 bilhões para construir a ponte, mudança que seria estabelecida em um equilíbrio econômico do contrato.
O incômodo da gestão Jerônimo, porém, é que esse valor é aproximadamente o dobro dos R$ 7 bilhões contratados inicialmente com as empresas chinesas.
Segundo o consórcio, o valor sofreu forte impacto da inflação durante o período de enfrentamento à pandemia de Covid-19, necessitando um ajuste grande para a construção da mesma obra. Já o governo Jerônimo acredita que, mesmo com o efeito pandêmico, esse reajuste não deveria ser tão alto e os chineses poderiam estar querendo uma vantagem indevida, ao custo dos cofres públicos estaduais.
Com base em índices inflacionários oficiais, a gestão estadual avalia que o novo valor do contrato ficaria na faixa dos R$ 10 bilhões, consideravelmente abaixo daquele que está sendo pedido por Villas Boas nas negociações.
Insatisfação
O incômodo de Jerônimo já vem sido percebido ainda de acordo com Lula Bonfim, do A Tarde, nas últimas declarações dele sobre a ponte. No último dia 18 de junho, o petista declarou estar “inquieto” diante do ritmo lento das conversas com o consórcio e deixou no ar a possibilidade de relicitar a ponte Salvador-Itaparica.
“Consultarei sempre, antes de fazer qualquer iniciativa, o TCE [Tribunal de Contas do Estado]. Não farei nada descoberto. Mas terei coragem. Isso vocês podem ter certeza: eu terei coragem de tomar decisão que for precisa, para que a gente possa fazer acontecer a ponte”, disse Jerônimo, na oportunidade.
A solução seria a mesma da realizada com o VLT de Salvador. Naquele caso, com o suporte jurídico da Procuradoria Geral do Estado (PGE) e do TCE, Jerônimo decidiu cancelar o contrato com os chineses da Metrogreen Skyrail, que pedia um grande aumento de valor para instalar o monotrilho no Subúrbio, e anunciou uma nova licitação para o modal.
A ideia deu certo e o governador já deu ordem de serviço para a construção do VLT de Salvador, agora com um projeto maior e com possibilidade de mais impacto no dia-a-dia da cidade, com um traçado muito além do Subúrbio Ferroviário.
“Eu estou disposto a fazer isso com a ponte. Não tenho problema nenhum. A Bahia me elegeu para isso, para eu tomar decisões, tomar decisões acertadas. Eu não me furtarei à decisão que for tomada, depois de esgotadas as negociações com o consórcio chinês, no diálogo com o TCE e, naturalmente, minha equipe técnica”, declarou o governador.
Essa possibilidade, entretanto, tem sido avaliada com cuidado por Jerônimo, que não quer aumentar o descrédito da obra, sonhada há décadas no estado, mas que nunca saiu do papel. Para o governador, o cancelamento do contrato e o lançamento de um novo processo licitatório só deve ser realizado em último caso.
Ainda apostando no contrato atual, Jerônimo tem pedido ao presidente Lula da Silva (PT) e ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) para que pressionem o governo chinês a intervir nas negociações. Brasil e China possuem boas relações políticas e o governador acredita na boa-vontade das lideranças políticas chinesas para encontrar uma solução.