De olho nas eleições municipais do ano que vem, o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), encontrou uma maneira de realizar seus planos políticos sem se indispor com o seu maior aliado e correligionário, o senador Renan Calheiros. Desde janeiro deste ano, a sua filha e atual secretária de estado da Primeira Infância, Paula Dantas, assumiu a presidência do diretório do PSB — partido que tem abrigado políticos que contam com o apoio do governador, mas são desafetos de Renan, diz Luísa Marzullo, do O Globo.
De Renan Calheiros a Romero Jucá: Decisão de Toffoli no STF abre brecha para livrar políticos alvos da Lava-Jato
Ancelmo Gois: Prefeito de Maceió processa Renan Calheiros após comentário sobre ‘propensão a desviar recursos’
Até o momento, o PSB tem 11 pré-candidatos lançados e especulações nos demais 102 municípios que compõem o estado. Entre as confirmações, há três recém-filiados à sigla, todos avessos ao senador e que disputarão contra concorrentes do MDB, partido de ambos os políticos alagoanos. São eles: Paulo Roberto, em Satuba; Bruno Teixeira, em Marimbondo; e Wallyson Firmo, em Mata Grande.
Apesar de ainda não ter oficializado a sua pré-candidatura, o ex-secretário de Educação Marcius Beltrão representa o caso mais marcante desta disputa. Entre janeiro e outubro, o então titular da pasta foi alvo de críticas por parte de Renan Calheiros, que defendia uma renovação na área.
Beltrão ingressou no PSB em maio deste ano e já deu claros indícios de que deseja concorrer à prefeitura de Penedo, cidade que já governou por cinco mandatos. O impasse deste plano é o emedebista Reinaldo Lopes, atual prefeito que busca a reeleição.
A expectativa é que Dantas não se comprometa com nenhum dos dois, para não desgastar suas alianças. Mesmo tendo saído derrotado do primeiro escalão, Beltrão é influente em relação ao governo do estado. Tanto que conseguiu emplacar sua filha, Alice Beltrão, na Secretaria de Estado do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Sedics).
Em outros municípios do estado, o clima também é de enfrentamento entre o grupo político que está no poder e os novatos do PSB. Em Marimbondo, a atual prefeita emedebista, Leopoldina Amorim, deseja lançar o seu sobrinho, Jorjão, e conta com o apoio explícito de Renan. O partido da filha do governador, contudo, já lançou Bruno Teixeira, irmão do secretário da Ressocialização e Inclusão Social, Diogo Teixeira.
Em Mata Grande, o contexto se repete. Aliado de Renan, o atual prefeito Edivaldo Mandu (MDB) irá indicar o seu sucessor, que deve enfrentar um ex-aliado nas urnas. Pré-candidato do PSB, o vereador Wallyson Firmo já esteve no mesmo grupo de Mandu.
No ano passado, no entanto, os dois romperam, e o pessebista chegou a ser expulso da sigla em que, à época, eram filiados — o PTB. A crise teve início quando Firmo deixou a base governista e passou a criticar a gestão publicamente.
Imagem poupada
Além de evitar que Dantas se comprometa com mais de um político nas cidades, a manobra tem ajudado na preservação da imagem do governo na pré-campanha de Maceió, capital do estado. Atualmente, a cidade está sob o comando do seu opositor João Henrique Caldas (PL), o JHC. Favorito à reeleição, o prefeito mantém um confronto constante, mas pacífico, com o governo do estado.
O exemplo mais recente ocorreu nesta semana, quando o governador pressionou JHC para que o patrocínio ao Festival Bumba Meu Boi fosse mantido. O prefeito havia cancelado as festividades, que ocorrem no próximo dia 20, mas voltou atrás após a organização do evento ter se reunido com Dantas.
Os ataques pessoais ficam por conta de sua filha, que preside localmente o ex-partido de João Henrique Caldas. A saída do prefeito do PSB ocorreu entre o primeiro e segundo turno das eleições do ano passado. A migração para o PL ocorreu por uma divergência de apoios: a sigla de Paula aderiu à campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto o prefeito declarou voto no ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL).
A saída de JHC representou uma grande derrota para o PSB, já que o prefeito representava o quadro mais importante do estado. Neste cenário, a posse de Paula Dantas teve o intuito de promover uma reestruturação visando as eleições municipais do ano que vem.
As mágoas da sigla com o prefeito, pelo visto, ainda não cessaram. Em outubro, o partido veiculou, durante uma inserção partidária na televisão, críticas pessoais a JHC. Por decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AL), o conteúdo foi retirado do ar.
Pela legislação, o espaço televiso em ano não eleitoral tem como propósito promover filiações, sem cunho eleitoral. O desembargador Sérgio de Abreu de Brito entendeu que as mensagens tinham o objetivo de desqualificar o adversário político para o pleito de 2024.