Um dia depois de aprovar a criação de uma federação com o PSDB, a Cidadania teve sua primeira e mais importante baixa para as eleições de 2022: o governador da Paraíba, João Azevêdo, confirmou neste último domingo (20) que irá deixar o partido para se filiar ao PSB. As informações são da Folha de S. Paulo.
A parceria do Cidadania com o PSDB foi aprovada neste sábado (19) em reunião do diretório nacional do partido. Caso também seja aprovada pelos tucanos, os dois partidos terão atuação conjunta e serão parceiros em nível federal, dos estados e municípios nos próximos quatro anos.
A filiação de João Azevêdo ao PSB vai acontecer na próxima quinta-feira (24), em João Pessoa. Pesou na decisão o fato de o PSDB ter o governador de São Paulo, João Doria, como pré-candidato ao Planalto. Azevêdo tem indicado que vai apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em outubro.
Os tucanos também são oposição ao governo Azevêdo na Paraíba e têm como pré-candidato ao governo o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), filho do ex-governador Cássio Cunha Lima.
“O governador já vinha sinalizando que, se fosse aprovada a federação com o PSDB, ele não teria condições de permanecer no Cidadania”, afirma o presidente estadual do partido, Ronaldo Guerra.
A filiação de Azevêdo ao PSB consolida o retorno do governador ao seu partido após pouco mais de dois anos. Ele havia deixado a legenda em dezembro de 2019 após romper o com seu então padrinho político, o ex-governador Ricardo Coutinho, hoje filiado ao PT.
O antagonismo entre Azevêdo e Coutinho cria mais um obstáculo nas conversas entre PSB e PT para a formação de uma federação que também incluiria PV e PC do B.
As negociações se arrastam há semanas e esfriaram nos últimos dias após o acirramento do imbróglio em torno da definição do candidato do grupo ao governo São Paulo, pleiteada pelo ex-governador Márcio França (PSB) e pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
“[A filiação de Azevêdo] simboliza uma ação do PSB no sentido de rejeitar a federação porque a Paraíba não estava na mesa de negociação. Talvez seja simplesmente mais uma tentativa do PSB de criar obstáculos”, afirma o ex-governador Ricardo Coutinho.
Nesta segunda-feira (21), um ato em João Pessoa lançará a pré-candidatura de Ricardo Coutinho (PT) ao Senado e confirmará o apoio ao senador Veneziano Vital do Rego (MDB), que no mesmo ato lançará o seu nome como candidato ao governo do estado em oposição a Azevêdo.
Coutinho defende a aliança com o MDB e diz esse ser o “caminho natural das forças progressistas” da Paraíba e destaca que Azevêdo tem aliança local com a União Brasil e conversas em curso com PP para a formação da sua chapa.
“A opção do governador pelo PSB me parece uma tentativa de iludir a população no que se refere ao apoio ao presidente Lula. Não é afinidade ideológica, é uma pegadinha”, diz o ex-governador, que tem relação próxima com o ex-presidente petista.
A filiação de Coutinho ao PT rachou o partido da Paraíba. Uma parcela da legenda alinhou-se ao ex-governador e defende uma composição com o MDB.
Outra parte é aliada do governador João Azevêdo e defende a sua reeleição em outubro. Esse segmento do partido faz parte da gestão na Paraíba e ocupa a secretaria estadual de Agricultura Familiar e Desenvolvimento do Semiárido. Neste domingo, a direção local do PT divulgou um manifesto com mais de 100 assinaturas em favor da aliança entre João Azevêdo e Lula.
Para Ronaldo Guerra, aliado do governador, o PSB da Paraíba não será um entrave na formação de uma federação com o PT, mas caberá aos petistas decidirem se apoiarão a reeleição de Azevêdo em outubro.
“Estimamos que cerca de 75% do PT na Paraíba apoie o governador. Mas isso é um problema interno do partido, a bola está com eles”, afirma. Coutinho, pelo contrário, diz que a maioria dos petistas está na oposição ao governador.
Filiado ao Cidadania desde janeiro de 2020, Azevêdo ajudou a robustecer o partido na Paraíba. Na eleição municipal, a legenda saiu de 1 para 46 prefeitos no estado e tinha como meta eleger ao menos dois deputados federais. A tendência é que seu grupo político o acompanhe na mudança para o PSB.
Para o Cidadania, contudo, a federação com o PSDB é uma estratégia de sobrevivência, já que o partido é um dos que estão ameaçados pela cláusula de barreira.
Caso não atinja a meta de ao menos 2% dos votos válidos nacionais para a Câmara ou a eleição de pelo menos 11 deputados federais em nove estados, a sigla perderá tempo de televisão e acesso a recursos do fundo partidário.