Em 12 de março de 2020, o deputado federal Vicentinho Júnior (PL-TO) usou a tribuna da Câmara para dizer que estava sendo vítima de perseguição por parte de seu adversário político, o governador Mauro Carlesse (PSL). À época circulou um dossiê que incriminava o parlamentar, que então virou alvo de uma investigação da Polícia Civil do Estado. O congressista jurava ser vítima de uma armação e que as acusações eram falsas. Um ano e meio depois, o caso do deputado foi um dos motivos que levaram ao afastamento do governador por 180 dias por determinação do ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A revista Veja informa que teve acesso ao relatório da Polícia Federal sobre a investigação contra Carlesse. Os investigadores apontam que a cúpula do governo montou uma “central clandestina de grampos” na Polícia Civil do Tocantins e que há indícios de que o governador estava por trás do dossiê falso contra o deputado.
“Cheguei a fazer denúncias sobre as suspeitas de que meu telefone tinha sido grampeado e que havia grampos em minha residência e nos escritórios”, diz Vicentinho Júnior.
O relatório da PF aponta a existência de uma organização criminosa, sob o comando do Carlesse e de seu sobrinho, secretário de Parcerias e Investimentos, Claudinei Quaresemin. O ministro Campbell afastou não apenas o governador, mas também secretários — incluindo o da Segurança Pública, Cristiano Barbosa — e a cúpula da Polícia Civil do Estado.
A investigação da PF mostra que o grupo atuou para desviar 44,8 milhões de reais da área da saúde e aparelhar a polícia local para evitar investigações contra aliados e perseguir adversários políticos. Os arapongas de Carlesse também armaram um flagrante de cocaína contra um inimigo do governador, como mostrou a publicação nesta semana.
Até surgir no círculo da alta sociedade tocantinense e entrar para a política local, Carlesse se apresentava como empresário de São Paulo. Em 2011 virou presidente do sindicato rural de Gurupi, no interior do Tocantins; no ano seguinte, concorreu à prefeitura, mas perdeu. Em 2014 ele foi eleito deputado estadual e em 2017 conquistou a presidência da Assembleia Legislativa. Estava à frente do cargo quando o então governador Marcelo Miranda (MDB) e a vice Cláudia Lelis (PV) foram cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em março de 2018, e então assumiu o governo interinamente. Concorreu ao governo naquele ano e, em outubro, foi eleito governador. Em 2019 Carlesse migrou para o PSL e assumiu a presidência do diretório estadual, de onde segue despachando.
O advogado do governador Carlesse, Juvenal Klayber, afirmou que a defesa só teve acesso aos autos do processo no STJ na quinta-feira da semana passada. “Vamos analisar os autos, com mais de 7 mil folhas, para depois nos pronunciarmos”, disse o advogado a Veja. Carlesse não quis comentar o processo.