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segunda-feira 5 de fevereiro de 2024 às 12:46h

Gleisi Hoffmann: ‘R$ 53 bilhões em emendas parlamentares é um ultraje’

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Presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) afirmou em entrevista ao jornal O Globo, que os R$ 53 bilhões aprovados pelo Congresso para as emendas parlamentares são um “ultraje” e defendeu que a sociedade pressione o Parlamento a conter o avanço na gestão do Orçamento.

O presidente Lula da Silva (PT) vetou parte do valor, o que gerou reclamações entre congressistas. Antagonista do ministro Fernando Haddad (Fazenda) no debate econômico, ela reiterou que a meta a ser perseguida seja de crescimento econômico, não de déficit zero. Para a dirigente, os números terão impacto no discurso eleitoral do PT, que deseja aumentar a quantidade de prefeituras e vai manter o embate acirrado com o bolsonarismo, já pensando em 2026.

O Centrão faz parte do governo, mas já recebeu críticas de integrantes da base, inclusive da senhora. O que acha da atuação do bloco?

Achei um ultraje o valor aprovado para emendas parlamentares no Orçamento, R$ 53 bilhões. É quase o total para investimento. Não sou contra as emendas, mas elas não podem substituir (o papel do governo). Não há um planejamento para o país na execução desses recursos, que seguem interesses dos parlamentares. Aí, o presidente (Lula) veta R$ 5,6 bilhões, e o pessoal do Congresso fica bravo, chateado. Não pode ser assim. Tudo tem limite. Temos que conservar o que é papel constitucional de cada Poder.

O presidente Lula fez críticas na campanha de 2022 ao orçamento secreto, que ficava na mão dos parlamentares e chegou a ter dotação de R$ 16 bilhões em um ano. As verbas aos congressistas, no entanto, seguem crescendo. Faltou ao governo atuar de maneira mais firme para combater esse valor de emendas em 2024?

Se tivéssemos maioria no Congresso, teríamos conseguido evitar esse crescimento exorbitante. Infelizmente, não temos uma correlação de forças para isso. Precisamos que a sociedade nos ajude, para não deixar o Legislativo avançar desse jeito numa situação que não é de sua responsabilidade constitucional.

O PT vai ter candidatura própria às presidências da Câmara e do Senado ou fará uma composição?

É cedo para falar, mas não vamos ficar como espectadores. Faremos a discussão no PT e com os partidos do nosso campo para ver o caminho.

A senhora vê para 2026 a manutenção dessa frente ampla de partidos que apoiam o governo?

O Lula tem que ser nosso candidato à reeleição. Não tenho dúvida. Está na resolução do PT. E nossa missão tem que ser fazer com que essa frente permaneça. Ela é totalmente expressa na formação do governo, na condução da economia e no relacionamento com o Congresso.

O presidente do MDB disse que a participação numa aliança com Lula não está garantida.

Cada partido faz o seu cálculo político e não é com tanta antecedência que eles se manifestam. Não vejo outro quadro que não seja a gente contra a extrema direita. Não tem nenhuma liderança do centro, da centro-direita ou da direita clássica com condições de fazer essa disputa. Temos o dever de não deixar a extrema direita voltar. Não estamos falando de um embate com a direita normal, em que você perde e prepara a oposição. O presidente também tem que demarcar, como já tem feito em muitas questões que são importantes para mostrar a diferença com o bolsonarismo. O Bolsonaro tem muita força e vai colocar uma candidatura e o peso político que ele tem.

Há a avaliação de que o governo investe na polarização para retroalimentar a disputa com o bolsonarismo. Concorda?

Se ficarmos quietos, a extrema direita vem para cima e vai ganhar terreno. Estamos quase numa guerra com a extrema direita. Se nos calarmos, quem vai fazer o embate? Não vai ser a direita. Prefiro o enfrentamento. Eles estavam com uma Gestapo para investigar as pessoas (em referência à suspeita de um esquema de espionagem ilegal no governo de Jair Bolsonaro).

Integrantes da cúpula permaneceram no governo Lula, foram citados nas investigações da PF sobre a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e só depois foram exonerados…

A agência estava contaminada. O presidente fez muito bem de tirar essas pessoas de lá. A Abin precisa de uma grande reformulação.

Por que o presidente, após um ano no governo, não conseguiu expandir a popularidade em relação à votação de 2022?

Com um ano, é pouco, muita coisa ainda vai dar resultado. Os investimentos que foram retomados vão começar a ter efeito agora. Mas temos que explicar mais a diferença dos projetos. Falta um processo de disputa política.

O ministro Fernando Haddad disse que petistas citaram dados de melhora da economia sem falar dele. A senhora, que publicou essas informações, se sentiu atingida?

Não. Tivemos avanços importantes na economia, como o crescimento de 3% do PIB e a inflação controlada. Isso não quer dizer que a gente não tenha preocupações sobre a condução de alguns aspectos da economia. É preciso entrar em um ciclo virtuoso e discutir a meta de crescimento. Tem que ser 4% em 2024.

A política de austeridade do Haddad teve importância no crescimento?

Uma parte considerável do crescimento, além do agronegócio, foi em razão da PEC da Transição, que nos permitiu retomar os programas sociais e colocar o Estado de novo como um agente importante da economia. O aumento real do salário mínimo foi relevante. Com isso, teve dinheiro na economia, o que faz o PIB crescer.

Mas é possível chegar a 4% de crescimento com déficit zero?

O déficit vai ter que ser analisado no primeiro bimestre. O presidente Lula disse que não permitirá contingenciamento dos investimentos. Isso é fundamental para não travar a economia. A meta que nós temos que buscar é a do crescimento econômico. Já defendi que não tínhamos que cravar a meta fiscal zero.

austericídio citado na resolução do PT pode prejudicar o desempenho na eleição municipal?

Não estamos chamando a política do ministro Fernando Haddad de austericídio. Foi uma fala em tese. As eleições municipais não estão ligadas só à política fiscal. Há um conjunto de fatores. Mas é óbvio que o desempenho do nosso campo político, não só do PT, vai ser melhor se os resultados da economia forem melhores.

Já está definida a participação do presidente na eleição?

Não conversamos com ele ainda. Sabemos dos compromissos com os partidos, mas não gostaríamos que o processo eleitoral entrasse na negociação de apoio dos partidos da base aqui (em Brasília). Já tem a participação no governo e a liberação de recursos. Não é justo que esses partidos coloquem também à mesa as eleições municipais.

Em 2015, quando deixou o PT, a ex-ministra Marta Suplicy disse que o partido protagonizou os maiores escândalos de corrupção da história. Há incômodo em recebê-la de volta?

Foi um momento infeliz da Marta. Mas ela tem uma história de luta, de convivência partidária e militância. Depois, ela reviu muito a forma de atuar na política, o que a credencia a voltar.

O ex-ministro José Dirceu, condenado no mensalão, anunciou que está de volta ao debate político. O que achou?

Ele nunca saiu. O José Dirceu é um ser político. Não vejo problema. Ele tem direito de fazer o debate, como qualquer outro militante do PT, mas isso não quer dizer que ele expresse as posições do PT.

A senhora defendeu a escolha do ex-ministro Guido Mantega para a Vale. O presidente queria colocá-lo na empresa?

Nunca conversei com o presidente sobre isso. Eu fiz uma defesa do Mantega, seja para a Vale ou para qualquer outra posição de governo ou de empresa, pelas qualidades que ele tem.

Mas não é uma interferência em uma empresa privada?

Mesmo privatizada, a Vale é estratégica para o país. O governo mantém uma participação no conselho, por meio da Previ.

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