Caberá à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a escolha do comando da Caixa e do Banco do Brasil. Assessores do presidente diplomado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmam de acordo com Alexa Salomão e Julio Wiziack, da Folha, que ambas as instituições estarão sob sua influência como forma de compensá-la por não assumir um ministério ou qualquer outro cargo no governo. Gleisi, que continuará no comando do partido, faz questão de elevar a participação feminina no governo eleito e defende mulheres para a presidência dos dois bancos públicos.
A demora na definição dos nomes, no entanto, se deve à dificuldade para selecionar executivas ligadas ao PT para os postos. A ex-presidente da Caixa Maria Fernanda Coelho era dada como certa para chefiar novamente a instituição, mas ela foi anunciada nesta quarta-feira (28) como secretária-executiva da Secretaria Executiva da Presidência da República.
Maria Fernanda comandou a Caixa durante o segundo mandato de Lula. Sob sua gestão, houve o escândalo do Banco PanAmericano, de Silvio Santos. À época, o braço de investimento da Caixa comprou a participação de Silvio no banco. Posteriormente, a Caixa saiu do negócio, vendendo sua fatia para o BTG. A executiva foi indiciada pela Polícia Federal por gestão temerária no caso junto com outros oito dirigentes do banco.
No governo Dilma Rousseff (PT), Maria Fernanda foi ministra do Desenvolvimento Agrário.
Gleisi busca colocar executivas nos quadros internos das duas instituições e até identificou algumas candidatas, mas boa parte delas é bolsonarista ou ligada a apoiadores do atual governo. A atual vice-presidente de Governo da Caixa, Tatiana Tomé de Oliveira, está entre as mencionadas. Funcionária de carreira, ela foi alçada a essa posição -que exige contato direto com a Presidência da República– durante a gestão Bolsonaro. Atua no banco desde 2003. Começou na área de habitação e governo no primeiro mandato de Lula. Depois, passou para operações de repasse do Orçamento Geral da União a entes públicos e privados.
Para o BB, as cotadas são Taciana Medeiros, ex-administradora da Petros, o bilionário fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, e a executiva do BB Previdência, Ana Cristina de Vasconcelos. Gleisi também considera a presidente da BrasilPrev, Ângela Beatriz de Assis. A senadora Kátia Abreu (PP-TO) pleiteou a presidência do BB, mas foi oferecida a ela a diretoria de crédito agrícola –que ela refutou, segundo petistas que participaram das conversas. O que pesou contra a senadora, segundo relatos, foi o fato de ela pertencer ao Progressistas, inicialmente o partido de Bolsonaro e que, depois, integrou sua base de apoio.
Caixa e BB devem funcionar como pilares do governo Lula 3. O primeiro, como braço executor das políticas públicas, especialmente voltadas aos mais vulneráveis; o segundo, para crédito destinado ao agronegócio, que deve continuar como motor das exportações nos próximos anos. Ambas as instituições devem ampliar o crédito, especialmente para os empreendedores -que contarão com fundos de avais abastecidos com garantias da União. Esses recursos vão lastrear empréstimos e os tomadores arcarão com uma taxa, que vai retroalimentar o mecanismo.
Ao definir o comando nesses bancos, Gleisi passará a exercer influência na gestão. No passado, os dirigentes sempre foram ligados ao partido. No arranjo avaliado por Lula na definição dos ministérios, os dois bancos continuam ligados ao Ministério da Fazenda.
Cogitou-se a possibilidade de que os bancos fossem transferidos para o Planejamento, forma de agradar à senadora Simone Tebet (MDB-MS), que aceitou a chefia da pasta. No entanto, pressões internas do PT esvaziaram esse plano.