Presidente do PT e uma das pessoas mais próximas de Lula, Gleisi Hoffmann defende a composição com partidos do centrão para evitar que o governo passe por novos “solavancos” em votações no Congresso Nacional. Encara isso como um movimento natural da política.
Em entrevista à coluna de Bela Megale, no jornal O Globo, a deputada federal destaca que seu partido não gostaria de perder espaço no governo, mas garante que o “PT não faltará a Lula” se precisar cortar na própria carne para ampliar a governabilidade.
Gleisi diz ainda que tem disposição em concorrer à vaga de senadora pelo Paraná se Sergio Moro (União-PR) for cassado pela Justiça Eleitoral.
Além da deputada, o ex-governador Roberto Requião e o líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu, querem entrar na disputa. “As pessoas me veem como a candidatura mais natural, porque fui senadora, já fiz a disputa lá e fui a deputada mais votada do partido no Estado. Na política, tem sempre conversa e espaço para todo mundo”, disse a presidente do PT.
Leia abaixo a entrevista:
O PT está disposto a cortar na própria carne para abrir espaço para o centrão nos ministérios do governo?
O PT já fez um esforço grande na composição de ministérios. Teve gente que disse que o PT ficou com muitas pastas, mas não é verdade. O PT é grande, é o partido do presidente da República e tem a responsabilidade de sustentar a aliança que o elegeu. Mas o PT tem a compreensão do que significa ter uma composição política. Não gostaríamos de perder espaço no governo, porém, se isso for necessário e importante para a governabilidade, o PT não faltará ao presidente.
A senhora avalia que Lula deve blindar as ministras mulheres, que comandam 11 pastas das 37 da Esplanada?
Precisamos ter base no Congresso. Gostaria que a gente tivesse eleito metade e mais um dos parlamentares, o que não aconteceu. Temos uns 130, 140, no máximo. O governo não pode viver de solavanco, a cada projeto ter que ficar ali, negociando. Pode não ser uma base permanente para aprovar um Projeto de Emenda Constitucional (PEC), mas para aprovar projetos importantes. Isso necessita negociação. A composição que a gente teve no primeiro momento não deu conta de garantir o apoio necessário. Esse é um aspecto matemático da política. Agora, o presidente sabe que tem o aspecto simbólico e sempre primou por isso.
Há a preocupação de que ministros que representam as bandeiras defendidas pelo PT percam espaço na reforma?
Se tem alguém que tem compromisso com a diversidade e que exerce e já exerceu o poder é Lula. Não teve nenhum outro líder político com o compromisso dele. Às vezes, me parece que cobram exacerbadamente do Lula uma entrega que nenhum outro faz. Não tenho dúvida de que ele saberá conciliar muito bem essa necessidade matemática e simbólica da política.
Qual sua disposição em concorrer ao Senado, se Sergio Moro for cassado?
Estou à disposição para fazer a disputa, mas a gente tem que ver o que acontecerá, não podemos antecipar. O processo está no Tribunal Regional Eleitoral e cabe recurso para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Não sei se o TSE vai marcar uma nova eleição. Se for como no caso da (senadora cassada) Selma Arruda, essa probabilidade é grande.
Outros nomes do PT, como o ex-governador Requião e o líder do partido na Câmara, Zeca Dirceu, também querem disputar esse posto.
Como disse, tenho disposição, mas isso a gente vai conversar dentro do PT, não vamos brigar por conta disso. Vamos achar uma solução.
A senhora abriria mão da disputa para Zeca ou Requião?
Acho que a maioria do partido não aceitaria isso, mas vamos conversar. Não tem porque eu sair numa disputa com Zeca e Requião. As pessoas me veem como a candidatura mais natural, porque já fui senadora, já fiz a disputa no Paraná e fui a deputada mais votada do partido no Estado. Na política, tem sempre conversa e espaço para todo mundo.