Julimar Alves da Silva Filho assinou parecer dando aval para convênio da estatal com prefeitura de Vitorino Freire (MA); ministro das Comunicações, Juscelino Filho, usou a obra para beneficiar a própria fazenda.
O gerente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) no Maranhão Julimar Alves da Silva Filho foi afastado do cargo após ser acusado de receber propina de um conhecido de longa de data do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, mas ainda continua conforme reportagem de Daniel Weterman, Vinícius Valfré, Julia Affonso e Tacio Lorran, do Estadão, recebendo um salário da estatal, pago com dinheiro público.
Julimar é titular da Gerência Regional de Empreendimentos da Codevasf no Maranhão e assinou um parecer, no dia 18 de agosto de 2021, dando aval para um convênio da empresa com a prefeitura de Vitorino Freire (MA). O dinheiro foi parar em uma obra que beneficiou diretamente o ministro das Comunicações. Juscelino enviou R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada que passa em frente a fazendas da própria família, e onde o ministro construiu um heliponto e uma pista de pouso particular.
Segundo a Polícia Federal, Julimar recebeu R$ 250 mil em propina da empresa Construservice, investigada por fraudar licitações no Maranhão. A empresa foi contratada para asfaltar a estrada que beneficia o ministro. O verdadeiro sócio da empresa, de acordo com a PF, é o empresário Eduardo Costa, chamado de “Eduardo Imperador”. Juscelino disse que ele é seu conhecido “há mais de 20 anos”.
A Codevasf confirmou no Estadão que afastou o servidor, mas ele continua recebendo salário. Julimar está proibido de entrar na sede da empresa. A última remuneração disponível no site da companhia mostra que o acusado teve um salário bruto de R$ 20.129,19 em dezembro do ano passado – o valor líquido ficou em R$ 5.882,86. “A decisão judicial que estabeleceu o afastamento o fez sem prejuízo da remuneração”, disse a Codevasf.
Conhecida como “estatal do Centrão”, a Codevasf é vinculada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. No governo Bolsonaro, a pasta se chamava apenas “Desenvolvimento Regional” e era comandada por Rogério Marinho (PL-RN), hoje candidato à presidência do Senado.
A empresa serviu de duto para escoar o dinheiro do orçamento secreto, como mostrou o Estadão em uma série de reportagens. Os contratos da Codesvaf foram investigados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e também pela Polícia Federal e Controladoria-Geral da União (CGU) por direcionar recursos para obras com suspeita de superfaturamento.