Tecnocrata austero, ex-tucano próximo do mundo dos negócios, Geraldo Alckmin (PSB) está longe de ter o carisma do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas se tornou seu vice-presidente, após ter sido um adversário de longa data.
Nesta terça, após a vitória, ele adquiriu um papel de destaque ao ser escolhido por Lula para coordenar a equipe de transição com o governo Bolsonaro.
Este médico de formação de 69 anos, com fama de gestor competente volta a ocupar um lugar de destaque na política após ter sido praticamente deixado no esquecimento. Em 2006, ele foi derrotado com folga por Lula no segundo turno das eleições presidenciais (61%-39%).
E nas presidenciais de 2018, o ex-governador de São Paulo obteve menos de 5% dos votos.
Então, ele compunha os quadros do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), partido histórico que ele cofundou em 1988 e que governou o país de 1995 a 2002, com Fernando Henrique Cardoso na Presidência.
O PSDB e o Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula eram os dois grandes partidos que disputaram o poder após o fim da ditadura militar (1964-1985).
Em seus dois primeiros mandatos (2003-2010), Lula escolheu um vice-presidente de direita, José de Alencar, um empresário que tinha – já naquela época – ajudado a tranquilizar o mundo dos negócios.
União sagrada
Aos que consideram sua aliança com o ex-presidente petista antinatural, Geraldo Alckmin assegura que chegou o momento de uma união sagrada pela democracia, ameaçada, segundo ele, pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), de inclinação ultradireitista.
“Eu disputei com o presidente Lula a eleição de 2006 e fomos para o segundo turno, mas nunca colocamos em risco a questão democrática, nunca”, disse no fim de março, durante sua filiação ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), que abriu a via para sua aliança com Lula.
“Nós temos que ter os olhos abertos para enxergar, a humildade para entender que ele [Lula] é hoje aquele que melhor reflete, interpreta o sentimento de esperança do povo brasileiro”, acrescentou.
No entanto, em 2017, Alckmin ainda tinha muitas críticas ao ex-operário metalúrgico.
“Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder. Ou seja, ele quer voltar à cena do crime”, disse durante um congresso do PSDB.
Longe de ser um orador carismático, este homem calvo, de óculos finos, recebeu um apelido pouco lisonjeiro: “picolé de chuchu”.
“Não sou um ‘showman’. Me apelidaram de picolé de chuchu. Quem quiser ver show, vá ver o gênio do Tom Cavalcante”, acrescentou durante as presidenciais de 2018.
Este ano, ao lado de Lula, ele se distinguiu por seu bom humor: “Lula é um prato que cai bem com chuchu”, brincou, inspirando uma receita de risoto que se popularizou nas redes sociais.
Drama familiar
Nascido em Pindamonhangaba, cidade de 160.000 habitantes a cerca de 150 km de São Paulo, Geraldo Alckmin teve uma educação católica estrita. Boatos não confirmados apontam que ele teria vínculos com a organização Opus Dei.
Casado há 40 anos com Lu Alckmin, é pai de três filhos e sofreu a dor de perder seu filho caçula, Thomaz, em um acidente de helicóptero em 2015.
Iniciou sua carreira política como vereador, depois como prefeito de sua cidade natal nos anos 1970, antes de ser eleito deputado em 1986.
Geraldo Alckmin adquiriu a fama de bom gestor depois de seus mandatos como governador de São Paulo (2001-2006 e 2011-2018), mas não escapou totalmente das polêmicas.
Como a maioria das personalidades políticas de destaque no Brasil, ele não saiu ileso da onda de choque da operação Lava Jato, que revelou um gigantesco escândalo de corrução envolvendo a Petrobras.
Ele chegou a ser vinculado a uma lista de beneficiários de doações ilegais de campanha da Odebrecht, mas nunca chegou a ser acusado formalmente.