Todo ano os militares brasileiros se queixam da falta de recursos para sua área. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, que deve ser votado em março pelo Congresso, prevê um aumento real de 0,8% nos recursos destinados ao Ministério da Defesa em relação a 2024 – os valores foram atualizados pela inflação –, passando de R$ 135,29 bilhões para R$ 136,45 bilhões.
![O Leopard 1, principal carro de combate do Exército, durante treinamento no Rio Grande do Sul; Força quer substituir sua frota](https://i0.wp.com/www.estadao.com.br/resizer/v2/LZHBOU2USVDYJGINMQ55ZEY2RM.jpeg?w=618&ssl=1)
Os números totais incluem os gastos com custeio, salários e com investimentos. Quando analisado separadamente, os recursos reservados na rubrica “Defesa Nacional”, que concentra os investimentos da Pasta, devem cair 1% em 2025 ante o ano anterior, passando de R$ 14,89 bilhões para R$ 14,73 bilhões (valores atualizados pelo INPC).
Esse movimento vai em sentido oposto ao observado no mundo, que registra desde 2022 aumentos contínuos de gastos com a defesa, conforme demonstrou relatório publicado no último dia 12 pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), de Londres.
E aqui, as reclamações tradicionais dos militares brasileiros ganham um novo aliado: o novo contexto geopolítico mundial, exposto pelas guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, que se aprofundou com a posse de Donald Trump, onde antigos aliados se veem ameaçados pela nova e assertiva política externa americana. O Brasil precisaria acompanhar o que está acontecendo no mundo.
Por enquanto, é cedo para verificar os efeitos da novo mandato de Trump. Segundo explicou Bastian Giegerich, diretor-geral, do IISS, foi a continuação da guerra na Europa (Ucrânia) que intensificou a competição estratégica entre as potências militares, provocando o aumento de 7,4% dos gastos em defesa no mundo. Tudo indica que a tendência de aumento deve se manter neste ano.
No caso do Brasil, os gastos com a Defesa em 2024 cresceram apenas 0,05% em relação a 2023 (R$ 135,21 bilhões, em valores atualizados). Mas os recursos orçamentários para investimentos no ano passado haviam recebido um acréscimo de 6,3% em comparação com 2023, passando de R$ 13,8 bilhões para R$ 14,7 bilhões.
Como termo de comparação, esses valores deixam o Brasil fora do ranking das 15 nações que mais gastaram com defesa em 2024, de acordo com o ranking do IISS. Os EUA lideram a lista com US$ 968 bilhões gastos na área – 39,3% de todo o dinheiro gasto no setor no mundo. China (US$ 235 bilhões) e Rússia (US$ 145,9 bilhões) somadas gastaram apenas 36,8% do que os americanos colocaram no setor.
Ao todo, os países gastaram US$ 2,6 trilhões em 2024 ante US$ 2,24 trilhões em 2023, um ano que já havia registrado um crescimento de 6,5% do dinheiro alocado para o setor em relação a 2022, quando crescimento ante 2021 havia sido de 3,5%. De acordo com o ISS, todas as regiões do Planeta, exceto a África Subsaariana, cresceram seus gastos em termos reais em 2024.
Outro dado importante exposto pelo instituto é que, “como proporção do PIB, os gastos globais aumentaram de uma média de 1,59% em 2022 para 1,80% em 2023 e 1,94% em 2024″. No caso brasileiro, os gastos com o setor não chegam a 1,1% do PIB. Sua inconstância levou às Forças Armadas a apoiarem a PEC que prevê a previsibilidade dos gastos no setor, atrelando-os a uma fatia fixa do PIB, próxima dos 2%.
O relatório do IISS mostra ainda que quem mais aumentou seus gastos em 2024 foi a Rússia, que os viu crescerem 41,9% em relação a 2023 – ela perdeu 1,4 mil tanques pesados na Ucrânia em 2024, somando 4 mil perdas em toda a guerra.
Já o crescimento dos gastos europeus com defesa chegou a 11,7% em termos reais em 2024. O mais significativo deles foi o alemão, que atingiu um aumento real de 23,2% no orçamento ante 2023, tornando-se o 4º maior orçamento de defesa do mundo. Já a Polônia ocupa o 15.º lugar no ranking global, ante 20º lugar em 2022.
Sobre a China, disse o IISS: “O orçamento de defesa da China cresceu 7,4% em termos reais, superando a média regional mais ampla de 3,9%, apesar dos aumentos significativos nos orçamentos japonês e indonésio. No entanto, aumentos mais fortes em outras regiões significaram que a participação da Ásia nos gastos globais caiu para 21,7% em 2024, de 25,9% em 2021.”
![Militares americanos recebem de colegas brasileiros instrução de combate na selva em Belém antes de seguirem para o Amapá para a Operação CORE 23](https://i0.wp.com/www.estadao.com.br/resizer/v2/VYQXNFI2BJHMJK74WCZDZOHZ6M.png?w=618&ssl=1)
Para o IISS, “à medida que os estados gastam mais, há preocupação de que os orçamentos nacionais sejam insuficientes para suportar o aumento da produção”. Como resultado, segundo o instituto, “há atenção crescente em métodos alternativos de financiamento”. E conclui: “Outro desafio para a Europa e os parceiros dos EUA no Oriente Médio é a provável mudança no foco de Washington no segundo mandato de Trump em direção ao Leste Asiático e à China”.
Entre os principais investimentos previstos em 2025 para as Forças Armadas brasileiras, segundo o relatório do deputado Dagoberto Nogueira (PSDB-MS), responsável pela área temática da Defesa no PLOA 2025, estarão a construção das fragatas da Marinha da classe Tamandaré (R$ 2,5 bilhões), a aquisição de novos caças Gripen (R$ 1,4 bilhão), a construção de submarinos convencionais e nuclear (R$ 975 milhões), a compra de aviões KC-390 (R$ 627 milhões), a renovação dos blindados do Exército (R$ 622 milhões), que pretende renovar toda sua frota, entre os quais os carros de combate Leopard 1A1 e M-60.
Duas outras prioridades para a garantia da soberania do País não estão citados entre as ações de destaque do MD: a conclusão do Míssil Tático de Cruzeiro (MTC-300) e a aquisição de um sistema de artilharia antiaérea de média altura, fundamentais para a garantia da soberania do País.