Dados revelados nesta segunda-feira, pelo Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz de Estocolmo, os gastos militares atingiram US$ 2,2 trilhões, um aumento de 3,7% em comparação ao ano de 2021.
O volume de recursos seria suficiente para dar um resposta contundente à crise climática, atenderia a mais de 200 milhões de pessoas em crises humanitárias e seria decisiva para erradicação da fome. O instituto sueco é a principal referência hoje no mundo na coleta e análise de dados sobre orçamentos militares.
Estados Unidos, China e Rússia representaram 56% do total mundial de gastos e 2022 foi o oitavo ano consecutivo de aumento no destino de recursos para militares.
Em 2022, no último ano do governo de Jair Bolsonaro, o Brasil foi a direção contrária.
“Os gastos militares totais dos países sul-americanos caíram em 6,1% em 2022, para 46,1 bilhões de dólares. Os gastos diminuíram em 5,4% durante a década de 2013-22”, diz o informe.
“O decréscimo em 2022 se deveu principalmente à queda das despesas militares brasileiras. O Brasil, o maior gastador da sub-região, destinou US$ 20,2 bilhões a seus militares em 2022, o que foi 7,9% menor do que em 2021 e 14% menor do que em 2013”, afirmou.
“O presidente brasileiro Jair Bolsonaro forjou laços estreitos com as forças armadas durante seu mandato (2019-22), mas isto não levou a um aumento do financiamento para os militares; em vez disso, as despesas militares diminuíram a cada ano durante o governo Bolsonaro, caindo 16% em geral entre 2019 e 2022”, constatou.
No ranking mundial, o Brasil passou da 16a posição entre os maiores gastadores com armas em 2021 para o 17o lugar em 2022.
Na Europa, maiores gastos desde Guerra Fria
O aumento mais acentuado da despesa (+13 por cento) foi observado na Europa, em grande parte liderado por russos e ucranianos. “Contudo, a ajuda militar à Ucrânia e as preocupações acerca de uma ameaça acrescida por parte da Rússia influenciaram fortemente as decisões de despesa de muitos outros Estados, tal como as tensões na Ásia Oriental”, disse o informe.
“O aumento contínuo das despesas militares globais nos últimos anos é um sinal de que estamos a viver num mundo cada vez mais inseguro”, disse o Nan Tian, pesquisador e um dos autores do informe. “Os Estados estão reforçando seu poder militar em resposta a um ambiente de segurança em deterioração, que não preveem melhorar num futuro próximo”, disse.
Em muitos aspectos, a Europa voltou a gastar como ocorria na Guerra Fria. Em 2022, as despesas militares dos Estados da Europa Central e Ocidental totalizaram 345 bilhões de dólares. “Em termos reais, as despesas destes Estados ultrapassaram pela primeira vez as de 1989, quando a Guerra Fria estava terminando, e foram 30% superiores às de 2013. Vários Estados aumentaram significativamente as suas despesas militares após a invasão russa da Ucrânia em Fevereiro de 2022, enquanto outros anunciaram planos para aumentar os níveis de despesa ao longo de períodos de até uma década.
“A invasão da Ucrânia teve um impacto imediato nas decisões de despesa militar na Europa Central e Ocidental. Isto incluiu planos plurianuais para aumentar as despesas de vários governos”, disse o brasileiro Diego Lopes da Silva, pesquisador do instituto sueco. “Como resultado, podemos razoavelmente esperar que as despesas militares na Europa Central e Ocidental continuem a aumentar nos próximos anos””, alertou.
Alguns dos aumentos mais acentuados foram registrados em países como
- Finlândia (+36 por cento)
- Lituânia (+27 por cento)
- Suécia (+12 por cento)
- Polónia (+11 por cento).
As despesas militares dos membros da OTAN totalizaram US$1,232 trilhão em 2022, o que foi 0,9% maior do que em 2021.
O Reino Unido teve as maiores despesas militares da Europa Central e Ocidental, com $68,5 bilhões de dólares, dos quais cerca de $2,5 bilhões (3,6 por cento) foram de ajuda militar financeira à Ucrânia.
“Embora a invasão total da Ucrânia em fevereiro de 2022 tenha certamente afetado as decisões de despesa militar em 2022, as preocupações sobre a agressão russa têm vindo a aumentar há muito mais tempo”, disse Lorenzo Scarazzato, outro autor do informe. “Muitos dos antigos Estados do antigo bloco de Leste mais do que duplicaram as suas despesas militares desde 2014, o ano em que a Rússia anexou a Crimeia”, disse.
De acordo com o levantamento, as despesas militares russas aumentaram cerca de 9,2% em 2022, para cerca de 86,4 bilhões de dólares. Isto foi equivalente a 4,1% do produto interno bruto (PIB) da Rússia em 2022, contra 3,7% do PIB em 2021.
Os números divulgados pela Rússia no final de 2022 mostram que os gastos com a defesa nacional, o maior componente das despesas militares russas, já eram 34% mais elevados, em termos nominais, do que nos planos orçamentários elaborados em 2021.
“A diferença entre os planos orçamentários da Rússia e seus gastos militares reais em 2022 sugere que a invasão da Ucrânia custou à Rússia muito mais do que o previsto”, Lucie Béraud-Sudreau, Diretora do Programa de Despesas Militares e Produção de Armas do Instituto.
Os gastos militares da Ucrânia atingiram US$ 44,0 bilhões em 2022. Com 640 por cento, este foi o maior aumento anual de despesas militares de um país já registrado nos dados do Instituto. Como resultado do aumento e dos danos relacionados à guerra na economia da Ucrânia, a carga militar (gastos militares como parte do PIB) subiu para 34% do PIB em 2022, contra 3,2% em 2021.
EUA continuam liderando
Apesar dos gastos russos, a liderança no ranking mundial continua sendo dos Estados Unidos, com US$ 877 bilhões em 2022, o que foi 39 por cento do total dos gastos militares globais e três vezes mais que o montante gasto pela China, o segundo maior gastador do mundo. O aumento de 0,7% em termos reais nos gastos dos EUA em 2022 teria sido ainda maior se não fossem os mais altos níveis de inflação desde 1981.
“O aumento dos gastos militares dos EUA em 2022 foi em grande parte explicado pelo nível sem precedentes de ajuda militar financeira que forneceu à Ucrânia”, disse Nan Tian.
A ajuda financeira militar dos EUA à Ucrânia totalizou US$ 19,9 bilhões em 2022. Embora este tenha sido o maior montante de ajuda militar concedido por qualquer país a um único beneficiário em qualquer ano desde a Guerra Fria, representou apenas 2,3% do total dos gastos militares dos EUA.
Em 2022 os EUA destinaram US$ 295 bilhões para operações e manutenção militar, US$ 264 bilhões para aquisições e pesquisa e desenvolvimento, e US$ 167 bilhões para pessoal militar.
China
Outro destaque do informe é o aumento de gastos militares na Ásia. A despesa militar combinada dos países do continente foi de US$ 575 bilhões. Isto foi 2,7% mais do que em 2021 e 45% mais do que em 2013, continuando uma tendência ascendente ininterrupta que remonta pelo menos a 1989.
“A China continuou sendo o segundo maior gastador militar do mundo, alocando cerca de 292 bilhões de dólares em 2022. Isto foi 4,2% mais do que em 2021 e 63% mais do que em 2013. As despesas militares da China aumentaram por 28 anos consecutivos”, alertou o instituto.
Os gastos militares do Japão aumentaram em 5,9% entre 2021 e 2022, atingindo US$ 46,0 bilhões, ou 1,1% do PIB. Este foi o nível mais alto dos gastos militares japoneses desde 1960.
“Uma nova estratégia de segurança nacional publicada em 2022 estabelece planos ambiciosos para aumentar a capacidade militar do Japão durante a próxima década em resposta às ameaças crescentes da China, Coréia do Norte e Rússia”, disse.
O gasto militar da Índia de US$ 81,4 bilhões foi o quarto maior do mundo. Foi 6,0 por cento maior do que em 2021.
Em 2022, os gastos militares da Arábia Saudita, o quinto maior gastador militar, aumentaram em 16%, chegando a um valor estimado em 75,0 bilhões de dólares, seu primeiro aumento desde 2018.