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domingo 1 de janeiro de 2023 às 13:57h

Futuro de Bolsonaro é incógnita até para aliados

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O presidente Jair Bolsonaro deixou para trás o cargo e o país na última sexta-feira na tentativa de curar o indisfarçável abatimento pela derrota sofrida nas urnas para o petista Luiz Inácio Lula da Silva, que assumirá neste domingo (1º) a Presidência da República pela terceira vez em duas décadas. Maior líder da direita do país desde a redemocratização, ele viajou para a Flórida, nos Estados Unidos, sem dar sinais segundo Jussara Soares e Daniel Gullino , do O Globo, do quanto está disposto a encarnar o papel de personagem principal da oposição, credenciado pelos 58 milhões de votos que recebeu nas eleições de outubro.

Hoje, Bolsonaro entrará para a história como o primeiro chefe da nação a se recusar a passar a faixa presidencial em 37 anos. Isso aconteceu pela última vez em 1985, quando João Figueiredo, o último presidente da ditadura militar, não compareceu à cerimônia de posse de José Sarney, que o sucedeu no Palácio do Planalto.

Bolsonaro adentra 2023 sem mandato pela primeira vez em 34 anos. Foi vereador uma vez e deputado federal por sete legislaturas seguidas antes de chegar ao Planalto. A partir de hoje, seus próximos passos são uma incógnita até para aliados. A reta final na Presidência foi marcada por reclusão no Palácio da Alvorada, longas temporadas de silêncio — chegou a ficar 37 dias sem se pronunciar publicamente — e desabafos a portas fechadas. A interlocutores de confiança, Bolsonaro admitiu dois sentimentos: a tristeza pelo revés eleitoral e o medo de ser preso. Nessas conversas, costumava dizer que não sabe se voltará a concorrer a cargos públicos, desenvolvia teses conspiratórias e, em várias delas, repetiu:

— Vão armar para mim.

Referia-se aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), alvo preferencial de suas ameaças e xingamentos nos últimos quatro anos.

Salário e benefícios

Bolsonaro deve ficar no exterior, pelo menos, até o final deste mês. Ao voltar, assumirá a presidência de honra do PL, partido do Centrão ao qual se filiou no final de 2021. Receberá um salário estimado em R$ 40 mil, além de aposentadorias como capitão do Exército e ex-deputado federal, que deverão lhe garantir uma renda mensal de aproximadamente R$ 80 mil. Como dirigente partidário, ocupará uma sala na sede da sigla, em Brasília. Como ex-presidente, terá direito a oito assessores pagos pelo erário. O PL bancará o aluguel da casa em que Bolsonaro vai morar, num condomínio fechado no bairro do Jardim Botânico, na capital federal.

Aos olhos do presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, trata-se de uma equação em que a conta fecha. Oito dias após o segundo turno da eleição que transformou Bolsonaro no primeiro presidente a não conseguir se reeleger, Costa Neto já o lançou candidato ao Planalto em 2026.

— Quatro anos não são nada — justificou na ocasião.

As mesmas urnas que negaram a reeleição a Bolsonaro mantiveram o bolsonarismo não só vivo, mas fortalecido, sobretudo no Congresso. O partido do presidente elegeu em 2022 as maiores bancadas da Câmara e do Senado.

Como parte do pacote, Valdemar topou contratar o ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa presidencial derrotada, Braga Netto, e decidiu entregar à primeira-dama Michelle Bolsonaro a presidência do PL Mulher. Ambos também terão à disposição salas e assessores para trabalhar.

A convicção de Valdemar contrasta com a insegurança demonstrada por Bolsonaro em relação ao próprio futuro. Além disso, destoa do histórico de pouco engajamento partidário que marca a trajetória do ainda presidente da República. Em quase quatro décadas de vida pública, ele jamais se revelou um quadro orgânico de legenda alguma. Pelo contrário, saiu de algumas delas batendo a porta. Antes de ingressar no PL, esteve no PSL, pelo qual chegou à Presidência da República. Brigou com cerca de metade da bancada do Congresso, rompeu com a cúpula e se desfiliou do partido. Agora, embora vá ocupar um posto de destaque no PL, não terá a caneta para ditar os rumos da legenda, comandada por um dos caciques considerados mais centralizadores do país.

Fator Michelle

Enquanto o presidente da República saiu da eleição derrotado e abatido, sua mulher revelou-se um ativo eleitoral. Ela capitaneou a estratégia para conquistar o voto feminino em favor do marido e demonstrou desenvoltura ao falar em público. Desde então, internamente, Michelle passou a ser vista como uma possível candidata nas próximas eleições, embora ela jamais tenha sinalizado a intenção de disputar cargos eletivos. Valdemar Costa Neto aposta que, assim como o marido, ela poderá desempenhar um papel fundamental para o sucesso do PL em 2024.

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