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terça-feira 15 de outubro de 2024 às 11:20h

Fusões e aquisições voltam a crescer no Brasil e somam R$ 195 bilhões

NEGÓCIOS, NOTÍCIAS


Em um ano marcado pelo cenário de juros em alta e “seca” nas ofertas públicas de ações (IPO, na sigla em inglês), operações de fusões e aquisições (M&As) começam a ganhar tração de acordo com reportagem de Fernanda Guimarães, Stella Fontes e Mônica Scaramuzzo, do Valor, com o número de mandatos de bancos de investimentos crescendo e indicando retomada mais firme para o ano que vem.

Em 2024 já foram anunciados R$ 195 bilhões em operações de M&A até o início de outubro, um avanço de 56% ante o mesmo período do ano passado. O valor supera todo o volume financeiro do ano de 2023, de R$ 117 bilhões, segundo dados da consultoria Dealogic, coletados a pedido do Valor. Considerando o número de operações, neste ano já foram concluídas 531, faltando apenas 62 para alcançar a cifra de 2023.

Ainda de acordo com o jornal Valor, os setores de infraestrutura e de óleo e gás protagonizaram importantes acordos nas últimas semanas – as concessões vão continuar reforçando as operações até o fim do ano. O agronegócio também deve impulsionar transações, uma vez que muitas companhias do setor estão em reestruturação.

Expectativas positivas se voltam para 2025, quando as operações que estão chegando se transformarão em receitas”

— Felipe Thut

Entre as operações de peso recentes já públicas estão a aquisição dos campos de petróleo Peregrino e Pitangola pela Prio, a venda do controle da Santos Brasil para a francesa CMA CGM, por R$ 6,3 bilhões, e a da carteira de clientes do serviço de banda larga por fibra da Oi (ClientCo) por R$ 5,7 bilhões para a V.tal, empresa de fibra ótica do BTG. No ano, a maior transação foi a venda da AES para a Auren, por aproximadamente R$ 16,5 bilhões (US$ 3 bilhões).

Mesmo com a melhora dos volumes financeiros, a queda ainda é representativa em relação aos números de 2021 e 2022, quando as transações somaram, respectivamente, R$ 401,5 bilhões (US$ 73 bilhões) e R$ 247,5 bilhões (US$ 45 bilhões), segundo o levantamento da Dealogic.

Para Anderson Brito, diretor do UBS BB, atores que estavam de lado, os fundos de private equity (que compram participação em empresas) estão neste momento mais ativos, tanto em processo de venda de investimentos mais maduros de suas carteiras quanto de compra de novos ativos. “Os fundos de private equity estão capitalizados”, comenta.

Brito tem notado mais interesse de estrangeiros em processos de aquisição no Brasil. “Estamos vendo investidores confortáveis em tomar o risco Brasil.” O executivo destaca que o banco tem observado a entrada de novos mandatos, que caracterizou de “grandes”, em setores como consumo, serviços financeiros e infraestrutura. Ele frisa, assim, que tem observado o retorno de transações de grande porte para as mesas de negociações.

É ainda importante apontar que o crescimento ocorre sobre uma base bastante fraca de 2023, quando muitas operações ficaram em compasso de espera. O responsável pela área de M&A do Bank of America (BofA) no Brasil, Diogo Aragão, diz que o aumento do volume de operações reflete, com isso, transações que estavam represadas e que passaram para fases mais avançadas neste momento.

“São mandatos que vieram no ano passado e que estão desembocando agora. Um ano de execução, na média, para esses ‘deals’”, comenta o executivo. Novos mandatos estão também chegando ao banco, disse, especialmente a partir do meio do ano.

Para os bancos, no entanto, os resultados devem melhorar apenas a partir do ano que vem. Felipe Thut, responsável pelo banco de investimento do Bradesco BBI, aponta que as receitas oriundas de processos de M&A serão melhores do que no ano passado, mas que as expectativas ainda mais positivas se voltam para 2025, momento em que as operações que estão chegando ao “pipeline” agora se transformarão em operações concluídas de fato e, com isso, em receitas aos bancos. “Vamos entrar em 2025 com um pipeline melhor do que entramos em 2024”, diz.

O executivo frisa que o início da queda dos juros nos Estados Unidos tem feito a diferença e que o sentimento, no momento, é que existe uma aceleração desse mercado. “Estamos vendo mais operações ‘cross border’ e a queda de juros faz a diferença.”

O processo de consolidação entre as companhias, em busca de sinergias, tem sido o catalisador de parte dos negócios, diz o chefe global do banco de investimento do Itaú BBA, Roderick Greenlees. Entre as grandes operações no ano com essa característica, Soma se uniu à Arezzo, Petz com Cobasi e 3R com Enauta. “São operações de consolidação e ganho de escala. Deveremos anunciar mais algumas transações com esse mesmo perfil.”

Greenlees diz que o segundo semestre mais ativo compensou uma primeira metade do ano mais atípica em M&A. Isso porque o cenário de incertezas nesse intervalo, especialmente por conta das dúvidas em relação aos juros nos EUA, colocou várias operações em compasso de espera, o que gerou como consequência imediata um prazo maior para o anúncio de operações que estavam na mesa.

Entre os setores, o executivo aponta que consumo, varejo e alimentos estão mais aquecidos para operações de M&A, algo com potencial para seguir ao longo dos próximos meses. “Esse é um setor que estava desaparecido nos últimos meses, mas que voltou. Nosso time está bastante ativo nesse setor”, afirma. Em energia, que sempre traz um volume grande de operações todos os anos ao mercado, ele aponta que houve um desequilíbrio neste ano em relação a expectativas de preço dos ativos entre vendedores e compradores, o que fez com que algumas operações não saíssem. “O ano era para ter sido ainda melhor em energia”, diz.

Em infraestrutura, os negócios também estão saindo, e existe no mercado um olhar para operações em saneamento. “O setor de infraestrutura continua aquecido e veremos boas operações até o fim do ano”, diz Eduardo Paoliello, sócio da área de M&As do Pinheiro Neto Advogados.

Já Eduardo Miras, responsável pelo banco de investimento do Citi no Brasil, vê sinais de que o mercado caminha para uma melhora em 2025, sendo um dos catalisadores o início de queda de juros nos Estados Unidos. Do lado doméstico, a elevação do rating do Brasil pela agência de classificação de riscos Moody’s foi uma notícia recente positiva. “A foto ainda é de um mercado mais fraco, mas há indício de que as coisas estão melhorando”, frisa.

Além dos juros, o executivo aponta que fundos globais de private equity estão, nos Estados Unidos, na ponta vendedora em processos de IPO, mostrando um momento de reciclagem de portfólio e sinalizado que vão às compras. “Há um ambiente mais favorável, mas a melhora é gradual e lenta”, afirma o executivo do Citi.

Leonardo Cabral, chefe do banco de investimento do Santander no Brasil, diz que o banco tem notado um aumento de operações “cross border”, diante de um maior apetite ao risco por parte desses investidores. “Esse tipo de transação aumentou muito no último trimestre”, diz. Thiago Rocha, que lidera a área de M&A do banco espanhol, frisa que a melhora do mercado tem sido também observada no ganho de tração em operações que estavam em “banho-maria”. “Estamos vendo a maturação de mandatos, mas também novas discussões entrando.” Segundo ele, o Santander espera mais anúncios de operações em seu pipeline ainda este ano, mas projeta um primeiro semestre de 2025 mais forte.

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