O avanço da fusão entre DEM e PSL para a criação de uma robusta sigla de centro-direita acendeu sinais amarelos na direção do PSD conforme a Folha Press, sobre ele fazer seus cálculos visando a eleição de 2022.
O presidente do partido, o ex-ministro e ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, redobrou articulações para ficar com os dois passes que mais lhe interessam no momento: o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o do ex-governador paulista Geraldo Alckmin, de saída do PSDB.
Segundo aliados dos políticos, Kassab já conversou com ambos e prometeu apoio PSD a seus planos eleitorais de qualquer modo: Pacheco vem sendo estimulado pelo próprio cacique a disputar a Presidência, e Alckmin quer voltar ao Palácio dos Bandeirantes.
Hoje o senador mineiro está praticamente garantido no PSD, apesar dos esforços do presidente do DEM, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, em mantê-lo na nova sigla. Já Alckmin, nas palavras de um aliado próximo, está balançado pela proposta feita pelo baiano.
São situações distintas. Pacheco tem pouco a perder se disputar o Planalto, podendo nacionalizar seu nome e ainda tendo mais quatro anos de mandato. O PSD oferece condições mais estáveis e palanques estaduais unificados.
Criada em 2011 por Kassab a partir de uma dissidência do DEM, a sigla é bastante descentralizada, mas o presidente mantém uma ordem unida nas negociações. Em 2020, foi o terceiro partido com maior crescimento em número de prefeituras conquistadas, chegando a 655 vitórias.
Para 2022, já conta com palanques fortes em estados vitais, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Bahia.
No mundo ideal para Kassab, o mineiro seria o nome da terceira via para tirar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do segundo turno e enfrentar o hoje líder nas pesquisas Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com apoio do eleitorado mais conservador.
Já no mundo mais realista, se tiver um desempenho honroso, Pacheco se coloca com uma peça de apoio a Lula no segundo turno —isso no caso de o PSD ser sua casa. Kassab foi ministro de Dilma Rousseff (PT) e, apesar de o seu partido ter apoiado o impeachment da petista em 2016, mantém boa interlocução com o ex-presidente.
O PSD manteve por um tempo posição ambígua em relação a Bolsonaro, mas neste ano posicionou-se frontalmente contra o presidente, com Kassab inclusive especulando apoio ao impeachment que não veio.
Apesar do barulho que a fusão, políticos em Brasília são cautelosos na avaliação do potencial do novo partido. O próprio PSD havia sido procurado por Luciano Bivar, o mandachuva do PSL, e recusou a iniciativa.
A conta que soma os atuais quadros do DEM e do PSL não é exata. Na Câmara, seriam 81 nomes (53 do partido pelo qual Bolsonaro se elegeu e depois se desfiliou, e 28 da sigla de ACM Neto). Estimativas de líderes colocam a futura bancada com cerca de 40 deputados, número que deve se manter estável após a eleição de 2022.
Há relatos diversos sobre disputas acerca do fundo eleitoral da nova sigla, que será o maior do país com R$ 320 milhões no cofre.
Grosso modo, a fusão está sendo vista como um instrumento para atender melhor interesses paroquiais, do próprio ACM Neto na Bahia e de Ronaldo Caiado na busca pela reeleição em Goiás.
Assim, planos nacionais podem acabar prejudicados por falta de empenho e verbas de candidatos nos estados, o que o PSD promete não ser um problema.
Há também considerações pontuais a serem feitas, como no caso de Alckmin. Em São Paulo, o DEM é dominado pelo grupo do poderoso presidente da Câmara paulistana, Milton Leite, que é um aliado do governador João Doria (PSDB).
O tucano deu ao democrata a área de transportes do estado e amplo espaço na gestão da capital, que com a morte de Bruno Covas (PSDB) passou para Ricardo Nunes (MDB). O arranjo manteve o DEM com o governo, mesmo quando Doria trouxe do partido para o PSDB o seu vice, Rodrigo Garcia.
O movimento bloqueou as chances de Alckmin de tentar concorrer pelo PSDB, já que o ex-governador sabe o peso da caneta.
Ele não quis enfrentar prévias com Garcia, que deverá assumir o Bandeirantes quando Doria se lançar ao Planalto em abril —resta saber se pelo PSDB, onde disputa a indicação com Eduardo Leite (RS), ou por outra sigla.
O descontentamento de Alckmin, de resto um desafeto de Doria, abriu espaço para Kassab tentar atrair o futuro ex-tucano. Ele uniu no mesmo barco o ex-governador Márcio França (PSB), que foi vice de Alckmin, e Paulo Skaf —que perdeu espaço no MDB e deverá se filiar ao PSD.
No sábado (25), os quatro estiveram juntos pela primeira vez em público em Cajamar, na Grande São Paulo. Sobraram críticas a Doria e elogios a Alckmin. Kassab jogou seu jogo, reafirmando que apoiará o ex-governador independentemente do partido ao qual ele estiver filiado.
A disputa pelo controle da nova sigla em São Paulo é algo que aflige Alckmin. Há a possibilidade de o grupo de Leite deixar o DEM, rumo ao PSDB ou a outro aliado de Doria, mas por ora há divergências colocadas: o presidente da Câmara quer a sigla apoiando Garcia, enquanto o PSL estadual prefere o ex-governador ou uma candidatura própria.
Político conhecido por seus processos decisórios lentos e opacos, Alckmin teme a solidez do apoio que teria no DEM-PSL. Se for derrotado na disputa, que lidera neste momento segundo o Datafolha, poderá ver o fim de sua carreira política.
Alckmin deverá bater o martelo nas próximas semanas, mas mesmo isso é visto como incerto por aliados seus. Já Pacheco deverá, salvo mudanças, entrar no PSD até o fim do ano. Faltará então combinar com os eleitores: hoje ele tem 1% de intenções de voto, segundo o Datafolha.