As Lojas Americanas S.A. e a B2W anunciaram na noite desta última quarta-feira (28) a fusão das suas operações, que dará origem à nova empresa americanas s.a. A informação foi adiantada pelo colunista Lauro Jardim do jornal O Globo. Numa segunda etapa, a controladora do grupo varejista terá ações negociadas nos Estados Unidos.
De acordo com analistas de varejo, a união das duas empresas é vital para crescer em um segmento que vem ganhando cada vez mais competição, com o avanço de rivais como Amazon, Magazine Luiza e centenas de sites de comércio eletrônico.
A fusão já foi aprovada pelos conselhos de administração das duas empresas e será votada nas assembleias gerais extraordinárias no dia 10 de junho.
De acordo com o comunicado enviado pelas companhias à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a união das duas empresas, que têm ações negociadas na Bolsa de Valores (B3), será dividida em duas fases. Na primeira, os ativos operacionais das Lojas Americanas serão incorporados pela B2W.
A Americanas é atualmente a controladora da B2W. Sua incorporação pela varejista on-line reflete o crescimento da importância do comércio eletrônico para o grupo.
Como a atual B2W, a nova empresa seguirá listada no Novo Mercado, nível de maior governança da Bolsa de São Paulo (B3), e vai reunir as operações de varejo físico e digital, além dos ativos de logística e soluções financeiras. A ação da B2W (BTWO3) passa a ser AMER3.
Listagem nos EUA a partir da Lojas Americanas
Além da nova empresa americanas s.a., a antiga Lojas Americanas vai continuar existindo. A partir dela, na segunda etapa da operação, será criada um veículo de investimentos no exterior para listagem nos Estados Unidos, que se chamará Americanas Inc.
Isso porque é na antiga Lojas Americanas que está as participações acionárias do trio de investidores que controla o grupo varejista: Joge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.
Uma fonte do setor lembrou que a combinação das duas empresas vai permitir que a nova companhia consiga ter fôlego para aquisições, a exemplo do que vem sendo feito pela Magazine Luiza desde o ano passado.
Em comunicado, o grupo disse que a ida ao exterior tem como “objetivo elevar a história de investimento da companhia para um patamar global e promover o alinhamento estratégico de longo prazo com os acionistas”.
Fabio Abrate, diretor Financeiro e de Relações com Investidores da B2W Digital, disse que a combinação dos negócios cria um “poderoso” motor de fusão e aquisição.
— Vamos listar a Lojas Americanas nos Estados Unidos na Nyse ou na Nasdaq como veículo de investimento para atrair investidores com cabeça de mais longo prazo.
Segundo ele, o o objetivo das companhias combinadas é conseguir atender ao cliente de forma mais rápida e conveniente. Ele citou ainda o apetite por fusões e aquisições:
— Com os dois negócios combinados, esse motor de fusões ganha celeridade maior. Fica mais fácil de mapear potenciais ativos e integrar esses ativos numa companhia combinada. Um dos objetivos da combinação é acelerar a frente de fusões e aquisições.
Além de formar uma varejista com forte presença física e on-line, capaz de enfrentar a concorrência de gigantes como Magalu e Via Varejo, a possibilidade de ter a holding Americanas Inc listada nas bolsas dos Estados Unidos é outro ponto positivo da fusão, na avaliação de Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos.
Segundo ele, o mercado norte-americano vem pagando prêmios elevados e com frequência “até estável” para empresas de e-commerce, tecnologia e fintechs, que é o que o grupo vai apresentar.
Americanas já controlava B2W
A B2W é atualmente controlada pelas Americanas, com 62,5%. A varejista on-line vem ganhando maior importância com a digitalização do setor, acelerada pela pandemia.
Juntas, as empresas possuem uma rede de cerca de 1.700 lojas físicas em 750 cidades do país e um marketplace online com mais de 87 mil vendedores.
O consultor Antonio Cesar Carvalho, sócio-diretor da ACOMP Consultoria e Treinamento, destacou que a união vai gerar muitas sinergias devido ao modelo de gestão e negócios das empresas, permitindo redução de custos, aumento da capilaridade, melhorias na logística, no marketing e na experiência do consumidor.
— Além disso, facilita a captação de novos recursos na Bolsa, ao encorpar a empresa principal, permitindo fazer frente de forma mais ostensiva à concorrência. Como se tudo isso fosse pouco, é uma tendência atual e que temos implantado nos nossos clientes, com a integração do comércio físico com o virtual — disse Carvalho.
Ulysses Reis, da Fundação Getulio Vargas (FGV), reforça que a união das empresas vai melhorar a produtividade e reduzir os custos de gestão e distribuição. Segundo ele, a pandemia do coronavírus acelerou o processo de digitalização das empresas, uma vez que o consumidor, que passou a ficar mais tempo em casa, exige hoje uma entrega mais rápida.
— E esse movimento de digitalização por conta da pandemia continua neste ano. As empresas precisam ser mais eficientes para atender ao consumidor mais exigente. A tecnologia hoje permite que todas as operações de lojas físicas e virtuais operem juntas, aumentando o controle da operação. Essa combinação permite soluções logísticas como comprar na internet e pegar na loja, por exemplo — citou Reis.
Papéis podem subir na quinta-feira
Para Esteter, os efeitos da fusão deverão ser sentidos nesta quinta-feira na Bolsa, com a possibilidade de altas acima de dois dígitos. Segundo ele, o mercado vê com bons olhos a operação, que pode elevar a eficiência da companhia, com redução de custos para as empresas na integração das operações, além de ganho de escala em diferentes frentes.
— Quando saiu a notícia de que havia a possibilidade de união dos negócios, em fevereiro, a gente viu os papéis disparando duplos dígitos. E hoje vimos uma performance sólida, com a B2W subindo 2%, a Americanas subindo entre 2% e 3%, mas é difícil dizer que houve uma antecipação, apesar de ter sido um dia positivo. Talvez na quinta-feira a gente veja um movimento mais agressivo.
Bruno Ozelame, sócio e estrategista de alocação da Ável Investimentos, ressalta que como o movimento não foi exatamente uma surpresa para o mercado, dificilmente as ações das empresas irão repetir a alta de mais de 20% que foi observada na Hering (HGTX3) nesta semana, após o anúncio da incorporação pelo Grupo Soma (BVMF), que não era esperada.
— Deve gerar valor, sim, mas a princípio não deve ter um impacto tão forte, já que a notícia já havia sido antecipada pelo mercado — afirma.
Além do acordo desta quarta-feira, as Lojas Americanas também já vêm acelerando processos de fusões e aquisições. A rede celebrou um acordo com a BR Distribuidora para operar as lojas nos postos de combustíveis. As duas empresas estão criando uma nova companhia. Há alguns dias, a Americanas anunciou a compra de 70% das ações do Grupo Uni.co, dono das marcas Puket, Imaginarium, MinD e Lovebrands.