Mais de R$ 120 bilhões evaporaram dos fundos de investimentos dedicados a crédito privado neste ano desde a revelação de inconsistências contábeis bilionárias na Americanas, em 11 de janeiro. A companhia acabou recorrendo à recuperação judicial e outros eventos de deterioração de dívidas tiveram sequência, a exemplo da Light. No mercado de gestão de recursos, o fluxo negativo não poupou ninguém, de grandes bancos a assets independentes, conforme mapeamento feito pelo chefe da área comercial da Trademap, Einar Rivero, a pedido do jornal Valor.
O impacto nas cotas provocado pela remarcação dos ativos de crédito de maneira geral levou a uma onda de saques de investidores pouco afeitos à chacoalhada de preços, segundo Ana Luisa Rodela, chefe de gestão de crédito da Bradesco Asset. O resultado foi o aumento dos spreads no secundário, com incrementos da ordem de 0,8 ponto percentual no universo dos títulos atrelados ao CDI. Na média, o prêmio sobre o referencial passou de 1,70% na virada do ano para a casa dos 2,5%.
“É um mercado que não está acostumado à volatilidade e é o que vem retroalimentando os resgates. Boa parte foi decorrente da necessidade de liquidez dos gestores”, diz Rodela. “Depois, criou-se um certo humor conservador.”
Num conjunto de fundos que acompanha, que tiveram saídas na casa dos R$ 100 bilhões, a executiva diz que o desempenho das carteiras em abril já foi razoavelmente melhor que no acumulado do ano. “Essa melhora, na margem, nos tranquiliza porque o investidor saiu assustado com a porrada. Conforme a rentabilidade vá melhorando isso contribui para manter o cotista dentro.” No geral, as carteiras estão abaixo do CDI.
Um fator que tende a contribuir para a atração de dinheiro novo é que os bancos que inundaram o mercado nos primeiros meses do ano com emissões de CDB, letras de crédito imobiliária e do agronegócio (LCI, LCA) ou da Letra Imobiliária Garantida (LIG) tendem agora a diminuir o passo, explicou Adriana Cotias, do Valor.