Nesta segunda-feira (24), no dia da abertura do 19° Acampamento Terra Livre, a presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, participou, junto a outros parlamentares, do lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas. O evento ocorreu no salão nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).
A criação da Frente recebeu 205 assinaturas, entre deputados federais e senadores, e tem como prioridade a promoção e a defesa dos direitos dos povos indígenas e o combate à mineração ilegal em terras indígenas, entre outros temas.
Compondo a mesa junto à presidenta da Funai, que foi a primeira coordenadora indígena da Frente, estiveram presentes a deputada federal, Célia Xakriabá; a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara; o secretário especial de Saúde Indígena, Weibe Tapeba; a deputada federal Érika Kokay, a liderança indígena Raoni Metuktire, e a presidente indígena do Parlamento da Noruega (Sami), Silje Karine Muotka.
Na atual legislatura, que teve início em fevereiro de 2023, a Frente será coordenada pela deputada federal Célia Xakriabá, com vice-coordenação do deputado federal Airton Faleiro. No Senado, a coordenação é dos senadores Randolfe Rodrigues e Fabiano Contarato. Também são membros as deputadas federais Érika Hilton, Dandara Tonantzi, Camila Jara e Juliana Cardoso; os deputados federais Túlio Gadêlha e Ivan Valente; e a senadora Eliziane Gama, dentre outros parlamentares.
Joenia Wapichana falou do papel importante da Frente Parlamentar para resguardar, promover e defender os direitos dos povos indígenas, e ofereceu todo apoio à nova coordenadora da Frente, Célia Xakriabá. “Da mesma forma que eu estive aqui, nesse mesmo espaço, lançando, pela primeira vez na história do Brasil, essa Frente Parlamentar, agora você está lançando novamente com a participação de muitos aliados. Que seja um espaço de aliança, de fortalecer a nossa defesa. Nós fizemos dessa Frente, uma Frente aberta aos diálogos, uma Frente que compartilhava responsabilidades, um instrumento de defesa de nosso posicionamento”, afirmou.
Para a deputada Célia Xakriabá, “a frente abre as portas para o movimento e a sociedade civil. É instrumento da coletividade e de estratégia para os enfrentamentos. A bancada do Cocar está no Congresso Nacional, está no Ministério dos Povos Indígenas, está na Funai, no Ministério da Saúde e nos mais de 305 Povos Indígenas que vivem no Brasil fazendo luta e resistência pelo território”.
Sonia Guajajara chamou a atenção para a importância de um olhar atento para a questão indígena com o objetivo de se resolver outras questões urgentes para a sociedade. “Nós, Povos Indígenas, estamos trazendo a nossa pauta para o centro do debate político. Nós já conseguimos fazer com que o mundo olhe para a emergência ambiental. Já conseguimos fazer com que o mundo olhe para a emergência climática. Mas nós precisamos fazer, agora, com que o mundo olhe para a emergência indígena, e entender que não há luta pelo meio ambiente se não houver também a luta pela proteção dos direitos indígenas, suas gerações futuras e modos de vida. Sem isso nós não vamos encontrar a solução para a crise climática”, completou.
Grande liderança indígena, o cacique Raoni saudou a todos os representantes presentes no evento. “Venho lutando, há muito tempo, pelo direito de meu povo. O Brasil é dos indígenas, estávamos aqui antes dos portugueses chegarem. Nós vamos continuar lutando por nossos direitos em paz”, afirmou.
O processo de retomada da democracia brasileira foi frisado por Weibe Tapeba, que homenageou a todas as vítimas da pandemia da covid-19 que não puderam estar presentes naquele momento. “Ao longo dos últimos anos, temos feito um papel de ocupação dos espaços para que as políticas públicas do Estado Brasileiro possam chegar nos territórios indígenas de todo nosso país. Esse é um momento de celebração porque nós sobrevivemos. Sobrevivemos a uma pandemia que ceifou a vida de muitos homens e mulheres guerreiros, e sobrevivemos a um processo de negligenciamento e omissão do governo anterior”.
Por que aldear o Congresso?*
Aldear o Congresso para salutar a presença indígena na capital do país
Aldear o Congresso para descolonizar
Aldear o Congresso para que não caia nenhuma gota a mais de sangue indígena
Aldear o Congresso para falar que lutamos contra o Marco Temporal
Aldear o Congresso para afirmar que somos antirracistas
Aldear o Congresso para valorizar a cultura dos mais de 305 Povos de todo o Brasil
Aldear o Congresso para dizer que queremos todas as florestas de pé
Aldear o Congresso para lutar pela vida
Aldear o Congresso para defender a demarcação de territórios indígenas e quilombolas
Aldear o Congresso para reflorestar mentes
Aldear o Congresso para festejar com arte, música e luta
Aldear o Congresso porque, sem Terra Indígena demarcada, não tem futuro
Nós, Povos Indígenas, temos o direito de conversar e reforçar nossas próprias instituições políticas, jurídicas, econômicas, sociais e culturais
Mantendo nosso direito de participar plenamente, caso desejemos, da vida política, econômica, social e cultural do estado Brasileiro
O futuro indígena é agora
*mensagem lida na abertura do evento