Lula venceu as eleições porque foi apoiado por uma ampla frente de forças políticas. O petista reconheceu tal realidade em diferentes discursos desde a vitória no segundo turno.
Segundo o colunista Robson Bonin, da Veja, nesta montagem do governo, o presidente eleito, para alinhar prática e discurso, tinha o desafio de distribuir o poder de forma plural, espalhando não só o poder, mas também responsabilidades. Um governo de frente ampla dividiria vitórias e derrotas, a popularidade e o desgaste.
Lula, no entanto, vem mostrando que o governo será mais petista do que o seu discurso fazia crer. Colocar Aloizio Mercadante no BNDES — depois de ter dado a Fazenda a Fernando Haddad e a Casa Civil a Rui Costa — é esnobar uma infinidade de economistas preparados que emprestaram prestígio ao projeto lulista na campanha. Mostra que o PT segue ditando as regras e buscando o hegemonismo na máquina. Nada novo no front.
Os anúncios feitos até agora, segundo líderes do Congresso ouvidos pelo Radar, só dificultam a caminhada do governo na discussão da PEC da Transição. Não é segredo que há mais aliados do que cargos na máquina para acomodar tantos interesses de gente que se julga “credora” da vitória sobre Jair Bolsonaro.
Os caciques dos partidos que integraram o projeto lulista não querem postos de figuração na máquina. Desejavam partilhar do poder sobre áreas que são cruciais para ditar políticas econômicas no país. Até agora, no entanto, o que se viu foi o partido do presidente eleito se servir praticamente sozinho no buffet.
Lula compra o risco de ter um governo estruturado fora da frente ampla. Se já não tinha margem para errar, com as escolhas que fez até aqui, terá ainda menos margem e paciência do mundo político, caso as coisas deem errado com Haddad e Mercadante na equipe econômica.
A transição concluiu seu trabalho nesta terça marcada por uma rede de intrigas e pela fritura de aliados a partir de movimentos do PT. Um dos líderes de esquerda, vendo o estado da arte até aqui, resume bem o que virá no futuro governo. “Foi a frente ampla que venceu a eleição. Não foi o PT. A metade da população quer que o governo dê errado. Se não tiver frente ampla, a popularidade vai para o saco rapidinho”, diz o congressista ao Radar.
A coluna de Robson Bonin, informou mais cedo que o petista está sob forte pressão do PT. O partido, ainda que tenha Gleisi Hoffmann no comando, já mostrou suas garras ao presidente eleito em diferentes negociações por espaços na máquina — e tem conseguido vencer a batalha.