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quinta-feira 10 de dezembro de 2020 às 18:29h

Frente Ambientalista da AL-BA discute impactos do agronegócio e da mineração na Chapada

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Os impactos ambientais, sociais e econômicos provocados pelas atividades do agronegócio e da mineração na Chapada Diamantina, em especial no município de Piatã (a 558 km de Salvador), foram discutidos na última quarta-feira (9) em reunião virtual promovida pela Frente Parlamentar Ambientalista da Bahia.

O encontro realizado pela plataforma Zoom contou com a participação de deputados estaduais, ambientalistas, pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), além de representantes das comunidades afetadas pelas atividades na Chapada.

Coube a Bete Wagner, coordenadora executiva da Frente Parlamentar, conduzir a reunião, que contou ainda com a participação dos deputados estaduais Marcelino Galo (PT), presidente da frente, e Jacó (PT), além de Hilton Coelho (PSOL).

A primeira questão discutida na reunião foi a atuação da empresa de agronegócio japonesa Hayashi Batatas, que obteve autorização do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) para desmatar mais de 950 hectares de vegetação nativa na região conhecida como Gerais de Piatã, considerada uma das principais áreas de “recarga hídrica” baiana, com nascentes para três bacias hidrográficas (Rio de Contas, Paraguaçu e São Francisco).

Primeira a se pronunciar na reunião, a economista, agricultora e ativista Ana Carolina Queique criticou a autorização dada pelo Inema para a perfuração de poços artesianos e a implantação de barragens para usufruto da Hayashi Batatas, com a finalidade de produção de batatas-sementes, cultura intensiva no uso de água e agrotóxicos.

De acordo com Ana Carolina, o que está ocorrendo nas Gerais de Piatã funciona como um microcosmo do que acontece em toda a Chapada Diamantina. Ela contou que a Hayashi Batatas começou a comprar terras na região ainda na década de 1980. Mas, só no ano de 2013, construiu as barragens nas Gerais de Piatã, beneficiada por decretos do governo do estado que isentou da necessidade de licenciamento ambiental toda atividade econômica de agricultura irrigada.

“Assim que as barragens foram construídas, seis comunidades da região ficaram 25 dias seguidos recebendo água com lama”, contou a ativista, pontuando que, além das nascentes das bacias hidrográficas, os Gerais de Piatã possui flora e fauna endêmicas, inclusive com espécies em listas ameaçadas de extinção.

Carolina lembrou que, por ser o município baiano mais alto, Piatã é o primeiro a receber essas águas, mas qualquer alteração nesse recursos hídricos vão afetar também diversas outras comunidades de Chapada Diamantina. Além disso, acrescentou ela, toda a produção de café em Piatã, reconhecida internacionalmente pela qualidade dos grãos, está ameaçada com a atividade da Hayashi Batatas. “Isso sem falar na redução dos territórios das comunidades tradicionais e o aumento da concentração de terras do agronegócio”, afirmou.

Segundo a também ativista Fernanda Andrade, em julho de 2013, a população foi inadvertidamente surpreendida com a construção de duas barragens no Riacho das Pedras, uma das principais nascentes do Rio das Contas. “Isso acorreu quando a Hayashi Batatas, sem nenhum debate público sério, iniciou as obras após obterem uma licença simplificada pelo Inema [órgão ambiental da Bahia], emitida com base no Decreto Nº 14.389 de 07/042013, assinado pelo governador para facilitar a construção de infraestruturas de combate aos efeitos da seca”, acrescentou.

Outra questão discutida na reunião virtual foi a ação da empresa Brazil Iron, subsidiária no Brasil de uma companhia de mineração inglesa, que vem afetando cerca de 150 famílias moradoras das comunidades quilombolas do Mocó e Bocaina, na zona rural de Piatã. Essas famílias – que não mandaram representantes para o encontro com medo de represálias – denunciam estar respirando poeira de minério de ferro devido à ação da Brazil Iron. Muitos inclusive já deixaram de plantar pelo temor da contaminação de rios e afluentes da região, que desembocam no Rio de Contas.

Além da contaminação das águas e do risco de problemas respiratórios e cardiovasculares com as nuvens de poeira, conforme relatado na reunião, a população sofre com a poluição sonora. “O barulho ensurdecedor de explosivos e de máquinas, que operam 24h por dia, gera dificuldades para dormir. As explosões inadvertidas já derrubaram parte de uma casa e têm provocado rachaduras em outras, causando insegurança aos moradores”, disse Ana Carolina.

Para Marcelino Galo, presidente da Frente, é preciso transformar problemas vividos pelas comunidades de Piatã em uma questão política. “As consequências da injustiça ambiental, mudanças climáticas… Não podemos perder a oportunidade de dar densidade a esse debate e politizar a questão”, afirmou. Com esse objetivo, ele propôs uma visita as comunidades afetadas. “Vamos discutir com elas esses problemas e entender o que elas precisam. A luta ambiental não pode ser só uma questão eleitoral”.

O deputado Hilton Coelho disse que a situação vivida pelas comunidades de Piatã evidencia de maneira transparente como soa os esquemas dos grandes grupos econômicos do agronegócio. E apontou a agrofloresta (que combina o plantio de árvores ou arbustos com cultivos variados para consumo e comercialização) como a grande alternativa para sobrevivência dessas comunidades. “O agronegócio é deletério do ponto de vista ambiental e também da concentração de riqueza”, definiu.

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