O presidente da França, Emmanuel Macron, convocou mais um reunião de emergência de seu governo em meio a uma onda de protestos violentos após um jovem ser morto a tiro por um policial. Pelo menos 667 pessoas foram detidas nesta quinta-feira, na terceira noite seguida de distúrbios, informou nesta sexta-feira (30/06) o ministro francês do Interior, Gerald Darmanin. As informações são do portal, DW.
Em várias cidades do país foram registrados novos confrontos entre manifestantes e forças de segurança. Centenas de policiais ficaram feridos, segundo as autoridades. A primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, falou de uma violência “intolerável e indesculpável”. Ela reafirmou seu apoio aos policiais e bombeiros que “cumpriram bravamente seu dever”.
Cerca de 40 mil policiais foram mobilizados em todo o país para conter a onda de violência. Em várias cidades francesas, edifícios e veículos foram incendiados, vitrines foram quebradas e ônibus foram depredados.
Devido à nova reunião de crise desta sexta-feira, Macron deve encurtar sua participação na cúpula da União Europeia (UE) em Bruxelas. Até agora, o presidente francês descartou declarar estado de emergência por causa dos distúrbios. A partir de domingo, ele deve fazer uma visita de Estado à Alemanha.
No subúrbio parisiense de Nanterre, onde o adolescente foi morto, uma manifestação que começou de forma pacífica acabou em tumulto. Uma multidão revoltada colocou fogo em carros. Barricadas foram erguidas nas ruas. A polícia foi atacada com objetos lançados por alguns manifestantes.
No centro de Paris, a polícia afirmou que vitrines de lojas foram quebradas com pedras.
O ministro dos Transportes, Clement Beaune , afirmou à rádio RMC, que os transportes públicos ficarão severamente prejudicados nesta sexta-feira na grande Paris.
Em uma garagem em Aubervilliers, no norte de Paris, 12 ônibus foram destruídos por um incêndio. Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra um bonde em chamas na cidade de Lyon, no leste da França. Também houve distúrbios em Marselha, Pau, Toulouse e Lille.
O governo quer evitar a repetição das revoltas de 2005, desencadeadas pela morte de dois jovens de origem africana numa perseguição policial e durante as quais foram detidas cerca de 6 mil pessoas.
Morte de adolescente como estopim
Os protestos violentos na França começaram após o assassinato a tiro de um adolescente de origem norte-africana por um policial perto de Paris. Vídeos mostraram Nahel, de 17 anos, sendo baleado à queima-roupa durante uma blitz de trânsito na terça-feira.
O caso reacendeu o debate no país sobre táticas policiais criticadas por grupos de direitos humanos.
Na manhã de terça-feira, Nahel dirigia, sem carteira de motorista, um carro esportivo amarelo alugado pelas ruas de Nanterre quando foi parado num controle de trânsito por dois policiais.
Inicialmente, a polícia informou que um agente atirou contra o jovem pois ele teria avançado com o carro contra ele. No entanto, um vídeo gravado por uma testemunha desmente essa versão e mostra quando um dos agentes atira à queima-roupa contra o motorista após ele dar partida no veículo para tentar fugir.
Antes do disparo, as imagens mostram os policiais parados ao lado do carro, com um deles apontando uma arma para o motorista e se ouve: “Você vai levar um bala na cabeça”. O policial então parece atirar quando o carro arranca abruptamente.
O agente está sendo investigado por homicídio. Os promotores dizem que o rapaz não não cumpriu uma ordem para parar o carro.
Uma autópsia mostrou que Nahel foi morto por uma única bala que atravessou um de seus braços e o peito.
Grupos de direitos humanos alegam haver um racismo sistêmico dentro de agências de aplicação da lei na França – uma acusação refutada pelo presidente francês, Emmanuel Macron.