Para o cientista político e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fernando Meireles, a fragmentação partidária não tem apenas uma causa. Uma das explicações possíveis é a própria proliferação de legendas, impulsionada no nível local pelos interesses políticos de grupos minoritários. “Para quem quer disputar uma prefeitura e não encontra lugar nos partidos tradicionais, o caminho mais fácil é fundar um diretório local ou tentar se aliar com alguém que tenha algum”, comenta Meireles no Estadão.
Ao controlar a máquina, há melhores chances de assegurar recursos para as campanhas e de determinar a lista para as eleições proporcionais, por exemplo. “Foi o que o Bolsonaro fez nas eleições de 2018, o que o Alexandre Kalil fez em Belo Horizonte, assim como uma série de políticos, que passaram a usar essa estratégia para ter margem de manobra.”
O professor da UFMG sugere ainda que as eleições recentes podem ter acentuado o descrédito da população em cima de grandes legendas, a exemplo do PT. “Muita gente pensou duas vezes antes de lançar candidato em um partido grande, preferindo migrar para um partido menor ou fundar um diretório local como forma de não se ver associado com legendas mais desgastadas no plano nacional.”
E uma terceira característica apontada por Meireles é o fim das coligações proporcionais para as vagas no Legislativo, que estreou nas eleições de 2020. A medida acabou incentivando os partidos menores a lançarem candidatos próprios nas prefeituras a fim de puxar votos para os seus vereadores. Assim, a probabilidade de pulverização no controle das prefeituras aumenta.
Meireles acredita que a fragmentação partidária dificulta a construção de alianças para as eleições estaduais e nacionais e também pode confundir os eleitores. “Quanto mais compacto fosse o nosso sistema partidário, mais fácil seria votar pensando em ideologia, conteúdo programático e políticas públicas.”