A esquerda e os apoiadores de Lula (PT) saíram na campanha de primeiro turno rotulando todos os eleitores conforme a Veja, que não estavam com o petista — nem absolviam a roubalheira da companheirada — de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL). “Se você não é Lula, então você é Bolsonaro, é fascista e concorda com tudo que ele fez”.
Esse discurso claramente equivocado e simplista começa a ser ajustado no segundo turno. A esquerda passou a perceber o tamanho do tombo que lhe espera, caso não mostre humildade para tentar estabelecer diálogo com setores da sociedade que não aceitam o discurso estilo “Mandela de Atibaia” de Lula.
“Agora, na eleição, a primeira atitude é uma atitude de humildade, da parte da esquerda, de justamente fazer essa separação. Se nós tratarmos todo mundo que tem algum tipo de identidade com Bolsonaro ou que tenha votado no Bolsonaro como inimigo e fascista, nós vamos… Isso é ruim. Isso não é um bom caminho para disputar votos e consciências e para ampliar a força do campo democrático na sociedade. Este é o momento de diálogo na sociedade”, disse Guilherme Boulos, o deputado mais votado em São Paulo, ao repórter Tayguara Ribeiro durante o Roda Viva.
Para sair vitorioso, o projeto de Lula terá que buscar de acordo com a coluna Radar, conexão com o lado democrático dos eleitores, que tem preocupações com causas sociais e ambientais e que cansou de tantos preconceitos e das crises fabricadas pelo discurso violento do bolsonarismo. Lula terá de falar de corrupção e terá de mostrar o que fará na economia de modo concreto.
Impor ao eleitor esse apoio no primeiro turno foi um erro da esquerda. Lula e o petismo, perdidos na bolha de quem concorda com sua visão de mundo, acreditaram que estavam na condição de cobrar alguma coisa dos brasileiros. A onda bolsonarista vista no Congresso e nos estados mostrou a profundidade desse poço.
O conjunto da obra do atual governo deveria levar qualquer político que tivesse assumido as posições que Bolsonaro assumiu a uma eleição muito dura e difícil de vencer. Bolsonaro segue, no entanto, competitivo, porque a opção do outro lado é o passado petista representado por Lula. Não há espaço para arrogância, portanto.
Para fazer o eleitor pensar no futuro do país com o petismo de volta ao poder, Lula precisa parar de ignorar o passado. “Prestar contas e pedir votos com humildade, dizendo claramente o que pretende fazer no governo, é o único caminho”, reconhece um aliado petista.