Por Janaína Figueiredo
Poucos ícones do esporte mundial foram tão presentes e atuantes na política como Diego Armando Maradona. Com sua morte, fica a pergunta: Maradona foi usado pela política ou usou a política para interesses próprios? Ou ambos?
Como jovem jogador da seleção sub-20, venceu o campeonato mundial de 1979 e a vitória da equipe que liderou foi amplamente aproveitada pela ditadura argentina (1976-1983). Na época, um inexperiente Maradona não foi obstáculo para a estratégia de marketing do regime militar. Anos depois, suas relações políticas se tornaram evidentes. Em casa, esteve sempre vinculado ao peronismo, de direita e de esquerda. Fora de casa, foi garoto-propaganda de líderes esquerdistas, entre eles o cubano Fidel Castro e o venezuelano Hugo Chávez.
Muitos se lembram quando, em 2005, a Argentina foi sede da Cúpula da Área de Livre Comércio das Américas (Alca, que nunca saiu do papel). O evento foi realizado no balneário de Mar del Plata, a 400 quilômetros de Buenos Aires. Maradona foi parte do chamado “trem anti-Bush” (o presidente americano da época era George W. Bush). Viajou de trem com Chávez e o então líder opositor boliviano Evo Morales, entre outros.
Antes disso, foi muito próximo do ex-presidente peronista Carlos Menem (1989-1999), talvez o representante mais direitista do movimento político argentino nas últimas décadas. Nas eleições presidenciais de 2003, apoiou Menem. Mas quando Menem desistiu da candidatura no segundo turno, tornou-se íntimo da família Kirchner. Esses vaivéns políticos deixaram sempre claro que as motivações de Maradona variavam de acordo com quem estava no poder.
Em abril de 2013, participou do encerramento de campanha do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, um gesto de fidelidade ao falecido Chávez. O craque sempre evitou comentar questões como violações dos direitos humanos e corrupção, sombras de vários governos de esquerda na região. Sua defesa de governos como os de Maduro e Cristina Kirchner era apaixonada, assim como foi sua relação com o futebol.
Em 2018, Maradona postou uma foto com a camisa da seleção brasileira com o nome de Lula, para mostrar apoio ao ex-presidente brasileiro, que estava preso pela Lava-Jato. Em seu último aniversário, em 30 de outubro, foi parabenizado por grandes nomes do futebol e da política regional. Maduro escreveu numa rede social uma mensagem dedicando “todo meu amor pelo meu grande amigo Diego Maradona… Obrigado por compartilhar conosco este sentimento de compromisso e fidelidade ao nosso povo”.
Maradona combinou política com negócios, sendo capaz de apoiar governos esquerdistas e, ao mesmo tempo, comandar times como o Al Wasl, de Dubai, nos Emirados Árabes governados por uma monarquia absolutista, e o mexicano Dorados, de Sinaloa, dirigido por Jorge Rhon, acusado de mandar matar jornalistas e ligações com o narcotráfico que domina o território. Retrato de uma vida cheia de contradições, deslizes e relações perigosas.