A crescente preocupação com a violência nas grandes cidades tem gerado uma demanda significativa por serviços de segurança privada durante o carnaval, refletindo uma mudança no comportamento dos foliões que buscam garantir sua segurança em meio à festividade. Este ano, a contratação de segurança privada por foliões que participam de blocos ou assistem aos desfiles das escolas de samba tem se tornado uma prática comum, com orçamentos que podem chegar a R$ 25 mil para 15 dias de atendimento. Empresas do setor, como a Macor Segurança e Vigilância, reportaram um aumento de 45% na procura por seus serviços relacionados ao carnaval em fevereiro, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Marco Bafo, gerente de operações da Macor, atribui esse crescimento à sensação de aumento da criminalidade e à ocorrência de ataques em grandes eventos, o que tem gerado um clima de insegurança entre os foliões.
A demanda por segurança privada tem se concentrado em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde os contratos são firmados principalmente por empresários, executivos e famílias, tanto brasileiras quanto estrangeiras, incluindo clientes dos Estados Unidos e de países da Europa. O serviço da Macor inicia no aeroporto, com transporte em carros blindados até o hotel, e todas as atividades fora do hotel são realizadas com a presença da equipe de segurança. O custo médio para esse acompanhamento de 15 dias é de R$ 25 mil, mas a empresa também oferece pacotes de oito horas para eventos específicos, como desfiles de escolas de samba, com preços que variam de R$ 2,5 mil a R$ 4,5 mil, dependendo do número de seguranças contratados. Os profissionais de segurança, descritos por Bafo como “de porte físico elevado”, atuam desarmados em locais com grande concentração de pessoas, o que levanta questões sobre a eficácia e a abordagem de segurança em eventos de grande escala.
A Gocil, outra empresa do setor, também observou um aumento de 10% na busca por serviços de segurança pessoal em relação ao ano anterior, com cerca de 270 contratos firmados para o carnaval, sendo que 200 desses contratos tinham o Rio de Janeiro como destino. Paulo Goulart, diretor executivo da Gocil, destaca que os foliões estão particularmente interessados nos camarotes da Sapucaí, onde a atuação dos guarda-costas requer autorizações das polícias Federal e do estado. O investimento para esses serviços começa em R$ 3 mil por pessoa. A empresa realiza um estudo detalhado da rotina e do itinerário dos clientes, adaptando a abordagem de segurança conforme o perfil dos foliões, especialmente se houver adolescentes ou crianças envolvidos. O carnaval, segundo Goulart, costuma ver um aumento de 30% nas buscas por segurança em relação ao restante do ano, devido à presença de celebridades e empresários que buscam uma sensação de segurança durante a festividade.
Além disso, a Gocil implementa diferentes mecanismos de monitoramento, incluindo uma pulseira de identificação discreta para os clientes. Em locais como a Sapucaí, a segurança é reforçada por câmeras de segurança e drones que utilizam Inteligência Artificial para monitorar a situação e acionar forças policiais em tempo real em caso de incidentes. A complexidade do trabalho de segurança é ressaltada por Goulart, que menciona a necessidade de treinamentos constantes e protocolos rigorosos que os seguranças devem seguir, evitando qualquer tipo de uso de força letal.
No contexto da segurança durante o carnaval, a Grupo Bronze, que atua na Região Metropolitana de São Paulo, observa uma demanda crescente entre turistas que não conhecem a cidade e temem pela segurança. Os custos dos serviços variam de R$ 200 a R$ 5 mil por diária, dependendo do tipo de carro, armamento e tempo de serviço. A diretora da empresa, Débora Barros, destaca que a procura por seguranças particulares aumenta cerca de 10% e geralmente se intensifica cerca de um mês e meio antes das festividades. Essa tendência de aumento na demanda por segurança particular, mesmo com dados oficiais indicando uma redução nos índices de criminalidade, reflete uma sensação de insegurança que persiste entre os foliões.
Embora as autoridades tenham divulgado números que indicam uma queda nos crimes, como homicídios e furtos, a realidade dos incidentes durante o carnaval continua a ser preocupante. Em Salvador, o carnaval de 2024 terminou sem mortes violentas, mas foram registrados 34 foragidos da Justiça por crimes graves, além de várias ocorrências de violência, incluindo sete casos de racismo e 23 de violência contra a mulher. Em São Paulo, a polícia utilizou uma estratégia de infiltração de agentes entre os foliões, resultando na prisão de 54 suspeitos e na recuperação de 183 celulares, mas ainda assim, foram registradas 300 ocorrências entre 10 e 13 de fevereiro. O estado também enfrentou um aumento nas denúncias de violência contra crianças e adolescentes, com 1.596 denúncias recebidas pelo Disque 100.
A sensação de insegurança que permeia o carnaval é corroborada por dados de uma pesquisa realizada pelo Mercado Pago, que revela que 78% dos foliões pretendem levar seus celulares durante as festividades, um aumento em relação ao ano anterior, quando esse número era de 60%. Contudo, essa prática também traz riscos, uma vez que os roubos e furtos tendem a aumentar em eventos com grande aglomeração de pessoas. A corretora de seguros Globus prevê um crescimento de 18% na busca por seguros para celulares durante o carnaval, impulsionado pela preocupação dos consumidores com a segurança de seus aparelhos. O sócio da corretora, Bruno Motta, destaca que a crescente preocupação com os custos de reparos e substituições torna a cobertura de seguro mais atraente.
Os seguros para celulares geralmente cobrem roubos, furtos qualificados e danos acidentais, mas é importante que os consumidores estejam cientes das exclusões das apólices, como furtos simples que não são cobertos. A contratação do seguro costuma ser rápida, com uma carência de cerca de 24 horas, mas é essencial que os consumidores compreendam as limitações das coberturas antes de adquirir o serviço. Além disso, especialistas recomendam que os foliões adotem medidas de precaução, como utilizar pochetes ou doleiras antifurto, ativar a biometria e a autenticação em dois fatores, e evitar desbloquear o celular em meio à multidão.
Com a expectativa de gastos médios de R$ 200 por dia em blocos de rua ou festas de carnaval, a proteção oferecida pelos seguros pode ser uma alternativa viável para os foliões que desejam curtir a festividade com mais tranquilidade. A relação custo-benefício dos seguros, que pode ser inferior ao valor de um acessório para o celular, é um ponto destacado por Henrique Volpi, CEO da Kakau Seguros. Em suma, a combinação de uma cultura de segurança crescente e a necessidade de proteção pessoal durante o carnaval reflete uma nova realidade para os foliões, que buscam não apenas celebrar, mas também garantir sua segurança em um ambiente que, apesar das festividades, ainda apresenta riscos significativos.