Os destroços de um enorme foguete chinês lançado na semana passada devem mergulhar de volta na atmosfera neste sábado (8) em uma reentrada descontrolada que está sendo monitorada pelo Comando Espacial dos EUA.
Segundo os militares americanos, o foguete 5B Longa Marcha decolou da ilha chinesa de Hainan em 29 de abril carregando o módulo Tianhe, que contém o que se tornará o alojamento de três tripulantes em uma estação espacial chinesa permanente. O lançamento de Tianhe foi a primeira das 11 missões necessárias para concluir a montagem da estação.
Após sua separação do módulo da estação espacial, o foguete começou a orbitar a Terra em uma trajetória irregular enquanto perdia altitude lentamente, tornando quase impossível qualquer previsão sobre onde ele entrará na atmosfera ou cairá de volta ao solo.
Mas o ponto exato de descida do foguete na atmosfera da Terra durante a queda “não poderá ser determinado até poucas horas após sua reentrada” na atmosfera, algo que deve ocorrer por volta de 08/05, afirmam os EUA.
O astrofísico Jonathan McDowell, da Universidade Harvard, disse que detritos potencialmente perigosos devem escapar da incineração após chegarem à atmosfera em velocidade hipersônica (mais de cinco vezes a velocidade do som, ou cerca de 6.000 km/h). A maior probabilidade é que caiam no mar, já que 70% do mundo é coberto por água.
Mas episódios anteriores acendem os temores de que pedaços do foguete caiam sobre a superfície terrestre, mais especificamente em uma área habitada. Isso ocorreu em maio de 2020, quando pedaços de outro foguete Longa Marcha chinês “choveram” na Costa do Marfim, destruindo diversos edifícios. Ninguém ficou ferido no episódio, relembra McDowell em entrevista à agência de notícias Reuters.
O 18º Esquadrão de Controle Espacial na Base da Força Aérea de Vandenberg, a 257 km de Los Angeles (na costa Leste dos EUA), rastreia mais de 27 mil objetos feitos pelo homem que estão atualmente no espaço, a maioria deles em órbita baixa. O grupo está monitorando o foguete chinês e traçando eventuais cenários conforme o equipamento cai.
Segundo o porta-voz do Pentágono, John Kirby, ainda é “muito cedo” para saber se alguma ação, como a destruição de destroços espaciais, pode ser tomada se regiões habitadas estiverem ameaçadas.
O Global Times, um tabloide chinês publicado pelo jornal oficial People’s Daily, classificou como “propaganda ocidental” as notícias jornalísticas de que o foguete está “fora de controle” e poderia causar danos. Segundo o veículo, “não vale a pena entrar em pânico” com o episódio, e citando fontes do setor aeroespacial da China.
“A maior parte dos destroços queimará durante a reentrada… deixando apenas uma pequena porção que pode cair em terra, potencialmente em áreas distantes de atividades humanas, ou no oceano”, disse Wang Yanan, editor-chefe da revista Aerospace Knowledge, ao jornal chinês.
McDowell, membro do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, afirmou que o núcleo do componente principal do foguete, que estima-se pesar quase 21 toneladas, deve se espalhar como uma chuva de destroços equivalente à de um pequeno avião e cair em uma área estreita ao longo de quase 160 km.
Com base em sua órbita atual, a trilha de destroços provavelmente cairá em algum lugar ao norte, como Nova York, Madri ou Pequim, e ao sul, até o sul do Chile e Wellington, na Nova Zelândia, disse McDowell.
Segundo ele, a maioria dos países tem procurado projetar espaçonaves de forma a evitar grandes reentradas descontroladas, desde que grandes pedaços da estação espacial da NASA Skylab caíram da órbita em julho de 1979 sobre a Austrália.
“Esse episódio atual faz com que os projetistas de foguetes chineses pareçam descuidados por não terem resolvido isso”, disse ele, que classificou o caso de “negligência”.
Não é a primeira vez que a China perde o controle de uma nave espacial quando ela retorna à Terra. O laboratório espacial Tiangong-1 se desintegrou ao retornar à atmosfera em 2018, dois anos depois de ter parado de funcionar, embora as autoridades chinesas tenham negado ter perdido o controle da nave.