A deputada federal Flordelis dos Santos exonerou de seu gabinete na Câmara dos Deputados dois filhos afetivos que foram presos na última segunda-feira acusados da morte do pastor Anderson do Carmo. Carlos Ubiraci Francisco da Silva e André Luiz de Oliveira eram secretários parlamentares desde o início do mandato da parlamentar, em fevereiro de 2019.
André ganhava R$ 15,6 mil e Carlos, R$ 14,6 mil, além de quase R$ 1 mil de auxílio. Ambos são filhos afetivos de Flordelis e foram acolhidos pela pastora no início dos anos 90, na favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. Eles passaram a morar na casa da parlamentar quando já eram adolescentes e nunca foram formalmente adotados.
Flordelis também exonerou esta semana outro filho afetivo que trabalhava no gabinete, Paulo Victor Izidoro Vieira, que ganhava pouco menos de R$ 2 mil. No site da Câmara dos Deputados não consta a data da exoneração dos assessores. No entanto, na última segunda-feira, em consulta feita pelo jornal Extra na página, foi constatado que Carlos, André e Paulo Victor ainda eram assessores de Flordelis. Em nova consulta nessa quinta-feira eles já não constavam mais como funcionários ativos do gabinete.
As investigações sobre a morte do pastor Anderson do Carmo identificaram indícios de nepotismo – prática pela qual um agente público usa de sua posição para nomear ou contratar parentes – no gabinete de Flordelis. Também há suspeitas da prática de rachadinha – quando parte do salário de um assessor fica com o político. As informações foram enviadas pela Polícia Civil do Rio para a Procuradoria Geral da República.
Em julho do ano passado, ao jornal Extra questionou Flordelis sobre filhos afetivos possuírem cargo em seu gabinete. Na ocasião, a assessoria de imprensa da deputada afirmou que não havia impedimento legal para as escolhas e nomeações da parlamentar. Nessa quinta-feira, a deputada não retornou aos contatos feitos pela reportagem.
Apesar das exonerações desta semana, Flordelis manteve trabalhando em seu gabinete o filho afetivo Gerson Conceição de Oliveira, que recebe R$ 15,6 mil como assessor parlamentar. Gerson é também pastor e permanece pregando na sede do Ministério Flordelis no Mutondo, em São Gonçalo.
Gerson está sendo investigado pela Polícia Civil por participação na morte de Anderson. Esta semana, após a conclusão do segundo inquérito sobre o caso, no qual Flordelis, sete filhos e uma neta foram indiciados, o Ministério Público estadual pediu a abertura de uma nova investigação para continuar apurando o assassinato. Gerson e outras três pessoas são alvo desse inquérito.
Flordelis é acusada de ser mandante da morte do marido. Ela só não foi presa porque tem imunidade parlamentar. Nessa quarta-feira, o deputado Léo Motta (PSL-MG) apresentou representação à Mesa da Câmara dos Deputados para que seja encaminhado ao Conselho de Ética pedido de perda de mandato da deputada Flordelis por quebra de decoro parlamentar. “Diante da avalanche de provas contra a Deputada Flordelis, fica evidente que a parlamentar não tem condições de permanecer no cargo para o qual foi eleita, tampouco exercer os papéis inerentes à vida política”, justifica Motta.