A suspensão da filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PL (Partido Liberal) neste domingo (14) ocorreu após o vereador Carlos Bolsonaro passar a última semana enviando ao pai, diariamente, relatórios da repercussão negativa na base em relação ao anúncio de filiação à legenda dirigida por Valdemar Costa Neto, presidente do PL.
Neste domingo, Bolsonaro disse, durante a viagem nos Emirados Árabes, que ainda tinha muito para conversar com Valdemar antes da confirmação da filiação e não garantia mais o evento no dia 22. Em seguida, o presidente do PL confirmou o recuo. “Após intensa troca de mensagens na madrugada deste domingo, 14, com o presidente Jair Bolsonaro, decidimos, de comum acordo, pelo adiamento da anunciada cerimônia de filiação”, informou Valdemar.
Na última segunda-feira (8), o presidente disse que estava “99% fechado com o PL”. Em seguida, veio a confirmação da filiação pela equipe de Valdemar Costa Neto e o anúncio de um evento no dia 22 de novembro para o ato de filiação do presidente. No entanto, desde o anúncio, Carlos Bolsonaro passou a monitorar a reação da base política da família nas redes e repassou a Bolsonaro as críticas devido à condenação de Valdemar Costa Neto no processo do mensalão e sua antiga proximidade com o PT, entre outras críticas.
Nos bastidores, as mensagens de Carlos sobre a reação nas redes e o recuo do presidente causaram irritação em Flávio Bolsonaro. “Sempre teve uma disputa interna (entre os irmãos)”, contou um interlocutor à coluna de Juliana Dal Piva, no UOL. O senador acompanha o presidente na viagem.
Pouco depois do anúncio de Bolsonaro no PL, o próprio Carlos apagou uma publicação de 2016 com críticas ao agora presidente do PL. No post, o vereador compartilhou uma reportagem sobre proposta de delação premiada à Lava Jato em que o empreiteiro José Antunes Sobrinho, sócio da empresa Engevix, dizia ter doado cerca de R$ 2,5 milhões a Costa Neto e ao PL, que à época era conhecido como Partido da República (PR). “Exclusivo: Delator aponta propina de 3,5% para PR e Valdemar Costa Neto nos contratos de Furnas”, dizia a postagem de Carlos, feita em 27 de abril de 2016, com um link de reportagem da revista Época.
Publicamente, tanto o presidente como Flávio citaram que a mudança ocorre por uma falta de acordo em relação ao nome que disputará o governo de São Paulo e ao apoio do PL a candidaturas com candidatos da esquerda no nordeste. Ao portal R7, Bolsonaro disse que está “com um nó em São Paulo”. Flávio, também ao R7, citou uma nota do PL que autorizou as executivas a apoiarem partidos considerados “impossíveis” pela família Bolsonaro. Mas o senador amenizou o grau de atrito com o PL dizendo que, após nova rodada de negociações no retorno ao Brasil, acredita que os problemas são “contornáveis”.
No bastidor, porém, interlocutores do presidente avaliam que será muito difícil um novo acordo e contam uma história diferente. Em reunião na quinta-feira passada, integrantes do PL já tinham informado ao presidente que desistiriam de apoiar o nome de Rodrigo Garcia para o governo de SP. Garcia é vice do governador de São Paulo, João Doria, e desafeto de Bolsonaro, além de possível adversário na eleição de 2022. Integrantes do PL também relatam que a vontade do presidente de lançar o nome do ministro Tarcísio Freitas para o governo paulista vai contra a vontade do próprio ministro que deseja disputar uma vaga ao Senado.
Então, os movimentos das últimas 48 horas foram totalmente inesperados tanto no PL como por pessoas próximas ao presidente, que davam a filiação como resolvida e a situação em SP como “pacificada”. Depois da última madrugada, nenhum deles se arrisca agora a garantir que essa filiação de Bolsonaro e seu grupo no PL realmente vá acontecer. Ao mesmo tempo, uma mudança brusca nesse anúncio pode realmente tirar o PL da base de apoio do presidente em breve e rachar a bancada.